sábado, 16 de maio de 2020

Como desmontar demagogia bolsonarista de whatsapp?

*texto bolsonarista de whatsapp criticado está em anexo no final, para quem tiver paciência.

Chega a ser enfadonho, a esta altura, termos de ler, nós, os verdadeiros esmagados nesta combinação rara de epidemia  e recessão mundial galopando para uma depressão, a demagogia ser destilada com ar tão hipócrita e descomprometido.

É ainda mais desprezível um texto cuja citação final é de ninguém mais, ninguém menos que "Bob Fields", ou Roberto Campos, o ministro do planejamento do general Castelo Branco.

Admiradores de ditadores e autocratas, ou aqueles que os adulam, com ou sem pagamento, sempre encontram o caminho de deixar sua marca. Nem que seja apenas implícita.

Não faria muito sentido despender linhas e mais linhas perguntando ao preocupadíssimo Sr. Felipe se Roberto Campos, economista ministro da Ditadura Civil-militar brasileira responsável por milhares de mortos, desaparecidos e torturados, que tanto o inspira, se indigna com tanta ênfase com a condição alimentar e de trabalho dos trabalhadores durante a ditadura.

Veríamos tamanho cuidado do senhor Bob com aqueles que perderam a vida ou foram torturados, humilhados, demitidos e exilados? Veríamos seu apoio magnânimo diante de trabalhadores, com salários corroídos pelo arrocho (você sabe o que é isto, caro Felipe?) em greve, lutando pelo pão?

E ao autor disto, que tenta chamar de texto, citando tão orgulhosamente personagem obscuro da história brasileira? Importou a vida dos que ficaram pelo caminho, assim como hoje, em valas comuns, por não aceitarem o domínio e CONTROLE unilateral sob suas vidas exercido por velhacos generais que nunca foram eleitos por ninguém?

Não. Na realidade não importam. Assim como a vida dos trabalhadores de hoje também não importam a eles.

Nas letras de Felipe Fiamenghi, todas as estatísticas servem a uma mesma e só senhora: a demagogia protofascista.

Como a melhor forma de se defender é antecipar o mais óbvio ataque, o ilustre autor já trata de dizer, lá pelas tantas, após bradar as miseráveis condições de vida do povo: "não sou fascista... Só porque defendo acabar com a quarentena".

Vestido de paladino da liberdade, agita no ar a óbvia pobreza que acomete o povo brasileiro. Cartada velha. Ele acha mesmo que os fascistas nunca tentaram isto?

Ataca as influenciadoras digitais e patricinhas de classe média (a maioria delas, inclusive, fazem parte do clube nada seleto do Bolsonarismo), isoladas com dinheiro do papai enquanto os trabalhadores se expõe ao vírus, usando contradições reais, para escapar do fundamental.

Chega até a jogar ao ar os dados das milhares de mortes por essa fantasmagórica entidade chamada "violência urbana".

Um professor de jornalismo ou relações públicas não teria feito um texto melhor exemplificando o uso da hipocrisia e demagogia. Isto é quase uma obra prima do gênero!

Felipe não menciona que estamos no país em que morre um preto a cada 23 minutos. Em que as polícias militares matam jovens pretos nas periferias como moscas, jogando seus corpos em córregos.

Matam quando vão pegar comida; matam quando estão com guarda chuva nas mãos, quando estão com furadeiras, matam quando empinam pipa, matam adolescentes quando não recebem onarrego, fuzilam com 250 tiros carros com pretos, somem com Amarildos, Douglas, arrastam Cláudias...

Soubesse a proporção destes assassinatos, em nome desse pretexto genocida e falso para o controle social e racial chamado "guerra às drogas", Felipe tiraria o foco dos problemas "da violência urbana".

Afinal, é o que ele, como bolsonarista inconfundível, quer. Só que a violência só contra o peão.

