A crítica da piora das condições de vida do povo trabalhador hoje só pode vir através da crítica da experiencia do PT em seus governos federais.
Verdade seja dita: o PT é um partido social liberal, de centro ou centro-direita que, nos 14 anos em que governou o país não realizou NENHUMA reforma estrutural relevante que lhe justificasse ser definido como "de esquerda" ou tendo um "projeto nacional de desenvolvimento".
- Reforma agrária? Nada. Agronegócio e venda de commoditties eram carro chefe com a amiga Katia Abreu.
--Reforma No Exército? General Heleno comandou as tropas do estupro e crimes de guerra do Brasil no Haiti, os torturadores e criminosos de Estado militares e civis da ditadura morreram velhos e gordos sem punição, os clubes militares seguiram suas semiprovocações saudosistas homenageando torturadores como Ulstra.
- Reforma midiática? As mesmas famílias regionais continuaram a comandar a mesma estrutura de rádio e TV em seus Estados e os grandes grupos seguiram recebendo milhões de verbas estatais, sem nenhuma regulação ou democratização midiática.
- Reforma tributária? O PT se recusou a acabar com a insenção de imposto sob os dividendos empresariais mantendo o país como um com a estrutura tributária das mais regressivas e penalizadoras contra os pobres do planeta.
Pelo contrário, o PT aplicou o neoliberalismo, com "concessões" que eram verdadeiras privatizações de ferrovias, estradas, aeroportos, fomento aos monopólios da educação privada, uma explosão de cargos terceirizados, menos remunerados, mais sujeitos a abusos por parte das empresas e com dificuldades adicionais de organização, sindicatos pelegos e inseguranças jurídicas.
Também garantiram a aprovação da lei de drogas, de 2006, por Lula, responsável pelo aumento vertiginoso das prisões de jovens negros e periféricos no país e uma das bases da atual guerra as drogas que é o pretexto do controle social através do genocídio do jovem preto no Brasil.
Da mesma forma, sem pestanejar manteve a entrega religiosa de quase metade do orçamento para pagar juros da dívida pública a meia dúzia de bancos, enviou tropas para massacrar a população do Haiti e, no fringir dos ovos, quando os mestres do mercado financeiro anunciaram a chegada da crise, em 2014, e Dilma se viu diante de um dilema e tomou sua fatídica decisão:
Embarcou na austeridade e colocou Joaquin Levy (esse mesmo que Bolsonaro colocou no comando do BNDES e depois demitiu) como ministro da economia. O resultado? Corte de 30% das verbas de universidades federais, cortes no fies e prouni, dificuldades para acessar o seguro desemprego e uma agenda de cortes contra o povo.
A experiência, no entanto, foi interrompida com o golpe que derrubou Dilma e colocou Temer para fazer o serviço sujo mais rápido em 2016.
Hoje, o #LULALIVRE significa a concretização da estratégia PTista de culto a personalidade de Lula que, apesar de realmente estar preso injustamente, visa apenas a manutenção de uma sobrevivência eleitoral e, assim, material, psicológica e financeira de uma burocracia profissional PTista.
Ora, fossem outros os interesses - os do povo, por exemplo - as reformas que lançaram a miséria de volta as cabeças dos miseráveis teriam encarado forte resistência de PT e seus parceiros sindicais da CUT e CTB. Mas não
A reforma trabalhista passou tranquilamente e com ela se levaram milhões de empregos e se lançaram dezenas de milhões no desemprego e trabalho informal.
Sem falar na perda da remuneração pelos feriados e fins de semana e a aprovação da reforma da previdência que acabou com a aposentadoria, na prática, para a maioria dos brasileiros tudo sem nada além de atos teatrais, palanques eleitorais e encenações parlamentares.
A política de crédito barato e de pequenas concessões sociais, com grandes lucros a bancos e monopólios industriais, eram o sonho prometido PTista.
Voltam, após a interrupção, como luzes em meio ao pesadelo bolsonarista.
Acontece que esta política, combinada com a "coexistência pacífica" com os grandes magnatas e políticos burgueses, a velha conciliação de classes, degenerou também e há tempos com o PT e hoje não é possível num cenário de recessão mundial que se avizinha.
O fato de Lula estar preso injustamente não significa necessariamente que a bandeira de Lula Livre seja a que melhor responde as necessidades de luta dos brasileiros hoje. Na realidade é bastante o oposto.
O povo precisa de organização. De ação como um só corpo. Para isso ele precisa criar suas ferramentas críticas a todo o processo passado e que apontem para um corpo de idéias e um programa político para transformar o Brasil.
Hoje por hoje, a direção do PT, já acostumada as frivolidades da vida burguesa e dos ritos parlamentares, usam o Lula Livre como forma de conduzir uma base eleitoral para as urnas e, assim, a sua ressurreição, ou quem sabe, apenas sobrevivência, em 2020 e 2022, caso ocorram eleições.
Isto é uma forma de "domesticar" a esquerda, sendo o PSOL sua mais disciplinada cobaia, evitando, assim, que surjam alternativas a sua esquerda que compliquem seu plano eleitoral e eleitoreiro (que, julgam que dará certo, desde que um ou outro protofascista do bolsonarismo não decida realizar aventuras autoritárias mais abertas.)
Nem mesmo essa direção quis libertar Lula com mobilização popular quando esse se entregou para dar início a epopéia eleitoral e nunca sequer ligar sua liberdade a luta contra as reformas.
Calculo político simples, arranjo bem maquiado, essa é hoje a essência da política PTista, que surfa a experiência interrompida que uma parcela dos trabalhadores e da classe média fazia com o PT.
No Brasil dos assassinatos de Ágatha, perdemos o direito a digressão e a distração. É mais do que a hora de tomarmos vergonha na cara e olharmos a realidade passada de maneira crítica, como condição para preparar o futuro.
O oportunismo e a defesa de privilégios, sejam os da ganância, sejam os da preguiça (aquela que prefere nos manter nos confortos do autoengano) são as forças motrizes daqueles que, hoje, maquiados de revolucionários, atuam como advogados petistas sem entender que o Brasil necessita de um ressurgimento político e que esse se dá em choque frontal com o PT.
Na luta contra o protofascismo que se avizinha mais e mais das pretensões hegemonistas e autoritárias de uma ditadura, esta sim, possivelmente fascista, as coisas tem de se chamar pelos seus nomes.
Os trabalhadores brasileiros precisam debater o que existe muito claro em suas vidas e que é o verdadeiro grande problema do Brasil: a desigualdade econômica abismal provocada por uma luta de classes escancarada!
E nesta, atualmente nos encontramos em uma guerra que a burguesia desfere para a base da pirâmide social aceitar viver menos, com menos salários, com mais exploração e repressão: um novo pacto social.
Contra esta necropolítica, realizada por entreguistas e falsos moralistas, capitalistas e rentistas degenerados de todo tipo
não existe outra linguagem que a Revolução. E para quem concilia, esta é uma palavra proibida.
Que nossa geração e estas que se aproximam descubram, (h)a tempo, as virtudes da transgressão das tradições e do profano na luta de classes e na luta de idéias.
Não é apenas Bolsonaro que se tornou um mito canônico.
E não é só ele o obstáculo para uma compreensão e consciência de classe coletiva, organizada e baseada na ação direta dos debaixo, no Brasil.