terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Olhos azuis de fome


Tudo se passa como uma cena, daquelas insólitas que a cidade tarda mas sempre, vez ou outra, volta a impor a cada dia.
Terça a tarde, duas pessoas sentadas em cadeiras de madeira - aquelas vazadas que todo botequim tem- discutem sobre as mais diversas questões, sua saudade, a política nacional, os problemas corriqueiros que toda vida de jovens como eles, trabalhadores e estudantes, apresentam.

A conversa é um belo Zig Zag de relatos, risadas, histórias, que preenchem a tarde com uma sensação gostosa de estabilidade e “segurança”. É claro que, neste papo, tem um pouco de assunto desconfortável, afinal, na vida, se não tem algo que te pinica, quer dizer que algum problema mais profundo é o que te persegue. É só questão de tempo para aparecer.

Como se encontram no início da tarde, nenhum dos dois, uma garota e um jovem, puderam cumprir o ritual cotidiano biológico e, sobretudo, social de sentar-se a mesa e satisfazer aquela vontade fraca que começa logo cedo e vai progredindo até chegarmos a definir, ema lgum momento, como “fome”. É claro que esta não é uma sensação absolutamente insuportável. Está mais para um tic-tac que começa a tilintar quando se dá o horário de pagar os tributos ao ritual.

Como estavam fora de casa foram buscar algum lugar para comer. Nada muito caro ou espalhafatoso, afinal, num país como este, comer com alguma frequência um prato de 10 reais, para um trabalhador, já o torna quase um felizardo, já que com salários de 500 por mês e todo tipo de gambiarra que sofrem os trabalhadores por aí, comer fora todo dia é inviável.

Sentaram, então, num Bar de esquina, para ver se pediam algum PF (vulgo, prato feito) e foram atentidos por um cara, de avental, que lhes deu as opções. O prato do dia era Frango ensopado e Costela ao molho. Com a fome que começava a tilintar, o calor pré-cambriano e a pequena preguiça, decidiram sentar-se e comer ali mesmo.

O Boteco tinha algumas mesas lá dentro mas, como o calor era forte, decidiram ficar numa mesa fora, sentados nas cadeiras de madeira, com suas bolsas e tudo mais. A comida que chegou, em seguida, era pra não se por defeito: Salada, Carne, um refrigerante e o bom casal arroz e feijão.
De fato, nada espalhafatoso; um bom e velho PF a que, em tese, todos deveriam ter o direito.

Conversa vai, conversa vem, as questões que se discutem variam, desde as inimizades ácidas que se desenvolvem, até os planos de projetos, reflexões e idéias tão presentes em suas preocupações e então, eis que uma pausa inesperada aborda o casal e seu ritual.

Sua voz é muito fraca, saindo dos lábios que, com força, tentam irromper e se distinguir das profundas rugas, verdadeiras falésias faciais, que demonstram sua muita idade e experiência.
Esta expressão, recém distinguida, faz parte de um todo muito simples: Um charpe na cabeça, enrolado do topo ao pescoço, protege sua expressão e seus cabelos brancos e lhe dá a aparência de retirante. Nas mãos, algumas sacolas cheias de coisas. Nos ombros, uma pequena maleta pressiona suas costas, levemente torcidas a frente, como que se curvando. No corpo, um pequeno vestidinho, maltratado e todo dobrado. E, finalmente, acima destes lábios, se erguem as pálbebras que mostram dois olhos, azuis como o céu, estritamente contidos por uma expressão de dúvida, medo, vergonha e tristeza.

O casal interrompe o ritual a que se dispuseram e olham com atenção aquela senhora. Escutam, então, esta voz fraca lhes perguntar de maneira envergonhada: “Pode me dar o ossinho mocinha?”. O casal, ainda desnorteado, entende então que ela fala do osso do frango ensopado, já comido, que haviam pedido. A senhora mantém o olhar fixo ao casal, repetindo a pergunta com uma sugestão: “Pode ser só o
ossinho que tá bem, menina. A gente que já comeu coisa na rua, tá acostumado...”.

Aquela não era uma cena tão “alienígena”, nem na vida do casal, nem na vida de milhares de paulistanos. O que surpreendia, no entanto, era a idade e a expressão da senhora.
De imediato, impactados com a situação, a jovem trata de dizer a senhora que podia comer com o casal, havia sobrado muita comida, costela e frango, e não tinha problema algum. Separam a comida em um prato, pedem um garfo, arrumam uma cadeira para que se sentasse a mesa e pede para que ela se sente.

A senhora, como que numa reação instintiva, repete ao rapaz que “não precisa moço, os homem daí não vão gostar, pode me dar só a comida que eu vou embora...”, enquanto a jovem ajeita as coisas para ela se sentar.

A senhora, como que agradecida e espantada, frente ao prato de comida feito, retira uma sacola de sua bolsa, com uma latinha, talvez recém recolhida, inclina-se sobre a mesa pegando o prato e o garfo, afasta a cadeira na qual iria sentar e diz, com uma expressão triste e aguda, porém, agradecida, aos jovens:
“ Isto não está certo moça, não posso sentar, os homem não vão gostar. Eu como aqui mesmo” e termina colocando toda a comida na sacola plástica suja, pra seguir sua caminhada.

Os dois jovens, estarrecidos, nesse momento, insistem a senhora que se sente, de que não há problema e, quando esta despeja a comida na sacola, são tomados por uma sensação difícil de descrever, de tristeza mista com frustração e de profunda impotência enquanto olham aquela senhora, de, quem sabe, uns 70 ou 75 anos, abrir novamente seus olhos azuis, dar-lhes um sorriso que irrompe das rugas e andar, com a dificuldade de sua idade, rumo ao desencontro...

Esta é um cena que choca o casal. Ao olhar para a moça que está com ele, o jovem percebe que escorrem lágrimas de seus olhos, uma forma de solidariedade que não encontrou represas. Alguns minutos são tomados pelo silêncio que se impõe. São difíceis as conclusões do casal. Uma crueldade sem tamanho acabou de bater-lhes a porta.

A senhora, do início ao fim, tratou de manter os rituais com aquele casal ao qual, tão desesperadamente, pediu ajuda. Não podia, mesmo desesperada por algum alimento, incomodando a refeição de alguém, pedir algo além de um Osso, para comer. O ritual não permitiria.

Da mesma forma, sua expressão, seus olhos fechados, suas rugas profundas, suas costas curvadas, a forma envergonhada e inocente de abordar, perceberam mais tarde o casal, não vinham da biologia ou anatomia, mas da imposição cruel e fria do hábito da sujeição que, nesta sociedade capitalista degenerada e podre, são a especialidade da casa.

Pensaram o casal: “De onde veio esta senhora? Por quais infernos passou? Qual foi a tragédia de sua vida? Será que tem família?”, perguntas que, sabem, jamais encontrarão a resposta e que, a cada esquina, poderiam fazer a cada jovem, morador de rua, desencantados com a crua vida na cidade do capital.

A senhora, ao se negar a sentar, não apenas tinha certeza do quão inviolável é o Ritual no qual estavam os jovens, uma lição certamente ensinada a ela por um sem número de maníacos e degenerados, donos de bar, policiais, guardas civis, todos sádicos espancadores de mendigos, como sabia qual seu papel num ritual muito maior.

Este ritual é uma coisa chamada
luta de classes. Seu olhar, sua expressão, sua negação a sentar-se na mesa com os jovens, além do medo da reação de desconhecidos trogloditas, era a expressão de o quanto, em sua cabeça, ela se vê como um ser inferior, um animal destinado a comer ossos e guardar comida em sacos imundos, sendo que, para um ser como este, é um “pecado” sentar-se na mesa, em pé de igualdade, com qualquer um.

