sexta-feira, 24 de abril de 2020

Queimando fusível.

Apertaram o botão pra queimar o miliciano. Barragem da Globo e "frente única" da mídia burguesa.
A esquerda vai embarcar sem nenhuma delimitação, vai vender a queda de Bolsonaro por alguma via, como vitória, ajudando o teatro (ela mesma nem compreende ou finge pra se manter segura); Mourão assume como a cara da moderação (o cara que curte um Ulstra e a "democracia que começou em 64") contra o "mal de todos os males" Bolsonaro.
Moro, que aparece como "incorruptível", o paladino da lava jato, vai aparecer no multishow, gnt, entrevista, carreata, daqui até 2022 dois anos de campanha eleitoral.
Mourão lá em cima, Bozo enterrado, esperam dar um "reboot" no sistema.

Agora voltou tudo ao normal, tá gente? Não tem mais o maldoso mor, só os canalhas invisíveis ou pouco conhecidos que estavam com ele até agora.

O plano fundamental: quebrar a organização do trabalhador, diminuir o preço do trabalho (reformas trabalhista e previdenciaria, ataque ao direito do trabalho) e ampliar a subordinação da economia brasileira primarizada aos interesses gringos (exporta soja e importa máquinas). São business, afinal. Fazer o país atrativo para a superexploração das multinacionais, quebrando a renda e vida dos peões e oferecendo carne barata no mercado. Se comprometem a nao tentar nenhum passo industrializa te autônomo: a gente vende baba e compra maquinário, tá tio Sam? Tudo a pleno vapor.

Em 2022, "nos braços do povo", o grande defensor da lava jato, redimido de qualquer mancha causada por intercepts, pega a taça do "moderado" mourão e, assim, esperam que essa enorme crise de representatividade e legitimidade das instituições, que vem desde 2013, tenha enfraquecido. Reboot completo. Exploração ampliada e renovada.

Tudo isso em cima de cadáveres e valas comuns.
E tem gente que nem vai se ligar que, no fim, todo esse processo foi, é e seguirá sendo tutelado pela força das armas (como sempre, mas nesse caso, de forma evidente) do exército e demais forças. Não existe espaço pra oposição não domesticada e satisfeita com o banquinho da minoria.

Vão passar a renovação da lei antiterrorismo e monitoramento (que já tá rolando em SP) agressivo nas redes sociais e provedores de internet (um dos projetos exige CPF pra ter rede social e programa do governo pra monitorar cada acesso de cada provedor de internet). Monitoramento e arapongagem voltada a qualquer mexida de músculo nas periferias, sindicatos e locais de trabalho.

E qualquer ilusao nessa "democracia" ou "estado de direito", que nunca chegou aos pobres e explorados, vai ser mais danosa e criminosa pros interesses do povo do que tem sido.
A república tutelada de 88 gerou a ditadura velada de 2020 em diante.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/ala-militar-se-ve-traida-e-discute-se-segue-com-bolsonaro.shtml

terça-feira, 21 de abril de 2020

O nó histórico dos trabalhadores na epidemia


A epidemia avança.
Longe de proteção e auxílio, o que encontramos é um Estado que não testa, logo, não tem, nem oferece clareza sobre qual é o real número de infectados e mortos e cujas medidas todas se encaminham a transferir verbas trilionárias para bancos, endividar pequenas e médias empresas e trabalhadores e avançar em reformas vendidas como "incentivo a gerar empregos", mas que são preparação para o novo normal da superexploração do trabalho. 

Governos que regulamentam a superexploração enquanto nem sequer entregam o vale miséria prometido de 600 reais aos trabalhadores desesperados. O resultado vemos: bairros nobres com menos mortes e pobres com hospitais lotados e mortes cada vez maiores.

Sem saídas,  lutamos como podemos. Entregadores de aplicativo fazem manifestações pelas ruas das cidades por equipamentos de proteção e remuneração digna, trabalhadores do telemarketing se rebelam contra sua determinação como essenciais (ao lucro ou ao combate ao vírus?), desempregados e informais nas favelas buscam sua autoorganização e se viram na base do "nós por nós". 

Paraisópolis guia esse caminho, com milhares de trabalhadores organizando suas ruas e necessidades sanitárias e alimentares na favela. Os "presidentes de rua" materializam essa ação autoorganizada e direta.

Não existe solução para esta crise, em suas dimensões econômica e sanitária, pelas mãos destes governos e da elite burguesa.

Ainda que aparentem disputar, governadores, congresso e Bolsonaro, convergem no fundamental: aproveitam a subnotificação causada pelo acobertamento e falta de testes para manter a exploração absurda dos trabalhadores, manter a máquina econômica girando mesmo que isso signifique infecção em massa e resgates trilionários aos bancos e grandes grupos. 

