domingo, 15 de abril de 2012

Que fazer USP?: Derrotar a Ditadura de Ontem e Hoje; ou Uma estatuinte Livre e Soberana: Um débito com o passado!

Neste último dia 1º de Abril se completou os 48 anos do Golpe Militar. Basta uma procura rápida para se observar as notícias sobre comemorações de “oficiais da reserva” e membros das forças armadas realizadas sem nenhum impedimento, mesmo sob o governo de uma Ex-guerrilheira e combatente à ditadura, Dilma. Tais senhores de casaca comemoraram a chamada “Revolução” de 64.

Uma pesquisa mais profunda nos garantiria, no entanto entender o brutal e profundo processo da Ditadura Militar e como esta, como parte de uma “maquinação” internacional, a serviço dos EUA, estabeleceu uma ditadura sanguinária, impondo um regime de torturas, assassinatos e silêncio ao povo trabalhador, que, junto da Ditadura Chilena e Argentina, deixou mais de 60 mil mortos e desaparecidos em toda a América Latina.

Como parte de nossa História, a Ditadura se alçou como um dos períodos mais autoritários e ainda hoje sua herança perdura nos métodos e na Lógica do Estado Brasileiro. Em todas as periferias, no campo e nas favelas a faceta mais degenerada do que foi a Ditadura se impõe de maneira brutal cotidianamente.

Para garantir a manunteção dos lucros dos Grandes capitalistas, muitos são os exemplos de repressão à greves como a recente de Jirau, em que milhares de militares reprimiram e assassinaram operários; Eldorado dos carajás; Pinheirinho; e incontáveis manifestações reprimidas burtalmente pela “cria legítima” da Ditadura: a Polícia e, mais propriamente, a Polícia Militar que, desde 2003 em SP e RJ assassinou mais de 11 mil pessoas.

Dentro de toda a realidade que nos envolve nacionalmente está a USP, dita “maior universidade da América Latina”, gerida por seu REItor Rodas, advogado que, vale dizer, em numerosos casos defendeu o Estado Brasileiro contra as acusações de crimes contra perseguidos e torturados, tendo muito evidência no caso de Zuzu Angel.

Na USP, quase como contrapartida ao papel que desempenhou na resistência contra a ditadura, restam profundas ligações com este período nefasto, sobretudo quando se observa o último período de lutas de trabalhadores e estudantes e como estes são perseguidos.
Resta como coroamento do “orgulho ditatorial”, um estatuto e regimento geral, escrito em 1972 (por Gama e Silva, o criador do AI-5) que, neste momento persegue e pune com expulsões mais de 80 estudantes, toda diretoria do SINTUSP e a associação de professores (ADUSP), por motivos de “atentado à moral e aos bons costumes” , ocupações ou “de incentivo à paralisações”. Ao lado desta ofensiva “legal” os ataques ilegais como espionagem no CRUSP e atentados, como a tentativa de explosão do SINTUSP, seguem na vida universitária...

Tal estatuto, no entanto, não só garante esta ofensiva repressiva; faz isto para colocar a Universidade a serviço dos interesses dos Grandes empresários.

Na mesma proporção dos ataques e medidas repressivas, se desenvolvem as mais obscuras relações entre a burocracia acadêmica dirigida por Rodas e as grandes empresas e empresários: Empresas de terceirização garantindo, pela via da semiescravidão, a mesa farta de professores titulares ao mesmo tempo em que a Reitoria prepara um plano- PROADE- para demitir trabalhadores efetivos e terceirizar em massa; numerosos convênios entre Nike, Avon, Monsanto, Dersa, odebretch e as faculdades da USP; projetos de “reurbanização”, como o proposto para a comunidade da São Remo, a qual, durante todos os anos na qual se estabeleceu jamais obteve qualquer atenção dos burocratas e diretores de Unidades como FAU e POLI, capazes de pensar planos de obras que garantissem emprego e estrutura para a massa de trabalhadores precários que ali residem; e um longo etc...