Consciencioso, doutor Felipe, indignado (SIC), grita aos ventos contra a quarentena, ferramenta da "torre de marfim", ou seja, das dondocas que a usam para o fim sádico de, enquanto descansam, terem o enorme prazer de ver suas empregadas, faxineiros, porteiros e todos estes milhões "da classe C, D, E", tendo de sair para trabalhar e lhes servir, se amontoando nos ônibus e disseminando a infecção.

É inegável, é claro, que isto corresponda a realidade. Existem milhões de burgueses que agem exatamente desta forma, isolados em suas quarentenas místicas e sendo servidos por seus serviçais assalariados, a famosa "classe trabalhadora" (pra usar um termo historicamente mais preciso do que estas siglas de gabinete burguês).

Ocorre que, como tudo que venha dessa gente bolsonarista, o cheiro da hipocrisia é inconfundível.

Pra notar, basta procurar as dezenas de histórias de empregadas infectadas por patrões que as obrigaram a trabalhar, muitos deles, vejam só, bolsonaristas como Felipe, hoje indignados com a quarentena, com a diminuição dos lucros, com essa "histeria" e que, peguem o pulo, não entendem que "diminuir o PIB aumenta mortalidade". Ou quem trouxe da Europa o vírus foi o povão que Guedes humilha ao dizer que não tem nem que viajar de avião?

É isto mesmo! Este alpinista social, travestido de "redator de whatsapp", busca te convencer, sem falar diretamente, que mais vale o número de mortes com a infecção descontrolada, ou seja, sem qualquer quarentena, do que a que "pode vir" com a queda do PIB, ou seja, da riqueza interna do país.

E quem ele usa para justificar? A universidade de Chicago. Que coincidência! Não seria Paulo Guedes o ministro da justiça aquele que se chama de "Chicago Boy"?

Que este "Chicago Boy" tenha entregue um Brasil estagnado, com recordes de desemprego e trabalho informal, que tenha ACABADO COM A APOSENTADORIA do povo, destruído as relações de trabalho, imposto a lei de terceirização total, ou seja, destruído as condições de vida e trabalho, obrigado o peão a literalmente trabalhar até morrer velho, em 2019 e agora nos leve de cabeça para uma recessão economica, nenhuma palavra.

Onde está a mágica Felipe? Afinal, Guedes é "quem manda" na economia.

Ocorre que tanto Guedes quanto Felipe não dão a mínima para a sua vida - ou morte - de peão.

Os brasileiros estão de frente com a pior pandemia em 100 anos. As condições socioeconômicas já prenunciavam que por aqui tudo seria muito mais grave.

Favelas, salários baixíssimos, 50% do país sem esgoto, 60 milhões de pessoas endividadas. Façamos uma pergunta: tudo isso surgiu com a Pandemia? Veio do nada?

Só um abobalhado pode falar que criou 800 mil empregos (se denunciando como agente de Bolsonaro ao usar o "nós") diante da realidade brasileira.

Estes canalhas, pagos para falar como papagaios e enganar o povo, não mencionam que o Brasil JÁ era, antes da epidemia, o país em que 104 milhões de pessoas viviam com 413 reais por mês; em que 11 milhões de pessoas vivem com 51 reais por mês!!!; em que 13 milhões estavam desempregados, 5 milhões desalentados e 40 milhões na informalidade, ou seja, vivendo de bicos ou desempregados estão e estavam já cerca de 58 milhões de brasileiros (o que deve ser maior, já que estes são dados do governo).

Este país já era aquele em que o 1% mais rico, esta parcela na qual ou se enquadra ou busca se enquadrar Felipe, ganha 34 vezes mais do que os 105 milhões mais pobres. Não é uma,nem duas. 34 vezes.

Sofrerá amarga decepcão aquele que buscar encontrar tamanha indignação com a miséria e as condições dos trabalhadores e sobre isto antes desta data.

Esta indignação é apenas um teatro para esconder dois objetivos simples:

- Dar munição a Bolsonaro na briga ELEITORAL com os não menos asquerosos governadores, como Dória e Witzel.