Muitos são os nomes que, certamente, esta senhora já recebeu, numa sociedade decomposta, cujas bases são as divisões de classes de seres: em sua juventude, certamente foi a vagabunda, a vadia, a louca; hoje em dia é apenas a velha moribunda, esperando o próximo osso e o próximo saco que salvará mais um dia de uma vida à deriva.

Perceberam, então, tomados por um misto de revolta e tristeza, que os olhos azuis da senhora expressavam, na verdade, uma profunda fome. Mas não apenas de comida. Seus olhos, contidos por um corpo enjaulado na submissão e preso pelas pálpebras insensíveis, estavam famintos. Famintos de vida. Famintos de Sonhos. Famintos de possibilidades. Famintos de uma vida que, sem poder fazer nada, foi-lhe tirada, escorreu por suas mãos e hoje, no fio da navalha, se resume a ossos e sacos.

Enquanto isto, regozijam-se a minoria de porcos imundos em salas suntuosas, preenchidos até o esôfago do mais nobre e novo quitute europeu, fazendo a festa, como parasitas desprezíveis, com o sangue de milhões de senhoras, jovens, trabalhadores, sugados até os ossos, pelos porcos capitalistas, banqueiros, burocratas e toda espécie de vermes que se intutulam “autoridades” responsáveis, nesta sociedade miserável.

Afinal, em último caso, se depender dos capitalistas, será este o resumo de todos os trabalhadores:
Ossos e sacolas. Senão os ossos de galinha, em sacolas, pra comer, que sejam os ossos de trabalhadores e do povo pobre, em sacolas, quando morrerem.

sábado, 4 de agosto de 2012

XI Congresso dos Estudantes da Usp: Um espaço para preparação e organização concretos!




J
á podemos dizer que 2012 é um ano decisivo, tanto pelo que foi quanto pelo que anuncia ser, dentro e fora da USP.

Neste ano, como continuidade da luta de 2011, contra o convênio PM/USP e a repressão, o método histórico de tratamento aos estudantes e trabalhadores na universidade, a reitoria segue seu projeto de desmantelar toda e qualquer resistência a seu projeto de elitização e privatização, avançando com os processos que tentam expulsar 70 estudantes, demitir toda a diretoria do sindicato de trabalhadores e já eliminou 8 estudantes, com seus arquivos, “dossiês”, espionagens e comissões processantes que acusam, julgam e punem, demonstrando o caráter autoritário e inquisitório de sua Política.

Não é novidade o fato de que na USP as decisões são tomadas por um conselho (CO) ultrareduzido de 300 professores privilegiados e um orgão de intervenção - a Reitoria-, que, baseada num estatuto de 1972, escrito por ideólogos da Ditadura Militar, tratam de garantir que todos os grandes grupos empresariais, interessados na pesquisa e desenvolvimento para seus lucros, possam ter seus objetivos alcançados, ao mesmo tempo em que tratam de calar a resistência que busca questionar o caráter cada vez mais elitista e privatista da Universidade.

Como contraponto a tudo isto, além do importante movimento de Greve e o comando de greve que se forjou junto das iniciativas de mobilização massivas durrante todos estes meses, se desenvolveu um importante movimento que, em consonância com o debate nacional sobre a ditadura, decidiu questionar, não apenas a Democracia na USP, mas o que resta da Ditadura militar , iniciativa que culminou na tentativa de construção de uma “Comissão da verdade USP” e o Fórum por democracia.

Ainda são iniciativas iniciais que, no entanto, assim como a própria Comissão nacional da Verdade ainda, não adentraram o fundamental: Como consequência da transição pactuada ,“no alto”, entre torturadores e os partidos dos trabalhadores que se levantavam em toda a década de 80, seguem como figuras marcantes desta nossa podre democracia a repressão, as mortes na periferia, a espionagem, a busca de neutralização dos “divergentes” e a impunidade dos assassinos que torturaram e mataram trabalhadores e militantes de esquerda nos 20 anos da ditadura.

Basta ver o número de escandalos envolvendo execuções policiais de negros e pobres na periferia; gravações de PM's atirando em pessoas algemadas e detidas; a repressão em favelas, bairros populares, manifestações, sejam de trabalhadores, sem teto ou estudantes; a formação de “mílícias do extermínio” acobertadas pelo governo e, por exemplo, a matança que a PM paulistana retomou, como em 2006, matando mais de 200 suspeitos desde janeiro e mais do que todas as polícias dos EUA desde 2007. Com estes dados, fica claro no que e aonde “vive” a ditadura.

É neste marco que se insere a conjuntura e a estrutura da USP. É esta lógica de repressão e demonização do “inimigo interno” construída pela ditadura que, neste momento, tentam demitir Diana Assunção, dirigente do SINTUSP, por apoiar a luta e ocupações estudantis no ano passado e expulsou Brandão, também dirigente, por lutar em defesa dos terceirizados.

Não se trata, assim, de uma situação fácil. Ainda menos se pensarmos que já começam com mais firmeza os discursos de Dilma e o governo, fazendo questão de dizer que o Brasil “não é uma ilha”que pode passar impecável pela crise e, mais importante, começam os ataques preparatórios, como a tentativa de demissão de 2 mil trabalhadores operários na GM de São José que segue em aberto e deixa claro em quem os grandes grupos capitalistas pretendem descontar a crise: nos trabalhadores e na juventude.

Com as soluções da crise mundial cada vez menos possíveis face ao “quebra-quebra” de estados na Europa, a crise começa a se exportar pela via da desaceleração da economia e neutralização de todas as medidas que antes ajudavam a manter, sobretudo no Brasil, algum crescimento que permitia alguma estabilidade gradual, agora já com fortes limites indicados.

O que isto tem a ver com a USP e o Congresso dos estudantes? Tudo a ver, tanto pelo papel histórico que o movimento estudantil e de trabalhadores cumpriu quanto pelas potencialidade que tem a desenvolver.

É preciso, neste XI congresso, diferentemente do que os companheiros a frente do PSOL fizerem em 2010 no X congresso e indicam fazer novamente, ter um claro objetivo de preparação, organização e resistência do M.E. para a avançar na Luta, de maneira não-elitista ou corporativista, para além dos muros da USP, buscando ganhar aliados e ser um pólo de resistência desde a universidade levantando as bandeiras das necessidades do povo trabalhador.

A resposta que temos de levantar deve passar por construir com convicção um movimento, que no futuro levante dos trabalhadores e estudantes, possa ressoar e servir de exemplo para a luta comum que travaremos, já por dentro da enorme crise que se aproxima. É neste sentido que ganha centralidade a luta por democracia na USP, tanto em relação ao Poder, quanto ao Acesso e à Permanência.
Somente aliando-nos com todos os trabalhadores - efetivos e terceirizados- e professores, juntamente com organizações populares e de trabalhadores de fora da USP, e impondo uma verdadeira Estatuinte livre e soberana, que pela via do voto universal (um por cabeça) dissolva o CO e a Reitoria e derrube o estatuto autoritário de 72, construindo sob eles uma estrutura de poder e estatuto democráticos, baseados nos 3 setores da maneira proporcional a como se distribuem na USP, ou seja, com maioria estudantil e ligada ao povo trabalhador, lutando pelo Fim do Vestibular e educação gratuita para todos e por moradia e permanência a todos que precisam, é que poderemos colocar a USP a serviço da maioria da população, demonstrar o Movimento Estudantil como sustentador das demandas e aliado do povo pobre, e, assim, livrar a USP dos parasitários membros da Família Rodas e Alckmin, sendo um exemplo de luta e organização.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Aliança PSTU/PCdoB em Belém do Pará: Pragmatismo eleitoral ou “flexibilidade tática”?