No que diz respeito ao Poder de decisão, tal estatuto amordaça a esmagadora maioria da Comunidade e garante que um número Hiperreduzido de professores titulares -cerca de 300- decidam as prioridades da maior Universidade da américa latina, em nome dos 100 Mil membros e de toda a população do Estado e País. Isto sem mencionar o quase feudal modo de escolha do Reitor- um cargo que sintetiza o quão arcaica é esta estrutura - votado por este “conselho de sábios” e, por fim, determinado pelo “magnânimo” governador do estado.

Rodas e toda a estrutura de poder da USP abordam a questão da “democracia e da perseguição política” como objeto de paranóia de radicais, ao mesmo tempo em que financiam monumentos em homenagem à “revolução de 64” e designam um coronel da PM, como chefe de segurança da USP.

Na USP, assim, como uma espécie de ampliação da realidade nacional, surge a conclusão do que foi a transição pactuada da ditadura para a democracia, nos anos 80: Um acordo feito pelas costas do povo pobre e trabalhador que nos deixou uma débil e podre democracia dos Ricos; aos demais resta de democráticos apenas o silêncio e a repressão.

Como débito histórico em memória de nossos combatentes é tarefa da nova geração não apenas combater esta herança mas buscar acabar com a ditadura em suas entranhas.
Um movimento amplo, de toda comunidade USP ligado à população trabalhadora, que lute por uma estatuinte Livre e Soberana, questionando as prioridades da USP, lutando por sua abertura radical com Fim do vestibular e buscando colocar sua pesquisa e seu conhecimento a serviço das necessidades dos trabalhadores é o proximo passo decisivo de nossa luta.


É preciso, neste sentido, lutar pela democracia no poder de decisão da USP acabando com o Cargo de Reitor e o Conselho Universitário buscando as vias de democratizá-la estruturalmente.
Hoje na Usp se encontram mais de 88 mil estudantes, 16 mil trabalhadores efetivos, uma estimativa de mais 5 mil terceirizados e 5 mil professores! 

Apenas organizando uma gestão/governo de trabalhadores - inclusive terceirizados-, professores e estudantes, da maneira mais democrática possível, ou seja, proporcional e com a consequente maioria estudantil, com representantes votados em todas as unidades da USP por democracia direta - uma mão um voto-, ligando-os intimamente às organizações da população trabalhadora de fora da USP, é que conseguiremos mudar as prioridades e derrotar a ditadura que vive na USP.

Um debate no movimento sobre que estrutura precisamos


Impregnada até a medula com a mentalidade militaresca e opressora, a estrutura da USP não pode se manter parcialmente, como dizem correntes como o PSOL , ao defender “Voto para reitor”, ou se transmutar numa semi-democracia, com “paridade” (peso de voto igual para professores, trabalhadores e estudantes, excluindo os terceirizados) para a direção da USP, como diz o PSTU, ignorando o peso real dos setores na USP.

Tais bandeiras, apesar de entrarem na discussão acerca da necessária democratização da USP, mantém a distorção existente na representação na Universidade e, assim, não golpeiam até o fim em seu caráter antidemocrático.

O voto para reitor, defendido pelo PSOL, sem questionar ou deixar claro a proporção da comunidade na direção da Universidade, ao invés de colocar em pauta uma luta consequente pela democracia na USP, trata de desviar sua energia, criando ilusões de que “um Reitor” mais generoso ou “democrático” pode garantir os rumos distintos que precisamos dar a USP, substituindo um governo/gestão dirigido pela comunidade por este cargo de “iluminado”, que é, historicamente, um cargo de “intervenção”.

Num sentido parecido, a paridade, defendida pelo PSTU, estabelece a luta por uma semi-democracia na USP.
Ao levantar a bandeira de uma proporção absolutamente igual entre professores, trabalhadores e estudantes - sem mencionar uma palavra sobre os terceirizados-, tratam de manter a mesma distorção na representação que hoje é funcional à implementação das iniciativas privatistas, além de fortalecer uma noção meritocrática, de prestrígio, de que os “professores”- sabe-se lá porquê - precisam ter peso maior na definição das prioridades da USP, seguidos dos estudantes e trabalhadores.