- Forçar a barra para afrouxar a quarentena e obrigar o povo, esse mesmo com quem ele diz se preocupar por ser "obrigado" a ir para as ruas pois " não tem poupança", a trabalhar e continuar gerando lucro aos patrões.

Este tipo de sicofanta (pesquisa lá o que é isso Felipe) realiza todo um baile escrito, veste uma roupa de defensor do povo (como todo populista de direita) para dizer uma coisa muito simples: ele é contra a quarentena e quer o fim das "restrições autoritárias" para as pessoas circularem e trabalharem.

Não cabe nestas poucas linhas entrar na também absurda política dos governadores. Os trabalhadores tem de entender que isto é uma briga de patrões, burgueses, usando nossas vidas como armas eleitorais. Quem não dá a mínima para nós são todos eles, Felipe se, bolsonarista, Guedes e Dorias.

De toda forma é preciso salientar: Felipe, junto de Caio Coppola e tipos afins, fazem parte do grupelho bolsonarista que exige o fim de qualquer quarentena quando o Brasil, OFICIALMENTE, tem 250 mil infectados e 13,5 mil mortos pelo Covid19.

Coppola é particularmente asqueroso: dizia, há um mês, com risinho apodrecido no rosto e pressionando para acabar com qualquer isolamento, naquele circo que chamam de debate na CNN Brasil, que o máximo que haveria no Brasil seriam "8 mil mortes".

Estamos em 13 mil. Façam este número de mortes e infectados vezes 15, que corresponde ao número de casos não identificados, já que Bolsonaro, Coppola Felipe e sua turma se recusam a usar recursos para testar a população.

Temos então a verdade nua e crua: o Brasil tem entre 1,5 milhão e 4,4 milhões de infectados e dezenas de milhares de mortes, direta ou indiretamente (por falta de leitos para doenças "normais" que também exigem UTI), por conta da epidemia.

E exigem que acabemos com qualquer quarentena! Que todos, não só os que forem essenciais para o combate a epidemia, todos, circulem, passem, peguem, morram com o vírus. Só não mexam com o lucro e o PIB!

Falam que o povo é obrigado a trabalhar! Mas...obrigado por quem cara pálida? Pela "vontade"? Ou será pela fome? Ou pelas dívidas? Ou será pelos patrões?

Bancos, empresas e patrões foram salvos no primeiro dia desta crise. O governo entregou - respire - 1,3 TRILHÕES de reais aos Bancos para "emprestar barato". Sabe o que fizeram? aumentaram os juros!

As grandes empresas foram ISENTAS de impostos federais e sob matérias primas compradas no exterior. Sabe o que fizeram? Demitiram aos milhões!

E o que o governo fez? Exigiu acabar com as demissões? Exigiu que os lucros e reservas pagassem os salários dos trabalhadores? Não! Aprovou CORTE e SUSPENSÃO de salário e contratos.

Enquanto isso, ao "povao" Bolsonaro e os cândidos candidatos a puxa-saco como Felipe ofereceram o que? 200 reais que, depois de muito tempo, viraram 600. Não precisamos dizer que nem esta migalha  chegou a todos brasileiros que precisam. O governo está há um mês segurando e não solta a segunda parcela.

Ah… então são "obrigados" por alguém em alguma situação não é mesmo senhor Felipe?

Estivesse preocupado com o povo, este desprezível senhor não usaria sua condição de miséria para espalhar mentiras e enganações, para servir ao seu senhor miliciano.

Estaria exigindo que TODOS trabalhadores tivessem direito a um salário digno, do Dieese, lá pela casa dos 4 mil reais (afinal, é o que este órgão OFICIAL, governamental, diz que é o mínimo para uma família ter uma vida digna) para ficarem em casa até a epidemia estar controlada. Dinheiro existe! Cobrem as dívidas dos bancos com o INSS, confisquem os lucros dos grandes grupos empresariais, taxem as grandes fortunas e dividendos!