Não fosse isto, no Epicentro da Pandemia em São Paulo, Covas e Dória, marketeiros profissionais, não estariam mantendo toda indústria funcionando e, na última semana, não permitiriam que igrejas e lojas comerciais de diversos tipos estivessem abrindo. 

O isolamento social, a única forma de proteger a população do vírus enquanto não houver vacina e tratamento, está por um fio: sem salário para ficarem em casa, com a pressão de bolsonaro diminuindo a gravidade dos fatos e com os patrões pressionando pelo fim do isolamento, cai o índice de isolamento (devidamente monitorado pela inédita quebra generalizada de sigilo de informações de localização pelas operadoras de celular para o Estado, medida autoritária que vai seguir depois disto tudo)

Estamos num nó histórico.

A consciência de classes dos debaixo, extremamente atrasada, não avança caso não existam exemplos de novas formas de organização, impulsionados pela situação econômica. 
Por outro lado, as novas formas de organização (que aparecem embrionariamente em paraisopolis, entregadores de app, luta nos call centers) não conseguem se generalizar e avançar para patamares políticos, acima das explosões espontâneas de luta pelas condições mínimas, se a consciência de classe dos trabalhadores não avançar.

A situação de desagregação econômica exige ações de solidariedade e compromissos mútuos entre empregados e desempregados (e hoje entre as diversas subcategorias de trabalhadores).

Hoje por hoje, no entanto, as grandes centrais sindicais como CUT, CTB, Força, junto de seus partidos, se fecham em suas redomas e se resumem a dois tipos de ação: teatro parlamentar e falatório de internet. 

De nenhuma maneira, e nisso estão acompanhados das organizações de esquerda menores, se ligam aos trabalhadores citados, que se rebelam em meio a este absurdo. Patrões demitem milhões, cortam salários em 70%, nada os leva a fazer nada além de notas de repúdio.

Não é que apenas não organizam nada, nenhuma ação, nem mesmo de caridade ou entrega de alimentos para os trabalhadores desempregados e informais, absolutamente desesperados nessa situação. 

É que não movem um dedo sequer para criar estes laços mútuos de solidariedade entre empregados e desempregados. Entregam assim dezenas de milhões no colo da extrema direita bolsonarista e suas mentiras

E porque isto seria importante?

Além do evidente sentido de auxílio básico por organizações de trabalhadores para aqueles sem qualquer alternativa, tendo de escolher entre a fome e a infecção, há um aspecto estratégico incontornável:
Os debaixo só vão encontrar uma solução e gestão para essa crise sanitária e econômica quando e na medida em que formarem uma UNIDADE dos debaixo, explorados, trabalhadores.

Só esta unidade tem força e interessa a todos nós sofrendo o grosso da crise, em sangue e suor. Se depender da elite economica, seremos apenas buchas de canhão, números em planilhas fazendo a conta engordar, enterrados em valas comuns como no Equador, Itália ou Nova York.

Aproveitar a experiência citada nestas lutas pontuais, generalizar os métodos de Paraisópolis (imaginemos a escola de guerra e o avanço de consciência entre nós peões com as fábricas formando "presidentes de seção", quebradas formando "presidentes de rua", call center formando "presidentes de sala de operação", etc) apontam para um projeto de poder, uma forma de sociedade distinta e para organismos concretos sob os quais poderia se basear a ação e organização dos debaixo. 

Essa luta seria de início pela manutenção das condições de saúde e alimentação nas empresas que funcionam, nos bairros, nas quebradas. 
Mas inevitavelmente  entraria no caminho político, pois iria provocar reações agressivas do poder estatal e para-estatal. 

Imaginem o desespero das frações da burguesia com uma explosão de autoorganização nas quebradas, locais de trabalho e fábricas? Imaginem se estes "presidentes" passam a se organizar juntos, tirar ações conjuntas, exigir reivindicações juntos, impor ações, organizar as fábricas para produzir bens contra o vírus, tomar prédios para que os sem casa se protejam, começar a questionar a base da sociedade: a propriedade burguesa acima da vida operária? Isso é intolerável para o comando capitalista.

Ensinaria muito a um nascente corpo de direção dos trabalhadores.
Levaria a implantação desigual em cada lugar (num bairro sem trafico seria de um jeito, num com tráfico de outro, com milícias de outro), a necessidade de manobras e desvios, a muita organização e solidariedade. 

De toda forma, sem sombra de dúvida faria avançar duas coisas fundamentais: a consciência de classe e o protagonismo da classe trabalhadora na gestão da crise, por meio de gerir a sua vida durante ela e buscar atender os seus interesses sem a mediação desse organismo que NÃO o serve: o Estado burgues, que só serve aos patrões, como essa crise está provando dia a dia. 

