Dentre as mais arrebatadoras séries do momento, “The Walking dead” (e a série
especial “Fear the walking dead”), baseada na bem sucedida série em quadrinhos,
conta a história de um grupo de sobreviventes em meio a um “apocalipse zumbi”.
Este grupo, sob
a liderança do ex-sheriff Rick Grimes conta com personagens marcantes como
jovem negra Michone, com sua espada samurai, e Daryl, um “caipira” do sul dos
EUA. Ela se passa em um mundo que literalmente “acabou” diante de uma epidemia
que transforma seres humanos, caso mordidos pelos “walkers”(zumbis), em mortos vivos
e que reanima qualquer um que morra.
Na série, Rick acorda de um coma sofrido após uma operação policial em um hospital da cidade de Atlanta e dá de cara com uma verdadeira hecatombe: Enormes multidões de seres humanos decompostos, esmagados e destroçados em busca de qualquer fonte de carne, animal ou humana, para alimentar a fome insaciável que surge de seu despertar. Estes mortos-vivos são a “ameaça total” logo percebida por Rick que, ao longo da série, encontra familiares e novos companheiros caminhando por uma longa jornada de sobrevivência.
Até ai tudo indicaria um roteiro batido de Hollywood, capaz de tirar alguns sustos e muito entretenimento lucrativo para os grandes estúdios. Isto, é claro, não deixa de ser parte de seus objetivos principais, no entanto, a série vai muito além e provoca intencionalmente ou não uma interessante reflexão.
Uma das principais características das duas séries, explorada com habilidade pelos roteiristas e diretores e expressa com credibilidade pelos atores e atrizes, é o processo de embrutecimento dos personagens ao longo dos episódios e temporadas.
Estamos falando de um mundo onde as regras civilizatórias não cabem mais.
Neste mundo, todo e qualquer tipo de instituição, seja política, econômica ou até mesmo moral, foi ou completamente destroçada ou abalada decisivamente, pela rápida expansão dos zumbis. Milhões e milhões deles, contaminando novas pessoas e milhões de mortos retornando a vida destroçaram as bases da civilização e fizeram o governo estabelecido literalmente ruir por dentro, diante da incapacidade de parar a velocidade epidêmica.
Os episódios mostram indivíduos, anteriormente em uma vida confortável com acesso a serviços, água, energia elétrica, remédios e alimentos entrarem em choque diante da completa suspensão da civilização, tendo de conviver com um mundo de escassez (graças ao abandono de qualquer operação de energia elétrica, água, produção de alimentos massiva), brutal violência (diante da necessidade de se proteger da violência irrefreável da ameaça zumbi) e completa insegurança (seja diante dos zumbis ou dos, muito mais perigosos, vivos sobreviventes). É interessante como de “falantes personagens” os diálogos se escasseiam e chegam a por vezes grunhidos após 2 anos do apocalipse (tempo em que se passa a série principal).
Aqui se torna interessante a reflexão que suscita ao redor do “humano”.
Neste mundo, os mortos, apesar de serem a “ameaça total”, ou seja, aquela com que já se conta e impõe as regras de restrição de como se pode viver, não são os mais perigosos. Na série, diante da queda do Estado, da Lei e da ameaça de uma força social e regras organizadas capazes de obrigarem os indivíduos a seguirem comportamentos e ações “socialmente aceitos”, os vivos são a ameaça mais perigosa.
Roubos, estupros e assassinatos, são ingredientes da trama, incitando a reflexão a quem assiste: “Então, em condições naturais e na ausência do Estado, seria o homem... naturalmente mau?”.
Na série, Rick acorda de um coma sofrido após uma operação policial em um hospital da cidade de Atlanta e dá de cara com uma verdadeira hecatombe: Enormes multidões de seres humanos decompostos, esmagados e destroçados em busca de qualquer fonte de carne, animal ou humana, para alimentar a fome insaciável que surge de seu despertar. Estes mortos-vivos são a “ameaça total” logo percebida por Rick que, ao longo da série, encontra familiares e novos companheiros caminhando por uma longa jornada de sobrevivência.