A vida está abaixo dos lucros?

Exigiria que se construíssem milhares de leitos e se estatizasse os leitos de hospitais privados, muitos vazios enquanto nos públicos se morre no corredor.

Estaria exigindo que todo hospital sobrassem e em cada esquina houvesse distribuição de máscaras, gel, luvas.

Exigiria que num país em que todas as indústrias operam com Ociosidade recorde de 50%, ou seja, produzindo METADE do que tem capacidade, se reorganizassem para combater o virus.

64 fábricas de automóveis no país produzem até 5 milhões de carros por ano. Mas não precisamos de carros.

Quantos milhões de respiradores poderiam produzir? E quantas  centenas de milhões de máscaras e luvas?

Com todas estas condições, os trabalhadores poderiam ficar em casa.

Não seriam obrigados por nada.

E os patrões seguiriam seu berreiro enquanto veríamos a velocidade da epidemia diminuir, o sistema de saúde não colapsar e termos atendimento a todos.

Não é está quarentena a que temos. É esta a que devemos lutar para ter. Mas antes algum isolamento do que nenhum. Ao menos tempos condições de exigir condições para mantê-lo.

Exigir seu fim total é exigir algo ao redor de 2 milhões ou mais de mortes, com caixão lacrado, covas comuns e sem velório, ou mais. A maioria delas preta e pobre.

Quem é o canalha e quem defende o povo nesta história?

Estariam os governadores, com negligência parecida, tão longes de Felipes e Bolsonaros?

A questão aqui é que, não raramente, surge uma figura burguesa - e mais ainda entre estes fascistas hipócritas - tentando explorar politicamente a miséria do trabalhador.

O povo precisa saber e devemos dizer com todas as letras quais são os amigos e inimigos do povo.

E os piores inimigos são os deste tipo: fingindo indignação e solidariedade, conduzem a massa para o abate, com o único e sórdido objetivo de "salvar a economia", "salvar o PIB", ou seja, sugar seu sangue, peão, e salvar os lucros e privilégios deles, em seus bunkers, casas na praia, só vendo o quando caiu  ou subiu sua margem de lucro.
**

As classes C, D e E somam 199 MILHÕES de brasileiros. É gente que não tem fundo de reserva, não tem poupança. São pais e mães de família que, todos os dias, têm que sair pra trabalhar (formal ou informalmente), pra comprar a comida do dia seguinte.
Não têm esteira na sala, não têm dinheiro para telas e tintas, não têm pacote de streaming e não podem se dar ao luxo de pedir comida por aplicativo. Cozinham em casa, levam marmita para o trabalho. Restaurante é luxo, para datas comemorativas.

Na "Torre de Marfim", tudo é diferente. Os "intelectuais" vivem em seus próprios mundos, desvinculados destas preocupações práticas do dia a dia. "Fiquem em casa", eles dizem, enquanto se exercitam em suas salas, onde caberiam dois apartamentos populares.

São preocupadíssimos com o "social" e defendem, com afinco, a esquerda populista; mas estão há tanto tempo sem cumprimentar o porteiro, sem olhar na cara do garçom, sem dar um bom dia para o manobrista, que esqueceram que trabalhador também é gente.
Se lembrassem, provavelmente a ilustríssima jornalista não taxaria como "antissociais" aqueles que estão lhe proporcionando o conforto do isolamento. Suas telas, tintas e encomendas de comida não chegaram sozinhas à sua casa. O lixo que ela produz também não vai embora caminhando; nem a energia elétrica, para aproveitar sua Netflix e fazer funcionar sua esteira, é gerada através de mágica.

O descolamento da realidade não é exclusividade da entrevistadora do "Roda Vida". Quem não se lembra, há poucos dias, daquela atriz global, no Instagram, pedindo para que seus seguidores ficassem em casa, enquanto, ao fundo, sua empregada doméstica trabalhava?