Aliança PSTU/PCdoB em Belém do Pará: Pragmatismo eleitoral ou “flexibilidade tática”? Um debate de estratégia, princípios e táticas.
Recentemente, em meio eleições de várias capitais do país recheadas de anúncios de alianças “inusitadas” e pragmáticas, como a aliança Haddad/Maluf em São Paulo, ou o mal-entendido de uma possível coligação entre PSOL e PSDB em Resende, no Estado do RJ, nos chamou a atenção um processo específico, em Belém do Pará, em que PSTU compõe uma “Frente de esquerda”, com PSOL, PCB e... PCdoB!

Como tentativa de explicação o PSTU lançou uma nota¹, na qual tenta justificar em base aos princípios e tática dos revolucionários esta espúria aliança.
Assim, se torna oportuno demonstrar como esta aliança e os elementos de “justificativa” em sua nota, longe de se sustentarem pela tradição dos revolucionários de Trotsky e Lênin, se enquadram numa tática que atenta a princípios fundamentais, sobretudo em tempos de preparação frente a uma crise histórica que, tudo indica, começa a tocar o Brasil e desolar o Mundo.


O que sustenta a Frente em Belém: seus resultados e “coligações” ou seu programa?
Em sua nota, a direção do PSTU inicia a discussão com um panorama geral do processo em Belém, ressaltando a formação da frente (PCB, PSOL, PSTU e PcdoB.) e o lançamento de seu principal candidato Edmílson Rodrigues(PSOL) e a candidatura a vereador de Cléber Rabelo, dirigente do PSTU no Pará.

Comentam, nesta primeira parte, sobre a grande simpatia em relação a Edmílson, que já foi por duas vezes prefeito de Belém quando militava no PT e que, segundo a nota, canaliza um profundo sentimento de oposição à esquerda ao Governo federal. A frente desta coligação,o PSTU pontua que pode potencializar as chances de eleição de um operário socialista para a câmara dos deputados, referindo-se a seu candidato, Cléber e, assim, fortalecer seu partido filiando novos operários, referindo-se a este processo como os “objetivos tradicionais dos revolucionários nos processos eleitorais”. Ao fazerem esta explanação geral, não citam uma só bandeira ou eixo de programa que norteie a “Frente”e a Candidatura de Edmílson, só afirmando que, o PSTU, lutará por uma agitação cujo centro seria uma “Belém para os trabalhadores”, afirmando que exigirão sempre que o PSOL e Edmílson digam se “querem governar para 'todos' ou para os trabalhadores”.

Não bastasse valorizar os possíveis “resultados” da Frente em detrimento do programa que a baseia, o que a direção do PSTU omite, é que, segundo suas próprias notas antigas, o que fez Edmílson a frente da Prefeitura de Belém foi implementar um “modo petista de governar”, arrochando salários, reprimindo servidores e até agredindo militantes do PSTU em atos contra a prefeitura, o que lhe rendeu, segundo a notas, uma “desconfiança” por parte dos trabalhadores.²
Já é no mínimo estranho o tom de “indefinição” que dão a candidatura deste candidato que implementou projetos repressivos e precarizantes a população de Belém, num passado tão próximo, colocando como possíbilidade - “se”- ele governar para todos. Ora, se seu projeto foi, por duas vezes, o de implementar um “modo petista de governar”, com políticas de arrocho e precarização contrárias aos trabalhadores, que tipo de governo foi este? Não foi “'para todos”, no sentido petista, para os capitalistas? Porquê tratam de embelezar as possibilidades de seu governo?

Estranho também é o tom “fatalista” que dá a direção do PSTU, tanto no começo como no fim do texto, em relação a tentativa do PSOL fechar acordos com partidos burgueses, como PV, PTN que, sabemos, além de não ser alternativa, expressam interesses distintos, baseados na exploração dos trabalhadores.
Em sua primeira nota, o Partido simplesmente lamenta a “imposição” do PCdoB pelo PSOL. Já em sua segundo a nota, a direção do PSTU diz que lutou com todas as forças contra a presença dos “partidos burgueses” que, sem citar as razões, desistiram da coligação. Ainda assim, não conseguiram impor ao PSOL que saíssem todos, e, sendo assim, “não construíram” a frente, mas decidiram que era correto participar, aceitando a presença do PCdoB, um “partido governista”.
Ou seja, capitulam aos anseios eleitoralistas do PSOL que, em sua ânsia por cadeiras parlamentares, fazem um pacto com “o diabo e sua avó”, deixando entrar o PCdoB, sustentáculo de uma das maiores burocracias do país, sem explanar qual o programa da frente e como este entra em conssonância dos os ímpetos ruralistas e corruptos deste partido.

E porquê o fazem?

Um definição sociológica estranha ao Marxismo: PCdoB, um partido “não burguês”, “não-operário” e “Não-pequeno-burguês”; um partido governista!
Apesar de tentar não dar eixo a este elemento, o nó central de toda a argumentação e justificativa da presença do PSTU na frente com o PCdoB se dá em sua definição de quê este seria, não um partido burguês, mas um “partido governista”.

Com esta definição, a direção do PSTU inaugura uma caracterização na tradição “marxista”, dando mais ênfase ao papel que o PCdoB cumpre na superestrutura da sociedade (o regime e governo) do que ao seu conteúdo social e seu papel na relação entre as classes (as relações de produção, parte da estrutura da sociedade).
Desta forma tentam, usando da retórica, eliminar a contradição com um princípio inquebrantável defendido pela tradição trotskysta acerca da “independência de classe” dos trabalhadores e suas organizações.

Não é uma aliança com um partido burguês. É um “partido de governo”. Propõe então uma categoria insondável ao marxismo, que vive no limbo entre os partidos burgueses, pequeno-burgueses e operários...

Ora, mas o que seria, então o PCdoB, este monstro Frankenstein? Qual seu conteúdo social? Qual o conteúdo social de suas políticas? Como atua na relação entre as classes e, assim, qual seu papel na luta de classes?

Segundo uma nota, o PSTU o define da seguinte maneira:
Levando-se em conta a atuação do PCdoB nos últimos, não se poderia nem dizer que o partido implementa uma política nacional desenvolvimentista. Além de sustentar um governo que dá continuidade à política econômica de FHC, o PCdoB diretamente impõe um programa neoliberal quando, por exemplo, dirige o leilão dos poços de petróleo às empresas estrangeiras. Ou quando Aldo Rebelo apoia as reivindicações do latifúndio, parte dele ligado às multinacionais da indústria alimentícia. Por isso, não é de se estranhar que empresas como McDonald’s ou a Coca-Cola apareçam como financiadores eleitorais do partido, no caso de Aldo Rebelo.(...)
Sem uma estratégia e um programa socialista, ou mesmo alternativo ao que está aí, e completamente adaptado à institucionalidade,
restou ao PCdoB atuar unicamente em torno da lógica eleitoral e aparatista.
A estratégia deixou de ser a transformação social, por etapas ou não, e passou a ser fundamentalmente a sua permanência no poder. E como tal, o desvio de verbas públicas parece legitimado frente a essa estratégia.”³  
Esta declaração, por si só, contém um assombroso peso de denúncia que deve, legitimamente, arrepiar qualquer ativista honesto que pense numa aliança entre estes partidos e torna flagrante a contradição da definição do PSTU.
Ora, se implementa, diretamente, um programa neoliberal; articula, apóia e implementa planos de benefícios aos latifundiários assassinos de camponeses e indígenas; recebem milionárias doações legais de grandes corporações como Coca Cola e desviam milhões de reais com as Obras do Governo para a Copa; se fazem e são tudo isto, como definir, seguindo a sociologia marxista, este Frankenstein que é o PCdoB?