Até ai tudo indicaria um roteiro batido de Hollywood, capaz de tirar alguns sustos e muito entretenimento lucrativo para os grandes estúdios. Isto, é claro, não deixa de ser parte de seus objetivos principais, no entanto, a série vai muito além e provoca intencionalmente ou não uma interessante reflexão.
Uma das principais características das duas séries, explorada com habilidade pelos roteiristas e diretores e expressa com credibilidade pelos atores e atrizes, é o processo de embrutecimento dos personagens ao longo dos episódios e temporadas.
Estamos falando de um mundo onde as regras civilizatórias não cabem mais.
Neste mundo, todo e qualquer tipo de instituição, seja política, econômica ou até mesmo moral, foi ou completamente destroçada ou abalada decisivamente, pela rápida expansão dos zumbis. Milhões e milhões deles, contaminando novas pessoas e milhões de mortos retornando a vida destroçaram as bases da civilização e fizeram o governo estabelecido literalmente ruir por dentro, diante da incapacidade de parar a velocidade epidêmica.
Os episódios mostram indivíduos, anteriormente em uma vida confortável com acesso a serviços, água, energia elétrica, remédios e alimentos entrarem em choque diante da completa suspensão da civilização, tendo de conviver com um mundo de escassez (graças ao abandono de qualquer operação de energia elétrica, água, produção de alimentos massiva), brutal violência (diante da necessidade de se proteger da violência irrefreável da ameaça zumbi) e completa insegurança (seja diante dos zumbis ou dos, muito mais perigosos, vivos sobreviventes). É interessante como de “falantes personagens” os diálogos se escasseiam e chegam a por vezes grunhidos após 2 anos do apocalipse (tempo em que se passa a série principal).
Aqui se torna interessante a reflexão que suscita ao redor do “humano”.
Neste mundo, os mortos, apesar de serem a “ameaça total”, ou seja, aquela com que já se conta e impõe as regras de restrição de como se pode viver, não são os mais perigosos. Na série, diante da queda do Estado, da Lei e da ameaça de uma força social e regras organizadas capazes de obrigarem os indivíduos a seguirem comportamentos e ações “socialmente aceitos”, os vivos são a ameaça mais perigosa.
Roubos, estupros e assassinatos, são ingredientes da trama, incitando a reflexão a quem assiste: “Então, em condições naturais e na ausência do Estado, seria o homem... naturalmente mau?”.
Tal questão,
já formulada e apontada por filósofos como Thommas Hobbes é fruto de debates
interessantíssimos na filosofia e sociologia, encontrando diversas respostas.
O marxismo, de onde tiramos nossa visão de mundo, mostrará que o homem é produto de suas condições sociais, materiais e históricas que são, por sua vez, em “ultima instância”, determinadas economicamente. A sua condição “material”, ou seja, a capacidade de produzir alimentos, construir suas moradia , em suma, de transformar a natureza em seu favor, determina os tipos de comportamento e visões de mundo que este ser humano, ou melhor, este grupo de humanos em sociedade e lozalizado na história, irá estabelecer.
Para Hobbes, o ser humano seria essencialmente mal. Para ele o homem não sabe e não quer viver em sociedade e a única forma que se encontrou para não se levar, como espécie, a “auto-extinção”, foi um “acordo” social em que se troca a liberdade pela segurança materializada na figura do Estado.
Este Estado seria o “Leviatã”, título de sua obra, que viria, materializando a idéia da ação coletiva em respeito ao acordo social, para punir os humanos que desrespeitassem as regras.
Apesar da série apontar, a primeira vista, para uma idéia “hobbesiana” do ser humano, a interpretação marxista tanto do homem quanto do Estado (como sendo nada mais do que um “corpo de homens armados” que surge, necessariamente, da divisão social do trabalho) se expressa com mais força.
Na série o homem não é apresentado como essencialmente mal. Numa sociedade em que domina a escassez, estabelece-se uma espécie de “comunismo primitivo” (com todos compartilhando os poucos recursos, igualmente, sem distinção de classe e privilégios) em que o Estado deixa de existir e os sobreviventes se organizam em bandos os quais, por melhor que seja a ordem que possam impor, são apenas isto: um bando onde todos exercem as mesmas funções e se revezam no desempenho das tarefas.