E esse caminho seria fundamental para cortar o nó e também materializar de uma frente única na ação, por parte de toda esquerda, retomando os laços quase inexistentes dessa com a multidão de explorados. Nesse espaço a disputa dos revolucionários seria dura, mas enormemente instrutiva, formadora para seus quadros e para todos trabalhadores.

Apenas uma unidade dos debaixo, trabalhadores, desempregados, pobres sem renda e favelados, poderia apontar para uma gestão da crise que preserve suas vidas e, nessa luta, conduza inevitavelmente para um outro projeto de sociedade e vida.

Fora disso, o que sobra, no entanto, é teatro parlamentar e imobilismo sindical que, com o passar dos dias e da gravidade da situação, tendem a ficar para trás e dar lugar as explosões espontâneas dos oprimidos. 

Tudo reside, então, na capacidade dos e das que se reivindicam revolucionárias se prepararem para fomentarem, ajudarem a organizar, se somarem e conduzirem este tipo de ação por uma outra forma de sociedade. 

Nesse caminho, abandonar os "salva vidas" do sistema é imprescindível. Não há reforma duradoura nesse sistema. O Estado de "direito" é uma fábula que nunca chegou, menos ainda agora, aos trabalhadores e pobres. O caminho se aponta em cada uma das lutas que surgem para a superação desse sistema e regime político.

É preciso, no momento preciso, organização e ação.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Darwinismo social como política de Estado nos tempos de Corona

O Darwinismo social como política de Estado nos tempos de Corona

O Darwinismo social, esse conjunto de idéias arcaicas, baseadas numa tentativa de transpor conceitos da biologia ao mundo social, de "sobrevivência do mais apto", sempre serviu a justificação de políticas em que as populações mais pobres, os trabalhadores, eram o foco principal e vulnerável.

Tal idéia defendia que determinadas pessoas possuiriam características biológicas e, importante, sociais, as quais as fariam superiores, sendo assim, mais aptas a sobrevivência. O controle demográfico, ou seja, da quantidade e distribuição da população, deveria e se daria dessa forma.

Uma sociedade dos mais aptos então deveria ser fomentada através de políticas públicas.

Não espanta que tal idéia, absurda e reacionária, tenha sido base para Eugenia (manipulação e superioridade de determinados genes humanos), o fascismo e o nazismo.

Numa sociedade dividida em classes, divisão esta que os governantes burgueses tratam de sempre maquiar e negar, o Darwinismo social não é nada além de genocídio e extermínio, orientado pela classe dos indivíduos.

Hoje, dia 2 de abril, com as bolsas de valores em alta puxada pela trégua anunciada entre EUA e Rússia em relação a produção e o preço do barril de petróleo, trégua nada banal e que revela a profundidade da crise econômica provocada pelo vírus que não permite uma aventura comercial com prejuízos orçamentários a todos países, notícias escabrosas tomam os jornais:

No Brasil, já pelos 20 dias de paralisação parcial por conta do Vírus, não existe um sistema unificado e uma orientação central para a notificação dos casos confirmados, infectados e suspeitos de infecção por Corona Vírus.

Os principais jornais do país, após pressão de enfermeiros, vazamento de documentos orientando a não notificação e alerta de médicos, demonstram que a subnotificação é GIGANTESCA e generalizada no país. Em alguns casos e cidades, para cada caso confirmado são 15, 20 e até 40 casos não notificados.

Seguem, no entanto, governos e mídias, divulgando os nitidamente falsos números de apenas 6 mil infectados e 204 mortos até o momento.
Centenas de valas são cavadas nos cemitérios já abarrotados, carros frigoríficos alugados para transporte de corpos, enterros sem velório, sepultamento sem atestado de óbito e, assim, caminhamos para um descontrole completo da epidemia no Brasil.

Pelo planalto, o testa de ferro miliciano, apoiado e/ou orientado por parcelas importantes dos empresários, banqueiros e, com ênfase necessária, militares, continua a minimização da epidemia e força, por todas as vias, o afrouxamento do isolamento social.

Seja pelo pronunciamento irresponsável, pela deturpação da fala do presidente da OMS (organização mundial de saúde), pelo atraso da liberação da indispensável e miserável ajuda de 600 reais, por suas andanças nos comércios, incentivando o desrespeito a quarentena e o povo a se arriscar e contaminar, todos seus atos são para que "a economia" se coloque acima das vidas.

A subnotificação é, no entanto, a base real e criminosa para esta política que orienta as forças dominantes na política.

