A linha entre viver numa seita, ser "sectário" ou se adaptar e achar que tudo são "vitórias" e ser, como dizemos, oportunista, é tênue, fina, difícil de se desenhar. O ENEM, como prova, segue sendo, em minha opinião, mais uma ferramenta.
Não uma ferramenta dos oprimidos, mas dos empresários, do seu Governo e dos capitalistas para restringir por um lado a Universidade, criando pólos de "elite" e, por outro, manter o "mercado de ensino" das universidades privadas dos t
ubarões do ensino. Milhões de jovens endividados e as crises e o drama anual do vestibular estão ai para provar isto: O ENEM, como a FUVEST é uma ferramenta de DISCRIMINAÇÃO SOCIAL, de segregação seletiva para os que vão entrar na Universidade pública.
Ainda assim, é enormemente sectário, num país cuja violência contra as mulheres é BRUTAL, com dezenas de casos ao dia, milhares de estupros anuais, não entender o que se expressou na atual prova.
É óbvio que os capitalistas e "governantes" vão querer sequestrar nossas lutas, tomar o lugar dos que as defendem e, sim, ao colocar o tema da violência da mulher na prova tentam cumprir este objetivo.
No entanto, há um lado, fundamental, que não se pode esquecer que é o de que isto expressa uma pressão da sociedade, de setores que lutam, mulheres combativas, estudantes, setores progressistas, revolucionárias, etc, que estão na base da sociedade, dando voz a opressão que milhões sofrem cotidianamente, criando então uma situação em que a burguesia é obrigada a pautar de algum modo este tema.
Por mais limitado que seja (e é!) a menção do tema no ENEM abre a possibilidade de um debate nacional, no qual nós, setores na base da sociedade temos de entrar de cabeça.
Exaltando o governo progressista ou a "prova esclarecida"? Claro que não! Mas sim, observando que esta foi uma menção arrancada com muito suor da luta cotidiana, cujas protagonistas são as mulheres e, ao lado delas, os homens que se colocam a construir a luta pela igualdade de gênero e que, afirmando a todo momentos o quanto este governo e estado burgueses são CONIVENTES COM AS MORTES, ESTUPROS, RETIRADA DE DIREITOS, MORTES POR ABORTO, QUE VENDEM DIREITOS DAS MULHERES A FUNDAMENTALISTAS FEUDAIS DA IGREJA, etc, é só pela organização desde a base da sociedade que apontaremos para uma solução de longo prazo para o problema da violência contra as mulheres.
A menção no ENEM não resolve o problema. Fato. Mas confortar-se nessa posição de apontar os limites é muito inofensivo e a esquerda tem de sair, mais do que nunca (agora que a crise bate na porta de cada brasileiro e a esquerda NÃO faz, infelizmente, diferença para resistir em lugar nenhum, na prática) desta inércia.
É preciso inverter o OBJETO da comemoração e entender que sim isto foi arrancado pela LUTA e que esta deve se aprofundar, para que não apenas o vestibular, a violência de gênero, mas todos estes mecanismos de dominação da sociedade capitalista acabem.
Grande parte do trabalho revolucionário é buscar saber qual o caminho para se chegar às massas. É preciso CONFLUIR com a empolgação de amplos setores para mostrar que a luta vai além do que se vê. Esta estrada é por uma nova vida.
Aqueles confortáveis em seus tronos de verdades auto-consumíveis, enquanto milhões de ouvidos tateiam em busca de uma orientação libertadora, sua desconstrução tão necessária, por um caminho que leve a construção de uma moral pessoal, coletiva e social e uma sociedade livre da opressão, a estes senhores sectários, o isolamento parece ser o destino certo, caso não mudem de curso a tempo, enquanto o que está em jogo é apenas uma questão de ENEM.
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