De nossa parte, cabe a definição de que o PCdoB é, sim, um partido burguês, com influência e inserção no movimento operário, sendo parte da burocracia governista que cotidianamente trata de amordaçar os operários avançados, confundir e deseducar os trabalhadores, burocratizar suas ferramentas como os sindicatos e comissões e, desta forma, manter o controle sob eles, garantindo , assim, as bases da “estabilidade nacional” para que se implementem as orientações neoliberais, ataques e cortes em direitos por PT, PCdoB e companhia.

No movimento estudantil transformaram a UNE num braço institucional do Governo Federal , amordaçando-o e controlando-o segundo os interesses dos grandes magnatas donos das Universidades privadas, seus financiadores diretos. Com isto, são parte da estratégia para “fazer o movimento operário e estudantil deixarem de ser perigosos”.

Os escândalos de corrupção, que chegaram a denúncias de 40 milhões desviados, são a cereja do Bolo de um partido integrado a Ordem, fundamental a preservação da estabilidade das classes dominantes, um partido que Lênin e trotsky utilizariam como o exemplo de “implementadores dos interesses dos patrões no movimento operário”, contra os quais há de construir uma hostilidade operária a todo custo.
Partindo da falsa premissa de que o PCdoB é um partido “governista”, algo como um “mal tolerável”, e de que a Frente, mesmo não sendo em “seus moldes” foi-lhes imposta pelo PSOL - diga-se de passagem, sem criticar a orientação que ruma a direita deste partido, num dos centros mais dinâmicos de conflitos operários no País - , o PSTU tenta se justificar e vai buscar nas raízes teórico-históricas explicações para tanto.

E como o fazem?

“Teoria como Guia para ação” ou “Teoria como justificativa para ação”?

Uma das definições fundantes do Marxismo e um dos crítérios mais fundamentais para se analisar a seriedade de uma organização é sua postura perante a Teoria. Esta, em nossa apreciação, longe de ser um dogma árido, um “todo imútável”, contém um sem número de lições de luta operária, transformadas em objeto de analogia histórica, que, por dentro de uma estratégia e entrelaçada com ela deve ser um verdadeiro guia para a ação revolucionária dos trabalhadores.

A direção do PSTU, em sua tentativa de justificar esta frente com um Partido burguês, no entanto, age de outra forma.
Com o objetivo de transformar a questão da Frente numa questão secundária, tática, que não atenta a nenhum elemento estratégico e muito menos a um princípio, pontuam uma oposição entre o que é “flexívelmente tático” e a “rigidez de princípios”.

Para isto, em sua primeira parte, usam duas citações confusas que deveriam corroborar uma visão “não-sectária”, sobre os acordos colocando a seguinte pergunta: “será admissível para um partido revolucionário apoiar ou participar de frentes eleitorais onde estejam também partidos burgueses ou governistas?”.

Não respondem categoricamente esta pergunta. O que fazem, no entanto, é utilizar duas citações que, não tem qualquer ligação ou analogia com o debate. Trata-se de um famoso “argumento de autoridade” que busca corroborar uma linha lógica.
A resposta que dão, no entanto, é a de que os acordos são parte da tradição revolucionária e que dependem dos objetivos e da situação concreta em que se fazem. Sendo assim, respondendo indiretamente, colocam a questão dos acordos como algo “natural” aos revolucionários e tornam a frente com o PCdoB como tática.
Tal formulação, que deixa dúvidas quanto a política para os “acordos eleitorais”, induz os leitores a não acharem um problema frentes com partidos “burgueses”, o que depois tentam corrigir com ênfase no final da nota.

Deste modo, não só usam a teoria - recortada e fragmentada- de forma a justificar uma ação pragmática, com objetivo de eleger um parlamentar, como realizam um verdadeiro “atentado” a um princípio fundamental do marxismo revolucionário, defendido a ferro e fogo por Lênin e Trotsky, ao qual, no entanto, em nenhum momento fazem menção em sua nota: “A independência de classes”.


Princípios, Tática e estratégia: o lugar da independência de classe.
Em sua segunda parte, sobre a “rigidez” dos princípios, sua justificativa ganha densidade e chegam a definições mais contundentes.
Definem que a “rigidez de princípios” é a Liberdade de ação, agitação e organização. Para isto, utilizam citações de Lênin e trotsky que, segundo sua própria lógica, demonstram que o fundamental não é “se o partido faz acordos e com quem são estes acordos”, mas sim se “o partido mantém ou não sua independência política, sua liberdade de ação, se mostra seu próprio programa ou não, se levanta suas próprias consignas ou não, se tem seus próprios materiais ou não.”

Nas duas primeiras citações, tanto Lênin como trotsky, deixam muito claro- e parece que a direção do PSTU não quer ver- que todas as táticas e medidas estão subordinadas ao fortalecimento e
avanço da consciência proletária e de sua vanguarda e, de outro lado, de que qualquer medida que se tome, não se deve jamais aos comunistas tornarem-se responsáveis, por menor que seja, por qualquer política dos outros partidos, sobretudo burgueses.Lênin mesmo dirá, em Esquerdismo, a doença intanfil do comunismo quando trata da posição dos revolucionários frente aos partidos da “democracia pequeno-burguesa”,ou seja os mencheviques, nos marcos da autocracia czarista e, por isto, com profundas mediações que:
“(...)Toda a questão consiste em saber aplicar essa tática
para elevar, e não para rebaixar, o nível geral de consciência, de espírito revolucionário e de capacidade de luta e de vitória do proletariado. É preciso assinalar, entre outras coisas, que a vitória dos bolcheviques sobre os mencheviques exigiu da Revolução de Outubro de 1917, não só antes como também depois dela, a aplicação de uma tática de manobras, acordos, compromissos, ainda que de tal natureza, é claro, que facilitavam e apressavam a vitória dos bolcheviques, além de consolidar e fortalecê-los às custas dos mencheviques. Os democratas pequeno-burgueses (inclusive os mencheviques) vacilavam inevitavelmente entre a burguesia e o proletariado, entre a democracia burguesa e o regime soviético, entre o reformismo e o revolucionarismo, entre o amor aos operários e o medo da ditadura do proletariado, etc.”

Em que pesem as mediações, até poderíamos utilizar esta profunda lição de “flexibilidade”, mas vejam, companheiros, que Lênin em nenhum momento cita alianças com partidos burgueses. Ao contrário, discorre sobre a vacilação dos pequeno-burgueses definindo seu traço mais fundamental, em acordo com Trotsky: a tendência a polarizar, ou no sentido do proletariado revolucionário, ou da burguesia liberal. Ou seja, toda a política dos revolucionários está em oposição a burguesia.

Ainda sobre este ponto, a direção do PSTU retira de seu contexto todo um tópico de Trotsky em que discute a aliança entre comunistas e social-democratas, não para uma “aliança eleitoral” mas contra...o facismo!

Vejamos como Trotsky, no entanto, trata do tema, tendo o cuidado de perceber que o PCdoB em quase nada se assemelha a social-democracia e que, trotsky não trata de uma “eleição municipal”:
Em regra geral, os acordos eleitorais, arranjos parlamentares feitos entre o partido revolucionário e a social-democracia servem aos interesses da social democracia. Acordos práticos para ações de massa, para fins de combate, servem sempre a causa do partido revolucionário. O comitê anglo russo foi uma forma indamissivel de bloco de dois vertices, sobre uma plataforma política indeterminada, enganadora, que não implicava em nenhuma ação. Apoias este bloco(...) significava da parte dos stalinistas (membros do Partido comunista alemão), fazer uma política traidora.”(Revolução e contrarevolução na Alemanha. TROTSKY.)Lendo estas palavras faz-se necessário questionar: Em que sentido uma aliança com os corruptos, neoliberais e burocratas do PCdoB faz a consciência opérária fortalecer-se? Em que sentido se fortalece a confiança dos operários em suas próprias forças? De que forma este “bloco eleitoral” terá alguma validade estratégica para a ação dos operários? O PSTU não se compromete com o PCdoB estando numa frente com eles e confunde os operários?