Esta é a característica da maioria dos grupos e comunidades menores de “Walking dead”, que, no entanto, avançam para comunidades mais complexas, em que se desenvolvem certa divisão do trabalho, especialização de funções e até moeda para compra de produtos e serviços.
Mas em geral, se dá um cenário de barbárie e que a condição material destes indivíduos isolados os leva a uma guerra sem fim contra a “ameaça total”, a uma coleta diária, “dia após dia”, de alimentos e água e a disputa freqüente e mortal entre os vivos sobreviventes pelos recursos e ruínas da civilização que caiu.
De maneira crua e quase caricaturesca, vemos como a economia, na visão exposta, determina as formas de lidar com a realidade e o relacionamento entre os vivos, embora os elementos culturais e ideológicos vez ou outra se mostrem (como arrependimentos, medos, hesitações e recusa de alguns personagens a matar) como espasmos de uma civilização que já se perdeu.
É aqui que se expressa o grande sentido de “walking dead” como uma série muito mais interessante do que um simples blockbuster de terror.
Nela o que está em foco é o debate sobre o ser humano, um ser social, diante da barbárie. Qual a forma de organização social e econômica é necessária e desejável para a garantia de sua perpetuação enquanto espécie?
Esta pergunta estala em nossas mentes ao fim de cada novo episódio ou revista em quadrinhos. Seria uma democracia em que os líderes são eleitos? Ou uma ditadura em que este controla os homens barbarizados com mão de ferro? Ou um reinado, de um “novo” tipo de monarca, bondoso e admirado? Ou ainda um regime de igualdade, produção coletiva e rotatividade de funções com líderes eleitos e planos coletivamente elaborados?
De fato, todos estes “tipos” se apresentam e são discutidos ao longo da série, nos dando uma riqueza de elementos para refletir não apenas esta improvável situação, mas para pensar situações já existentes.
Guerras e epidemias mortais quase incontroláveis (como as pestes negra e bulbônicas em seu tempo ou o Ebola recentemente) colocam, igualmente, em questão todas estas questões: Diante destas “ameaças totais”, que desorganizam a sociedade, impõe a doença, a morte e a fome, quais as formas sociais e a organização social seriam a melhor saída para garantir a segurança dos que sobrevivem?
É claro, em nossa sociedade, em que existem os privilégios de classe abundantes dos capitalistas e burgueses, mesmo diante de guerras e epidemias, são muito concretos e propiciam saídas enormemente mais eficazes.
Diferentemente de Walking dead, em que as classes desaparecem, nestas crises globais advindas das guerras e epidemias, os que viram “zumbis”, ou seja, aqueles a quem o destino já reservou a morte, são, em geral, os pobres e trabalhadores, explorados.
Longe de definir a série como produto sociológico e, menos ainda, marxista, é interessante refletir a partir dela (e esta preocupação certamente esteve na mente dos autores) os debates que tomaram a preocupação de filósofos há séculos e que ocupam a mente de milhões que pensam se é possível transformação de uma sociedade ameaçada por tantas “ameaças totais”.
Da forma como vemos, nossa “ameaça total” são os grandes magnatas capitalistas e sua tão sedenta quanto a fome dos zumbis, sede de lucro, que levam a todos nós, trabalhadores ainda vivos a um beco sem saída: Socialismo ou a barbárie selvagem.
O marxismo, de onde tiramos nossa visão de mundo, mostrará que o homem é produto de suas condições sociais, materiais e históricas que são, por sua vez, em “ultima instância”, determinadas economicamente. A sua condição “material”, ou seja, a capacidade de produzir alimentos, construir suas moradia , em suma, de transformar a natureza em seu favor, determina os tipos de comportamento e visões de mundo que este ser humano, ou melhor, este grupo de humanos em sociedade e lozalizado na história, irá estabelecer.
Para Hobbes, o ser humano seria essencialmente mal. Para ele o homem não sabe e não quer viver em sociedade e a única forma que se encontrou para não se levar, como espécie, a “auto-extinção”, foi um “acordo” social em que se troca a liberdade pela segurança materializada na figura do Estado.