O grande problema é que essas pessoas, que não fazem o próprio supermercado, que não sabem quanto custa encher o carrinho para a compra do mês, são as "influenciadoras das massas".
Postam em suas redes que "dinheiro não vale mais do que a vida", enquanto bebem vinhos finos e comem canapés; ignorando o fato que a fome também mata (e mais do que o vírus).

Defender a quarentena, agora, é "cool". E qualquer um que discorde é um "fascista", que não valoriza o próximo. O estranho é que estes "intelectuais" ficaram em silêncio por mais de uma década, quando 166 brasileiros, em média, morriam todos os dias, vítimas da violência urbana. Defendiam fervorosamente, aliás, o desarmamento civil; tirando do povo a única chance de defesa, enquanto eram escoltados por seguranças armados.

Ignoram, também, a estimativa de que 50.000 pessoas, em nosso país, estão tendo seus diagnósticos de câncer atrasados pela pandemia. Uma doença que, sabidamente, tem no diagnóstico precoce um fator determinante para a cura.

Desconhecem, ou fingem desconhecer estudos de institutos sérios, como University of Chicago, Oxford, Sorbonne, London City Hall e U.S Bureau of Economic Analysis, que relatam a causalidade entre queda do PIB e aumento de mortes. Não por acaso, nos países mais desenvolvidos a expectativa de vida é tão maior.

A dura custas, em 2019, criamos 800.000 novos empregos. Em 30 dias, extinguimos 9 milhões; que se somarão aos 11 milhões de desempregados que já tínhamos. 20% dos brasileiros em idade produtiva estão fora do mercado. Isso se traduz em um aumento exponencial de violência urbana, violência doméstica, alcoolismo, uso de drogas, depressão, suicídios, doenças cardíacas, entre tantas outras consequências letais.

Estes "comunicadores", que aplaudem o totalitarismo dos prefeitos e governadores contra o povo, são os mesmos que berrariam mais do que bezerros desmamados, se o governo sequer cogitasse a possibilidade de restringir a liberdade de imprensa.
Não se iludam que estão preocupados com o bem estar de qualquer pessoa, senão deles próprios. As "medidas sanitárias", que tanto apoiam, há muito já deixaram de ser uma questão de saúde e se transformaram em uma questão de CONTROLE.

LAVEM AS MÃOS E ABRAM OS OLHOS.

Felipe Fiamenghi - 14/05/2020

"É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar - bons cachês em moeda forte; ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola."
(CAMPOS, Roberto)


terça-feira, 5 de maio de 2020

Como um Brasil socialista poderia combater o Corona-Vírus?




No dia 25 de fevereiro registramos o primeiro caso de corona-vírus, marcando o início da chegada da epidemia a terras brasileiras.

Nestes pouco mais de dois meses, a situação mundial mudou muito, com medidas de isolamento social, queda abrupta da atividade econômica e disseminação rápida do vírus ao redor do mundo.

Conhecido por sua alta taxa de infecção, o vírus migrou de seu epicentro inicial na China, que conteve sua transmissão com medidas agressivas de testagem e quarentena, rumando para Europa e finalmente chegando ao atual epicentro nos Estados Unidos, alcançando a marca oficial de mais de um milhão de infectados em terras estadunidenses e três milhões no mundo.

Por se tratar de um vírus que contamina pelo ar e de pessoa a pessoa, numa situação em que não existem ainda nem vacinas nem tratamentos comprovados, as únicas armas eficazes contra o vírus são a testagem e o isolamento social.

Os testes, se realizados aos milhões e com centenas de milhares todos os dias, como feito no Vietnam, Coréia do Sul e China, permitem que se identifiquem os focos de contaminação e as cadeias de transmissão, controlando os infectados e aqueles com que conviveram, permitindo que o surto seja monitorado. Isto permite que o isolamento seja feito com precisão e, assim, da forma mais eficaz, isolando infectados e impedindo que a disseminação se dê de forma descontrolada.