A tradição de Trotsky, no curso da grande revolução proletária na Russia e no curso de idas e vindas de revolução e contra revolução, nos ensinou que existem distinções entre questões de princípio (que são os “pilares de sustentação” de toda a política), as de estratégia (como um plano, segundo os princípios, que abarca um conjunto de operações objetivando a superação da sociedade de classes) e as táticas (como operações isoladas, de acordo e subordinadas a estratégia, que, no entanto, dão-lhe corpo). Qualquer desequilíbrio entre estes pode levar a graves problemas práticos.

Dentre os princípios, a
independência de classes é fundamental. Mais de uma vez, pautando-se em mais de um processo revolucionário, Trotsky nos ensinou como apenas o proletariado, a frente de todos os oprimidos (camponeses, semiproletários, etc) é capaz de produzir as transformações pendentes nos países atrasados (reforma grária, libertação nacional) e cumprir as tarefas de construção do socialismo, a partir de sua ditadura.
Tal aliança, desde o início e sempre, passa por rechaçar compromissos e conciliação com a Burguesia liberal e com a construção de um “ódio de classe”, de uma hostilidade frente as mínimas manifestações de suas tendências, aonde quer que estejam.

Assim,
a estratégia para a revolução socialista, condição da construção do comunismo, ganha corpo com a centralíssima tática da aliança com os camponeses, pautando-se no princípio de independência de classe, decorrente da época imperialista em que a burguesia prefere se aliar ao demônio do que beneficiar o proletariado.

A direção do PSTU, além de desferir um golpe no marxismo, quando deixa entender que é tático o conteúdo de qualquer acordo, caracterizando o PcdoB de maneira “indizível”, sem mencionar nada do programa da frente específica além de generalidades que não se forjarão em prática, deixa os operários reféns à influência da burguesia e de seus agentes mais decididos no movimento operário, atentando a um princípio e perdendo-se na estratégia e nastáticas oportunistas.

Ao entrar na Frente com PCdoB, mesmo com suas “críticas de esquerda”, aos olhos das massas o que faz é assumir um compromisso com ela, com seu programa e com a atitude de seus membros. Por isto a legítima estranheza dos “ativistas honestos” que conhecem bem o PCdoB.
Não há como “ não se comprometer” fazendo parte de um mesmo “grupo”, por mais indeterminado e frouxo que este seja.

Se tornam então uma “ala-esquerda” deste acordo que, com objetivos pragmáticos, subtrai, aí sim, um dos “
objetivos tradicionais dos revolucionários”, qual seja, o fortalecimento da consciência dos trabalhadores acerca de seu papel histórico, de que são a única classe capaz de emancipar a si e a humanidade e que precisam fazê-lo com suas próprias mãos e instrumentos, forjando uma tradição classista e autoorganizada no movimento operário.
A tarefa dos revolucionários nesta etapa histórica e na conjuntura de preparação à crise

Não é de hoje que são conhecidas nossas divergências com o PSTU e sua orientação estratégica.
Em suas conclusões, a direção deste partido trata de tentar demonstrar como seu “principismo e flexibilidade” se demonstrou no tempo.
Assim, fazem balanços iniciais de processos importantíssimos como seu apoio a candidatura de um dos maiores traidores da classe operária, Lula, demonstrando como “acompanharam” a experiência das massas com o PT.

Não se trata aqui de pregar a “pureza marxista”, mas de uma visão clara de quais objetivos estratégicos perseguir e como um mínimo desvio na teoria gera quilometros de ecletismo na prática.

O morenismo, a escola na qual se forma o PSTU, há muito demonstrou que está disposto a revisar os ensinamentos de Trotsky.

Há um tempo, impactado pelas revoluções no pós-2ªguerra, Nahuel Moreno, já dizia: “
..os fatos tem demonstrado que nesta pós-guerra não aconteceu o que dizia o texto da revolução permanente: que somente haveriam revoluções socialistas se a classe operária as realizasse dirigida por um partido bolchevique. Esse foi um erro tremendo já que houveram processos de revolução permanente que expropriaram a burguesia, fizeram uma revolução operária e socialista sem serem acaudilhados pela classe operária e sem um partido comunista revolucionário. Quer dizer, os dois sujeitos de Trotsky, o social e o político, faltaram ao encontro com a História. Hoje temos que formular que não é obrigatório que seja a classe operária e um partido marxista revolucionário quem dirija o processo da revolução democrática à revolução socialista...”  (Nahuel Moreno, “Escuela de quadros”- Argentina, 1984)

Partimos desta diferença estratégica com Moreno e, por conseguinte, com o PSTU. Não abrimos mão da perspectiva de que apenas a ditadura dos trabalhadores srá capaz de varrer o capitalismo da Terra e que esta é uma tarefa dos Trabalhadores, a frente de todos os oprimidos, contra a influência da Burguesia e da pequena burguesia.Também por isto, é concebível, que, de fato, pensem que é meramente tático votar numa frente eleitoral, como a que estão, com a caracterização que fazem desta, desde que façam uma “crítica” de esquerda.
Em certo sentido, segundo
sua estratégia, talvez o “ganho de posições” e a formação de Frentes deste tipo, façam a classe avançar rumo a revolução socialista.
Também por isto fazemos questão de demonstrar que devem ser honestos e assumir que partem de
uma ruptura com o legado de Trotsky. Acusam-no de um erro e enveredam por outra estratégia.

Neste sentido, é preciso dizer que toda a política da direção do PSTU e sua tentativa de justificativa desta espúria Frente ruma num sentido diverso da preparação que propunha Trotsky.
Em mais de uma vez em sua nota afirmam seus objetivos que se relacionam, a todo instante, não com a criação de uma tradição revolucionária no movimento operário, hostil a burocracia e a burguesia, autoorganizado desde as bases, com plena “consciência do porquê lutar”, mas sim com o exclusivo
“ganho de posições”, tensionados com a “melhor localização”, com a presença em alguns sindicatos, com a construção partidária e eleição de candidatos que possam servir de apoio para um fortalecimento do Partido.

Tal como dizem, buscam “acompanhar” a experiência das massas, adaptando-se aos terrenos de batalhas, tal como se apresentam, encontrando as “melhores posições” a todo o custo.
Assim, tratam de, num pólo importantíssimo de luta de classes, confundir os milhares de operários que ainda não passaram pela escola da Luta contra a burocracia e pela sua independência.

É certo que nem sempre os revolucionários escolhem em que terreno combater. A transição de democracias-burguesas em facismo e vice-versa foi e é a prova de que a Burguesia está disposta aos mais bruscos giros de “terreno” para desorientar os revolucionários e manter sua dominação de classe.

Ter a clareza estratégica da luta revolucionária, pensar as mais variadas táticas que façam avançar a perspectiva operária, sua confiança em suas próprias forças, seu papel como “tribunos do povo”, a necessidade de seu partido revolucionário e sua autoorganização só é possível se sua vanguarda, o próprio Partido,
está munido de um granítico, férreo, inflexível apego aos princípios. São eles que impedem que o vendaval das forças burguesas possam desmoralizar ou confundir nossa orientação; são eles o mais firme suporte para atuarmos em qualquer terreno.

 Hoje, por exemplo, na ESPANHA, se desenvolve uma mobilização histórica de mineiros... em frente única com os patrões do setor. São as contradições que a Crise de subjetividade dos trabalhadores coloca aos revolucionários como questões.

Os princípios não são a “denúncia” ou as frases abstratas colocadas em “fins de textos”; são sim, e antes de tudo, as bandeiras de gerações de operários afogados em sangue, fincadas no chão, em atitude hostil a burguesia, pela emancipação de todos trabalhadores que só é possível por suas próprias mãos.