É uma perigosa armadilha lutar por um projeto de “paridade”, sobrevalorizando os professores, em oposição a todo o restante da comunidade USP.
Sua visão desconfia que uma gestão proporcional de toda a comunidade - que, funcionando por voto universal, por seus números, teria maioria estudantil, com trabalhadores e professores em seguida-, colocaria a USP fora dos eixos de um projeto que derrubasse o elitismo e isolamento históricos, justamente porque seria dirigida não pelos “iluminados professores” mas... pela maioria da comunidade USP e pelo projeto político que convença esta maioria!!!

Tais correntes, em níveis distintos, são uma expressão clara de ceticismo elitista! Ao não conceber concretamente o potencial da aliança entre os trabalhadores, professores e estudantes, dialogam com suas próprias dúvidas, levantando “demandas mínimas possíveis”. Deixam de lado, assim, todo o dito “radical”, como as bandeiras pelo Fim do vestibular, a luta por um governo dos três setores com voto universal e consequente maioria estudantil, a luta contra a terceirização, esquecendo as necessidades da maioria da população de fora da USP e a necessária conquista de uma legítima aliança operário-estudantil e popular, apontando nosso movimento no sentido do povo pobre e trabalhador, buscando dizer-lhes a verdade e construir a luta mais profunda. 



Ao seu lado, no entanto, encontram-se setores ainda mais desvairados, como o MNN- Movimento Negação da Negação-, que, posando como o supra-sumo revolucionário, propõe um projeto “subversivo” enlatado para o consumo imediato: A DESTRUIÇÃO(sic) DA UNIVERSIDADE SHOPPING Burguesa! Com esta formúla alquímica, propõe uma luta apesar e contra toda e qualquer idéia de reforma, se colocando contra Cotas, contra o Fim do vestibular, contra o aumento de Verbas para a universidade e educação, contra mais circulares, contra mais moradias estudantis, contra mais medidas de permanência estudantil e, assim, passo a passo colocam-se contra os interesses e necessidades dos trabalhadores.
Além do elitismo, aqui está a concepção de um grupo de estudantes com nenhuma ligação com os anseios democráticos da grande parcela dos trabalhadores.
Apontam, de dentro do mundo brilhante de marfim, sua miséria, mas advertem o pecado cometido pelos que ousam querer entrar e conferir..

De nossa parte, lutaremos para convencer as dezenas de milhares de estudantes e os milhares de professores e também trabalhadores de que um projeto de Universidade progressista e que avance para uma outra perspectiva da realidade, que tenha bases não na ganância dos acordos milionários de gabinete, mas na solidariedade e cooperação entre os trabalhadores e oprimidos é o projeto dos e para os trabalhadores.

Lutaremos por uma USP livre dos burocratas crias da Ditadura, que pense planos de Obras e arquitetura para os que mais precisam a partir da Poli e FAU, construindo moradias dentro e fora da USP; Medicamentos eficientes e quebras de patentes para garantir o tratamento e distribuição aos trabalhadores e membros da comunidade USP a partir da Farmácia e Química; que pense o questionamento da ideologia da opressão aos trabalhadores e coloque-se a pensar, formular e difundir a doutrina da emancipação moral, sexual, social, intelectual e muito além destes a partir das humanidades; e, na qual, sob o cadáver do último resquício da ditadura militar, possa construir uma “USP dos trabalhadores e do povo pobre” e não dos “rankings e elites”.

Isso, só é possível com o também débito da luta pelo fim do Vestibular, para que os muros da USP caiam definitivamente e a Universidade, hoje burguesa, seja tomada pela maioria da população, pobre, negra e trabalhadora e seja um centro vivo de progressismo, luta e organização por uma realidade distinta e superior.

Tal como o que resta da ditadura Militar, a estrutura de poder da USP- um obelisco reacionário-, precisa ser demolida e transformada radicalmente como condição para a “fundação” de uma nova Universidade, democrática, livre e da maioria.
Alexandre Vannucchi Leme, Merlino, Stuart Angel e todos os nossos caídos, cujo sangue se encontra nos armários de muitos membros da burocracia do estado e da USP seguem conosco, até a vitória!

AVANTE!






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