Este Estado seria o “Leviatã”, título de sua obra, que viria, materializando a idéia da ação coletiva em respeito ao acordo social, para punir os humanos que desrespeitassem as regras.
Apesar da série apontar, a primeira vista, para uma idéia “hobbesiana” do ser humano, a interpretação marxista tanto do homem quanto do Estado (como sendo nada mais do que um “corpo de homens armados” que surge, necessariamente, da divisão social do trabalho) se expressa com mais força.
Na série o homem não é apresentado como essencialmente mal. Numa sociedade em que domina a escassez, estabelece-se uma espécie de “comunismo primitivo” (com todos compartilhando os poucos recursos, igualmente, sem distinção de classe e privilégios) em que o Estado deixa de existir e os sobreviventes se organizam em bandos os quais, por melhor que seja a ordem que possam impor, são apenas isto: um bando onde todos exercem as mesmas funções e se revezam no desempenho das tarefas.
Esta é a característica da maioria dos grupos e comunidades menores de “Walking dead”, que, no entanto, avançam para comunidades mais complexas, em que se desenvolvem certa divisão do trabalho, especialização de funções e até moeda para compra de produtos e serviços.
Mas em geral, se dá um cenário de barbárie e que a condição material destes indivíduos isolados os leva a uma guerra sem fim contra a “ameaça total”, a uma coleta diária, “dia após dia”, de alimentos e água e a disputa freqüente e mortal entre os vivos sobreviventes pelos recursos e ruínas da civilização que caiu.
De maneira crua e quase caricaturesca, vemos como a economia, na visão exposta, determina as formas de lidar com a realidade e o relacionamento entre os vivos, embora os elementos culturais e ideológicos vez ou outra se mostrem (como arrependimentos, medos, hesitações e recusa de alguns personagens a matar) como espasmos de uma civilização que já se perdeu.
É aqui que se expressa o grande sentido de “walking dead” como uma série muito mais interessante do que um simples blockbuster de terror.
Nela o que está em foco é o debate sobre o ser humano, um ser social, diante da barbárie. Qual a forma de organização social e econômica é necessária e desejável para a garantia de sua perpetuação enquanto espécie?
Esta pergunta estala em nossas mentes ao fim de cada novo episódio ou revista em quadrinhos. Seria uma democracia em que os líderes são eleitos? Ou uma ditadura em que este controla os homens barbarizados com mão de ferro? Ou um reinado, de um “novo” tipo de monarca, bondoso e admirado? Ou ainda um regime de igualdade, produção coletiva e rotatividade de funções com líderes eleitos e planos coletivamente elaborados?
De fato, todos estes “tipos” se apresentam e são discutidos ao longo da série, nos dando uma riqueza de elementos para refletir não apenas esta improvável situação, mas para pensar situações já existentes.
Guerras e epidemias mortais quase incontroláveis (como as pestes negra e bulbônicas em seu tempo ou o Ebola recentemente) colocam, igualmente, em questão todas estas questões: Diante destas “ameaças totais”, que desorganizam a sociedade, impõe a doença, a morte e a fome, quais as formas sociais e a organização social seriam a melhor saída para garantir a segurança dos que sobrevivem?
É claro, em nossa sociedade, em que existem os privilégios de classe abundantes dos capitalistas e burgueses, mesmo diante de guerras e epidemias, são muito concretos e propiciam saídas enormemente mais eficazes.
Diferentemente de Walking dead, em que as classes desaparecem, nestas crises globais advindas das guerras e epidemias, os que viram “zumbis”, ou seja, aqueles a quem o destino já reservou a morte, são, em geral, os pobres e trabalhadores, explorados.
Longe de definir a série como produto sociológico e, menos ainda, marxista, é interessante refletir a partir dela (e esta preocupação certamente esteve na mente dos autores) os debates que tomaram a preocupação de filósofos há séculos e que ocupam a mente de milhões que pensam se é possível transformação de uma sociedade ameaçada por tantas “ameaças totais”.
Da forma como vemos, nossa “ameaça total” são os grandes magnatas capitalistas e sua tão sedenta quanto a fome dos zumbis, sede de lucro, que levam a todos nós, trabalhadores ainda vivos a um beco sem saída: Socialismo ou a barbárie selvagem.
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