Juntas, estas medidas permitem que ganhemos tempo para surgimento de vacinas e tratamentos e impedem que o sistema de saúde entre colapso, ou seja, que um número enorme de pessoas adoeçam ao mesmo tempo e, assim, falte leitos e atendimento a todos que precisem.

Na contramão de tais medidas, vemos nosso país alcançar recordes no que diz respeito ao vírus: Somos o país com a maior taxa de infecção entre países pesquisados no mundo (cada infectado transmite para, em média, 3 pessoas); com um dos menores números de testes realizados (dados oficiais apontam que realizamos no total 132 mil testes, o equivalente ao que o Reino Unido testa em um dia) e com uma das maiores subnotificações, ou seja, diferença entre números oficiais e números reais ( 9 em cada 10 casos não são detectados).

Todo este cenário projeta a sombra de um número entre 1 e 2 milhões de mortos por decorrência direta do Covid19, sem levar em conta as mortes indiretas por outras complicações, causadas pelo colapso do sistema de saúde.

Desnecessário dizer que a maior parte destas serão de trabalhadores, pobres, moradores das periferias, por conta das dificuldades de acesso a serviços de saúde, condições sanitárias e condições socioeconômicas. As pesquisas recentes demonstram claramente: o vírus foi trazido pelos mais ricos e hoje os que morrem e adoecem já são os mais pobres.

Neste cenário, confusão e dúvida surgem na população, incentivadas pelo governo de genocidas que atualmente preside o país, através da figura de Bolsonaro. Todo tipo de mentiras e minimização da realidade da doença são feitos, levando a população a embarcar no “carro da morte” da doença.

Não que os governadores estejam fazendo diferente. A disputa entre eles é meramente eleitoral e política feita em cima de cadáveres.
Todos eles cedem a pressão dos empresários, industriais e banqueiros brasileiros que diziam, há algumas semanas, que iriam morrer apenas “7 mil” e que “a economia não pode parar”, exigindo que os trabalhadores voltassem a  trabalhar, se amontando nos locais de trabalho e
transportes, acelerando a infecção.

Juntos, Bolsonaro e os governadores parecem apostar numa ação genocida clara: subnotificar o número de infectados e mortos, afinal, se não há testes, não aparecem novos casos, logo, podem dizer que “a situação não é tão ruim” e pressionar para “tudo voltar ao normal”, jogando o povo nos braços do vírus.

Por outro lado, não apenas salários foram cortados, contratos foram suspensos e milhares de demissões aconteceram; nem sequer a miséria de 600 reais chegou a todos que precisam. Já aos bancos, 1,3 trilhões em auxílio foram entregues na primeira semana.

Dessa forma o que aconteceu era inevitável: No final de abril, incentivados pelas mentiras de que o vírus seria uma “gripezinha”, a curva de propagação cresceu tanto quanto diminuiu o isolamento social e qualquer possibilidade de abertura sumiu do horizonte. Pelo contrário, o que vislumbramos agora é o chamado “lockdown”, ou seja, a obrigatoriedade de isolamento total.
Ainda assim, o ritmo das coisas aponta que seremos o próximo epicentro da doença, com o sistema de saúde colapsando neste próximo mês, sendo um dos países em que o vírus causará mais estragos e mortes.

Mas precisaria ser assim? Não existiria uma outra forma de organizar as coisas?

Temos de chamar o problema pelo nome
Em tempos de crise fica evidente a falência da forma de organizar a economia e a sociedade que nos domina, chamada de capitalismo.
O Brasil é a prova viva disto.

Todas as particularidades da vida social, política e econômica brasileira apontavam que seríamos um dos mais afetados. Um país com 104 milhões vivendo com 413 reais por mês, com 57 milhões de trabalhadores ou na informalidade ou no desalento/desemprego, com cerca de metade dos brasileiros sem acesso a esgoto, 13 milhões vivendo em favelas e alto número de pessoas vivendo em casas pequenas e aglomeradas, não poderia ver outro resultado.