Não se enganem os que pensam que os governadores, com Dória e seu marketing a frente, divergem e exercem pressão contra esta política. Não apenas seguem abertas fábricas, diversos comércios, callcenters, serviços que nunca foram declarados essenciais mas agora são, como muitos, dentre eles com mais ênfase Dória, bateram palmas para a MP do corte de salários e suspensão de contratos aprovada ontem.

Sem que a massa de trabalhadores tenha clareza do enorme número de infectados, na casa das dezenas de milhares segundo projeções, além do número muito maior de mortes que não são notificadas por Corona, fica muito fácil manipular a opinião pública e forçar a exposição da base da pirâmide social a contaminação.

A partir daí, o Darwinismo opera segundo a lógica.
Os que tiverem a sorte de seu sistema imunológico resistir e algum recurso para se proteger/isolar por algum tempo, sobreviverão; os que não tiverem, infelizmente, morrerão e, muito provavelmente, sem velório, abraço ou despedida, nem sequer serão contabilizados nas estatísticas de mortos pelo vírus.

Isso, óbvio, não se aplica aos da estirpe de Justus, dono do Madero ou qualquer figurão executivo empresarial ou estatal. Em seus bunkers, iates e mansões, apenas despacham, a distância, para que os criados lhes tragam alimentos, enquanto acompanham o andamento de seus rendimentos e lucros.

Não é preciso, porém nunca é muito, lembrar que vivemos em um país em que 104 milhões (a metade da população) vive com 413 reais, com mais de 12 milhões de desempregados e 40 milhões de informais.

Desse "caldo", é claro, que a proporção daqueles em condições de serem "aptos", nesta seleção nada natural, será muito menor do que neste topo parasitário e assassino, onde reside a elite econômica do país.

Sem testagem massiva, identificando os focos de disseminação, os contaminados e aqueles suspeitos em seu círculo de convivência, com uma quarentena rígida garantida com salários pagos a todos trabalhadores para que fiquem em casa com sustento, não há nenhuma saída séria contra o vírus. E empresários e governos sabem disto.

Impressiona, no entanto, o papel desempenhado pelos sindicatos e as esquerdas, sejam as liberais, sejam as ditas revolucionárias e até mesmo a centro esquerda social liberal, que caracteriza o PT.
Estão de quarentena imóveis.

Com os trabalhadores, literalmente, sendo sacrificados em praça pública, com demagógicas medidas de "proteção ao emprego", que na verdade são alívio de custos e proteção ao lucro do patrão, com cortes de 70% nos salários, demissões em massa e assédio generalizado para o peão ir ao trabalho, o que fazem estes "representantes do povo"?

A maior central sindical do país, a CUT, paralisada, não organiza uma ação, nem a mais mínima...
Não tem uma campanha de doação de cestas básicas sequer em seu site.
A dita oposição parlamentar negocia no covil de cobras, a câmara de deputados, pela aprovação do "vale miséria", muito abaixo das mínimas necessidades de uma família e, quando muito, pedem encarecidamente para que Bolsonaro renuncie.

Nenhuma greve geral, nenhuma tentativa para que aqueles mais afetados, os peões, opinem e tenham protagonismo na gestão desta crise, para que não sejam buchas de canhão, é feita.

Enquanto isto, o vírus, trazido pelo governo e parte dos viajados membros da alta classe média e burguesia, começa a penetrar as fronteiras das periferias, favelas e fazer vítimas entre pessoas que, amontoadas em 5 pessoas em um cômodo e cozinha, não possuem água, saneamento e tem de se arriscar com o vírus pois sabem que a morte é certa.

Neste Malthusianismo revisitado, não há recursos para pagar os salários dos trabalhadores para que fiquem em quarentena, mas há bilhões para dar aos bancos, para que, com este dinheiro público, emprestem, endividem o povo e pequenas empresas e, assim, lucrem com juros.

Também é preciso cortar salários, mas mexer em um centavo que seja no lucro acumulado, graças ao trabalho do peão, nos caixas das grandes empresas e bancos, isso já é impossível.

O Darwinismo social que acontece diante de nossos olhos é um dos crimes mais inomináveis que a elite econômica, com a cumplicidade da grande mídia burguesa e dos governos cometem contra o próprio povo.

Um levante dos debaixo, greves selvagens contra o corte de salários, pelo confisco dos lucros, paralisações gerais pela isenção de cobranças de contas, pela indexação dos salários a inflação, para que subindo preços suba o salário, estas são a única via de abrir esta caixa preta de informações, para que saibamos a gravidade dos fatos e, assim, arranquemos, de quem fez fortunas a nossas custas, os recursos para sobrevivermos, nós e nossos parentes.

Ou isto ou, entre demagógicas medidas de quarentena meia-boca e dados falsos, veremos milhões de mortes, com caixões lacrados, dados escondidos e lágrimas distanciadas.