É papel das organizações revolucionárias lembrar a todas as gerações destas lutas e lições. E não é com o PCdoB que o faremos.

domingo, 15 de abril de 2012

Que fazer USP?: Derrotar a Ditadura de Ontem e Hoje; ou Uma estatuinte Livre e Soberana: Um débito com o passado!

Neste último dia 1º de Abril se completou os 48 anos do Golpe Militar. Basta uma procura rápida para se observar as notícias sobre comemorações de “oficiais da reserva” e membros das forças armadas realizadas sem nenhum impedimento, mesmo sob o governo de uma Ex-guerrilheira e combatente à ditadura, Dilma. Tais senhores de casaca comemoraram a chamada “Revolução” de 64.

Uma pesquisa mais profunda nos garantiria, no entanto entender o brutal e profundo processo da Ditadura Militar e como esta, como parte de uma “maquinação” internacional, a serviço dos EUA, estabeleceu uma ditadura sanguinária, impondo um regime de torturas, assassinatos e silêncio ao povo trabalhador, que, junto da Ditadura Chilena e Argentina, deixou mais de 60 mil mortos e desaparecidos em toda a América Latina.

Como parte de nossa História, a Ditadura se alçou como um dos períodos mais autoritários e ainda hoje sua herança perdura nos métodos e na Lógica do Estado Brasileiro. Em todas as periferias, no campo e nas favelas a faceta mais degenerada do que foi a Ditadura se impõe de maneira brutal cotidianamente.

Para garantir a manunteção dos lucros dos Grandes capitalistas, muitos são os exemplos de repressão à greves como a recente de Jirau, em que milhares de militares reprimiram e assassinaram operários; Eldorado dos carajás; Pinheirinho; e incontáveis manifestações reprimidas burtalmente pela “cria legítima” da Ditadura: a Polícia e, mais propriamente, a Polícia Militar que, desde 2003 em SP e RJ assassinou mais de 11 mil pessoas.

Dentro de toda a realidade que nos envolve nacionalmente está a USP, dita “maior universidade da América Latina”, gerida por seu REItor Rodas, advogado que, vale dizer, em numerosos casos defendeu o Estado Brasileiro contra as acusações de crimes contra perseguidos e torturados, tendo muito evidência no caso de Zuzu Angel.

Na USP, quase como contrapartida ao papel que desempenhou na resistência contra a ditadura, restam profundas ligações com este período nefasto, sobretudo quando se observa o último período de lutas de trabalhadores e estudantes e como estes são perseguidos.
Resta como coroamento do “orgulho ditatorial”, um estatuto e regimento geral, escrito em 1972 (por Gama e Silva, o criador do AI-5) que, neste momento persegue e pune com expulsões mais de 80 estudantes, toda diretoria do SINTUSP e a associação de professores (ADUSP), por motivos de “atentado à moral e aos bons costumes” , ocupações ou “de incentivo à paralisações”. Ao lado desta ofensiva “legal” os ataques ilegais como espionagem no CRUSP e atentados, como a tentativa de explosão do SINTUSP, seguem na vida universitária...

Tal estatuto, no entanto, não só garante esta ofensiva repressiva; faz isto para colocar a Universidade a serviço dos interesses dos Grandes empresários.

Na mesma proporção dos ataques e medidas repressivas, se desenvolvem as mais obscuras relações entre a burocracia acadêmica dirigida por Rodas e as grandes empresas e empresários: Empresas de terceirização garantindo, pela via da semiescravidão, a mesa farta de professores titulares ao mesmo tempo em que a Reitoria prepara um plano- PROADE- para demitir trabalhadores efetivos e terceirizar em massa; numerosos convênios entre Nike, Avon, Monsanto, Dersa, odebretch e as faculdades da USP; projetos de “reurbanização”, como o proposto para a comunidade da São Remo, a qual, durante todos os anos na qual se estabeleceu jamais obteve qualquer atenção dos burocratas e diretores de Unidades como FAU e POLI, capazes de pensar planos de obras que garantissem emprego e estrutura para a massa de trabalhadores precários que ali residem; e um longo etc...

No que diz respeito ao Poder de decisão, tal estatuto amordaça a esmagadora maioria da Comunidade e garante que um número Hiperreduzido de professores titulares -cerca de 300- decidam as prioridades da maior Universidade da américa latina, em nome dos 100 Mil membros e de toda a população do Estado e País. Isto sem mencionar o quase feudal modo de escolha do Reitor- um cargo que sintetiza o quão arcaica é esta estrutura - votado por este “conselho de sábios” e, por fim, determinado pelo “magnânimo” governador do estado.

Rodas e toda a estrutura de poder da USP abordam a questão da “democracia e da perseguição política” como objeto de paranóia de radicais, ao mesmo tempo em que financiam monumentos em homenagem à “revolução de 64” e designam um coronel da PM, como chefe de segurança da USP.

Na USP, assim, como uma espécie de ampliação da realidade nacional, surge a conclusão do que foi a transição pactuada da ditadura para a democracia, nos anos 80: Um acordo feito pelas costas do povo pobre e trabalhador que nos deixou uma débil e podre democracia dos Ricos; aos demais resta de democráticos apenas o silêncio e a repressão.

Como débito histórico em memória de nossos combatentes é tarefa da nova geração não apenas combater esta herança mas buscar acabar com a ditadura em suas entranhas.
Um movimento amplo, de toda comunidade USP ligado à população trabalhadora, que lute por uma estatuinte Livre e Soberana, questionando as prioridades da USP, lutando por sua abertura radical com Fim do vestibular e buscando colocar sua pesquisa e seu conhecimento a serviço das necessidades dos trabalhadores é o proximo passo decisivo de nossa luta.


É preciso, neste sentido, lutar pela democracia no poder de decisão da USP acabando com o Cargo de Reitor e o Conselho Universitário buscando as vias de democratizá-la estruturalmente.
Hoje na Usp se encontram mais de 88 mil estudantes, 16 mil trabalhadores efetivos, uma estimativa de mais 5 mil terceirizados e 5 mil professores! 

Apenas organizando uma gestão/governo de trabalhadores - inclusive terceirizados-, professores e estudantes, da maneira mais democrática possível, ou seja, proporcional e com a consequente maioria estudantil, com representantes votados em todas as unidades da USP por democracia direta - uma mão um voto-, ligando-os intimamente às organizações da população trabalhadora de fora da USP, é que conseguiremos mudar as prioridades e derrotar a ditadura que vive na USP.

Um debate no movimento sobre que estrutura precisamos


Impregnada até a medula com a mentalidade militaresca e opressora, a estrutura da USP não pode se manter parcialmente, como dizem correntes como o PSOL , ao defender “Voto para reitor”, ou se transmutar numa semi-democracia, com “paridade” (peso de voto igual para professores, trabalhadores e estudantes, excluindo os terceirizados) para a direção da USP, como diz o PSTU, ignorando o peso real dos setores na USP.

Tais bandeiras, apesar de entrarem na discussão acerca da necessária democratização da USP, mantém a distorção existente na representação na Universidade e, assim, não golpeiam até o fim em seu caráter antidemocrático.

O voto para reitor, defendido pelo PSOL, sem questionar ou deixar claro a proporção da comunidade na direção da Universidade, ao invés de colocar em pauta uma luta consequente pela democracia na USP, trata de desviar sua energia, criando ilusões de que “um Reitor” mais generoso ou “democrático” pode garantir os rumos distintos que precisamos dar a USP, substituindo um governo/gestão dirigido pela comunidade por este cargo de “iluminado”, que é, historicamente, um cargo de “intervenção”.

Num sentido parecido, a paridade, defendida pelo PSTU, estabelece a luta por uma semi-democracia na USP.
Ao levantar a bandeira de uma proporção absolutamente igual entre professores, trabalhadores e estudantes - sem mencionar uma palavra sobre os terceirizados-, tratam de manter a mesma distorção na representação que hoje é funcional à implementação das iniciativas privatistas, além de fortalecer uma noção meritocrática, de prestrígio, de que os “professores”- sabe-se lá porquê - precisam ter peso maior na definição das prioridades da USP, seguidos dos estudantes e trabalhadores.

É uma perigosa armadilha lutar por um projeto de “paridade”, sobrevalorizando os professores, em oposição a todo o restante da comunidade USP.
Sua visão desconfia que uma gestão proporcional de toda a comunidade - que, funcionando por voto universal, por seus números, teria maioria estudantil, com trabalhadores e professores em seguida-, colocaria a USP fora dos eixos de um projeto que derrubasse o elitismo e isolamento históricos, justamente porque seria dirigida não pelos “iluminados professores” mas... pela maioria da comunidade USP e pelo projeto político que convença esta maioria!!!

Tais correntes, em níveis distintos, são uma expressão clara de ceticismo elitista! Ao não conceber concretamente o potencial da aliança entre os trabalhadores, professores e estudantes, dialogam com suas próprias dúvidas, levantando “demandas mínimas possíveis”. Deixam de lado, assim, todo o dito “radical”, como as bandeiras pelo Fim do vestibular, a luta por um governo dos três setores com voto universal e consequente maioria estudantil, a luta contra a terceirização, esquecendo as necessidades da maioria da população de fora da USP e a necessária conquista de uma legítima aliança operário-estudantil e popular, apontando nosso movimento no sentido do povo pobre e trabalhador, buscando dizer-lhes a verdade e construir a luta mais profunda. 



Ao seu lado, no entanto, encontram-se setores ainda mais desvairados, como o MNN- Movimento Negação da Negação-, que, posando como o supra-sumo revolucionário, propõe um projeto “subversivo” enlatado para o consumo imediato: A DESTRUIÇÃO(sic) DA UNIVERSIDADE SHOPPING Burguesa! Com esta formúla alquímica, propõe uma luta apesar e contra toda e qualquer idéia de reforma, se colocando contra Cotas, contra o Fim do vestibular, contra o aumento de Verbas para a universidade e educação, contra mais circulares, contra mais moradias estudantis, contra mais medidas de permanência estudantil e, assim, passo a passo colocam-se contra os interesses e necessidades dos trabalhadores.
Além do elitismo, aqui está a concepção de um grupo de estudantes com nenhuma ligação com os anseios democráticos da grande parcela dos trabalhadores.
Apontam, de dentro do mundo brilhante de marfim, sua miséria, mas advertem o pecado cometido pelos que ousam querer entrar e conferir..

De nossa parte, lutaremos para convencer as dezenas de milhares de estudantes e os milhares de professores e também trabalhadores de que um projeto de Universidade progressista e que avance para uma outra perspectiva da realidade, que tenha bases não na ganância dos acordos milionários de gabinete, mas na solidariedade e cooperação entre os trabalhadores e oprimidos é o projeto dos e para os trabalhadores.

Lutaremos por uma USP livre dos burocratas crias da Ditadura, que pense planos de Obras e arquitetura para os que mais precisam a partir da Poli e FAU, construindo moradias dentro e fora da USP; Medicamentos eficientes e quebras de patentes para garantir o tratamento e distribuição aos trabalhadores e membros da comunidade USP a partir da Farmácia e Química; que pense o questionamento da ideologia da opressão aos trabalhadores e coloque-se a pensar, formular e difundir a doutrina da emancipação moral, sexual, social, intelectual e muito além destes a partir das humanidades; e, na qual, sob o cadáver do último resquício da ditadura militar, possa construir uma “USP dos trabalhadores e do povo pobre” e não dos “rankings e elites”.

Isso, só é possível com o também débito da luta pelo fim do Vestibular, para que os muros da USP caiam definitivamente e a Universidade, hoje burguesa, seja tomada pela maioria da população, pobre, negra e trabalhadora e seja um centro vivo de progressismo, luta e organização por uma realidade distinta e superior.

Tal como o que resta da ditadura Militar, a estrutura de poder da USP- um obelisco reacionário-, precisa ser demolida e transformada radicalmente como condição para a “fundação” de uma nova Universidade, democrática, livre e da maioria.
Alexandre Vannucchi Leme, Merlino, Stuart Angel e todos os nossos caídos, cujo sangue se encontra nos armários de muitos membros da burocracia do estado e da USP seguem conosco, até a vitória!

AVANTE!






terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Policial ameaça com arma e agride estudante na USP; Na cracolândia e na USP: aos indesejáveis um só metodo; O porrete!

Policial ameaça com arma e agride estudante na USP;

Na cracolândia e na USP: aos indesejáveis um só metodo; O porrete!



Após todo processo de luta desencadeado na Universidade de São Paulo durante o fim do ano, cujo estopim foi a tentativa de prisão de 3 estudantes no dia 27 de outubro, seguida de diversos exemplos do papel repressivo da Pm no campus, como a invasão por 400 policiais que coroaram o projeto da reitoria de avançar na militarização da USP, a PM mostra, mais uma vez, aos que duvidaram, a que veio.

Neste dia 9 de janeiro, Nicolas, jovem negro, estudante de Ciências da natureza da Usp foi agredido aos tapas e ameaçado com uma pistola por um destes supostos “policiais preparados” para lidar com um ambiente “comunitário”.

Toda a ação foi filmada -Aqui- e, como era de se esperar, tanto a reação do policial - que aos berros dizia que era “Polícia” e não tinha feito nada de errado nem temia a corregedoria- quanto a posterior abordagem da mídia, em caracterizar Nicolas como um “suposto” estudante, já eram esperados por aqueles que se enfretaram com exemplos, truculência e repressão deste tipo por mais de 3 meses. 

O que está por detrás da abordagem deste jovem negro, “mal-vestido” e de Dread/Rastafari na Usp?

Nicolas, não coincidentemente foi abordado pelo policial que, naquele momento e em geral, seguiu um procedimento da PM, que não é exceção nas divisões de elite dos 400 que invadiram a USP ou dos 100 que entraram na cracolândia, nem nos tão “preparados policiais comunitários”. Esta é a política do racismo e da discriminação entre “normais” e os “indesejáveis” que norteia a Polícia.

A Pm é uma instituição reacionária, autoritária e violenta, filha direta da Ditadura Militar. Nas estrelas presentes em seu brasão de armas de mais de 181 anos, comemoram a repressão a Canudos - levante Popular organizado em contraposição à ordem vigente-, às greves operárias de 1917 e comemoram até mesmo o Golpe militar de 1964.
Isto porque seu caráter, a despeito do que dizem os defensores desta democracia dos ricos é o caráter de um organismo a serviço de uma classe: a dos patrões.
Isso implica que seu principal objetivo é garantir os interesses, lucros, empresas, locais de estudos e posses destes grandes magnatas e senhores, por quais vias forem necessárias.
Não é preciso procurar demais. Basta observar o papel que cumprem nas periferias de todas as cidades, nos morros cariocas, nos conflitos no campo, nas greves de trabalhadores em que dissolvem piquetes- o que já ocorreu na USP, em Jirau, com professores, etc-, e, não surpreendentemente, nas Universidades e cracolândias por todo o país.

Nicolas, um jovem negro e pobre não poderia ter outro destino que não ser abordado e agredido tanto pela PM, quanto pela reacionária guarda universitária, a serviço da reitoria. Este é o método comum em todas as periferias e, na Usp, uma universidade pensada, organizada e cujo acesso e permanência são somente acessíveis às camadas mais altas da sociedade, com tais “elementos”, só poderia se expressar o racismo corriqueiro da polícia cujas raízes remetem ao escravagismo do império.

O “indesejável” ao se dirigir ao capataz, tal como uma besta que se dirige ao ser civilizado, deve ser neutralizado e eliminado para garantir a manutenção da ordem imposta pela casa grande. Esta é a lógica da ditadura militar escravagista e é a serviço disto que está a repressão na USP que conta, hoje, com 73 presos e processados políticos e 6 expulsões por lutarem contra tal projeto.

A Reitoria da USP, com seus quadros e monumentos em homenagem à ditadura militar visa impor um choque de ordem aos “elementos indesejáveis” na USP, tal como o Governo do estado impõe sua ordem aos “indesejáveis” da Cracolândia!
Há alguns meses a reitoria tentou iniciar a construção de um dito “monumento à REVOLUÇÃO de 64”, comemorando a data memorável do golpe da ditadura... Igualmente foram veiculados imagens de quadros de “presidentes” reitores da ditadura Militar, como Gama e Silva, nas salas da reitoria... Não bastassem estes elementos tão emblemáticos, numerosos são os exemplos de ataques aos estudantes e trabalhadores na USP.
Demissões, agressões, ameaças com armas de fogo, PM's atacando piquetes de greve de trabalhadores, amordaçando estudantes, etc, são imagens que caracterizam a USP no último período, sendo os últimos meses exemplos cabais disto.

Já está mais do que claro que a presença policial no campus da USP tem um sentido político e repressivo. É uma encomenda especial do Governo do estado, aplicada pelo carrasco Reitor Rodas, para calar os setores que questionam um projeto de Universidade racista, elitista - que exclue a maioria da população com seu vestibular, em especial os negros da periferia-, e voltado aos interesses das grandes empresas.
Historicamente, um setor de resistência tem se organizado e combatido este projeto, no sentido de buscar abrir o debate acerca de que Universidade precisamos e a serviço de quem. São calados às balas, bombas e prisões, tal como os capatazes escravagistas tratavam suas propriedades fugitivas.

Paralelamente a isto, Alckmin e o oficialato da Pm prepararam um plano de higienização social maquiado como “revitalização” da região conhecida como cracolância, cujos objetivos obscuros podem muito bem estar a serviço de uma “limpeza social” pré-olímpiadas as custas da opressão e repressão de todos os moradores da região, vítimas desta miséria de vida que nos impõe.

Por lá, os métodos são bem parecidos. Não faltam balas, tiros, tapas na cara, ofensas e ameaças.
A PM tem estabelecido uma presença ostensiva contando até mesmo com o aparato da tropa de choque e da cavalaria - verdadeiros “capitães do mato”, caçadores de escravos modernos- para garantir que as “vias sejam liberadas” e que, pela “dor e sofrimento”, segundo as palavras do próprio “secretário de defesa da cidadania”, possam “superar” sua situação miserável.

As imagens de terror, armas nos rostos, socos e pontapés e denúncias de execuções sumárias por parte da PM também não faltam, assim como em todas as periferias e nas lutas populares. A justificativa do senso comum e das ditas “autoridades” é que são viciados e um setor “descontrolado” da sociedade.

As razões de tal repressão, sabemos, advém de que aos capitalistas é necessário esconder estes pobres miseráveis, os quais são a expressão mais aguda e mais cruel de um princípio do capitalismo: Ou você “vence” na vida e lucra, ou está abandonado a sua própria sorte por ser um perdedor.
Abandonados, não lhes resta nada além das drogas, da miséria, da prostituição e das ruas.
São a expressão concretizada do destino que o capitalismo reserva a toda civilização. O abandono, isolamento e a miséria.
O Estado, num ato de bondade cívica aplaudido por todos os meios reacionários, vem lhes dar um presente de ano novo e um “incentivo à civilização” na forma de lacrimogênio.

Pela Usp, o núcleo de consciência Negra - NCN- cuja resistência perdura há vários anos e tenta ser um contraponto à política segregacionista e elitista da Instituição e seus dirigentes “máximos”, tem sido ameaçado de perder sua sede e não ter para aonde ir, para, assim, dar lugar a um projeto de “revitalização” das estruturas...que não incluem o único núcleo de Negros!!!

Alguma semelhança?


A ditadura Militar, abençoada pelo PSDB e pela Reitoria da USP tem de acabar!
Não é de se estranhar que a Polícia aja desta maneira. Na realidade, a ação repressiva faz parte de um projeto de Universidade- e de estado- que vira as costas para a maioria trabalhadora da sociedade e busca submeter os trabalhadores e estudantes de baixa renda e resistentes a esta elitização.
A terceirização, que estabelece trabalhos exaustivos e salários de miséria, com assédio moral, etc; as demissões que continuam de maneira arbitrária; expulsões de alunos; processos e demissões inconstitucionais; tudo isto é o exemplo de uma estrutura arcairca e retrógrada, cuja manutenção tem a benção de um governo igualmente autoritário e retrógrado como o do PSDB e sua corja, cujas desocupações de sem-teto, repressão a greves de trabalhadores e a movimentos populares são bem conhecidos de toda a população.

A comunidade Universitária, em nenhuma instância, pode se fazer representar de maneira relevante e, sendo assim, cabe a um pequeno grupo de seletos iluminados, todos orbitando a figura do REItor decidir o que, quando, onde e de que maneira se organizar, financiar e estabelecer as prioridades da USP.

De 100 mil membros da USP, 300 tem poder de decisão. Dos 12 milhões de cidadãos de São Paulo, o governo do estado - que transfere Bilhões para grandes empresas e seus negócios-, através de seu vestibular, permite que tenham acesso à USP apenas 9 mil.
Nenhum deles será da Cracolândia, poucos serão negros e da periferia e os que forem, certamente, sofrerão com falta de condições para manter seus estudos, falta de moradia e muita repressão quando lutarem por algo neste sentido...

Recentemente, o movimento estudantil da USP tem se colocado em pé de questionamento, organizando ações e uma greve para garantir a saída da PM do campus tendo avançado no questionamento da estrutura do acesso e de poder na USP.
É necessário avançar na luta por uma Estatuinte que varra da USP estes dejetos ditatoriais, debata e decida sobre os objetivos, problemas e diretrizes da USP, que precisa estar a serviço dos trabalhadores: a maioria da população.

Igualmente, só um governo da Usp, baseado em conselhos dos estudantes, trabalhadores e professores, na proporção de sua presença na universidade, ligados as organizações dos trabalhadores e movimentos populares será capaz de organizar uma Universidade não elitista e que se desprenda da Lógica de benefício ao mercado e exclusão da massa de baixa renda que verdadeiramente financia a universidade pública.

Por enquanto, nas imediações do belo campus Butantã, dentro do circo de operações dos magnatas hipócritas do governo, Nicolas, agredido e ameaçado com tapas e uma pistola, é levado a crer que os policiais agressores serão, supostamente, afastados numa manobra hipócrita que visa maquiar o verdadeiro sentido “agressor” da repressão; há poucos metros da Universidade, na favela da São Remo, Cícera, trabalhadora terceirizada, assassinada pela Pm com um tiro na cabeça, não tem tanta sorte.

Enquando na USP, há a agressão e o suposto “afastamento”, na favela São Remo, há o corpo negro estirado no chão.

Numa, maqueia-se a segregação social que, inusitadamente, é captada pelas câmeras, noutra, as câmeras e imagens não resistem ao massacre cotidiano e, por lá, a "autoridade" não tem nada a esconder. É só o bom e velho "Mocinho e Bandido": De cinza é "mocinho"; qualquer tom de negro, é inimigo. Uma dica da ditadura.

Dois lados da mesma moeda. Duas ações da mesma hipocrisia. Uma ação de classe de costas para a outra. A ação da classe dos que querem eliminar as vozes que distoam, as palavras que discordam e os oprimidos que resistem.

NÃO PASSARÃO!