Entretanto, a preparação e ação dos governos dos patrões não teve nunca o objetivo de proteger os mais pobres e vulneráveis. Pelo contrário: suas ações todas foram para proteger as grandes empresas e grandes bancos, enquanto fazem chantagem com o trabalhador.
“Ou aceita corte de salários, ou são demissões em massa”; “Ou aceita as reformas, ou não tem dinheiro para auxílio” e, assim, seguem as filas enormes, ajudando na infecção, de trabalhadores sem sustento esperando 600 reais ou muitos voltando a vender coisas nas ruas, trens e ônibus, como única fonte de sustento da maioria de trabalhadores informais.

Já aos bancos foram dados trilhões e às grandes empresas isenções de imposto sob matérias primas importadas, isenção de pagamento de INSS, isenção de impostos, possibilidade de demitir sem pagar rescisão contratual ou FGTS, etc.

Nem mesmo as pequenas empresas foram ajudadas. Assim como com os trabalhadores, os governos ofereceram um belo “presente de grego”: “Não tem salário ou verba pra tocar a pequena empresa? Ora, faça um empréstimo!”.
Com isto beneficiam os grandes bancos e já deixam claro o legado da epidemia aos que sobreviverem: todos endividados, trabalhando ou funcionando para pagar juros aos bancos.
Vale dizer, inclusive, que ao invés de baixar, os bancos aumentaram seus juros, fazendo chegarmos a mais de 60 milhões de negativados e um terço de endividados no Brasil.

A realidade é simples: sem salário não existe como o peão manter isolamento. Sem ele e sem testes não existe como saber a situação da epidemia ou controla-la. E o preço a se pagar já aparece: pobres e periféricos mortos, enterrados sem atestado de óbito, sem velório e em valas comuns.

Parece que para estes, esse preço é tranquilo de ser pago. O nome dos nossos inimigos é o capitalismo e seus donos são os grandes capitalistas.

E num “Brasil Comunista”, como seriam as coisas?


Não é difícil perceber que no capitalismo tudo se produz movido por um interesse: o lucro. Não são as necessidades humanas que importam aqui. Apenas aquelas que podem gerar lucro.

Da mesma forma, o que domina na produção de bens e serviços é a “anarquia”. Não existe plano comum de o que e quanto será produzido. Tudo é decidido de acordo com a lucratividade por pouquíssimos – e riquíssimos - bancos e fundos de investimento, muitos deles estrangeiros, que controlam as grandes indústrias e são donos das terras e grandes serviços. Por isso fomos, em geral, pegos de surpresa, sem estoques para lidar com a pandemia.

O comunismo e socialismo tem sido falsificados e distorcidos para servir de espantalho que assusta uma população pobre já amedrontada pelas difíceis condições de vida. Para essa “malhação do judas” se unem empresários, bolsonaristas, pastores e todo tipo de explorador da miséria do povo. E porque fazem isto?

Não será porque são estas ideias que oferecem uma resposta que beneficia o povo e, assim, ameaça a concentração de riqueza que estes arrancam deste povo?

Por exemplo:
Hoje no Brasil não faltam apenas testes, apesar de universidades como USP e Unicamp terem desenvolvido métodos de produção baratos e rápidos, tornando possível sejam produzidos nacionalmente e em massa. Também os chamados “EPI’’s”, como luvas, máscaras, coletes, são escassos, como cerca de 50% dos médicos denunciam. A quantidade de respiradores, essenciais para manter vivos os que desenvolvem falta de ar, é enorme também.

Num Brasil socialista, o Estado, que só poderia sair de uma revolução feita pelos debaixo, trabalhadores e pobres das cidades e interior, tomaria o controle de toda a grande propriedade.

Não, não estamos falando da sua escova de dente ou seu Iphone e também não falamos da sua lojinha de capinhas de celular ou o bar da esquina. Falamos das grandes mineradoras, das grandes porções de terra nas mãos de multinacionais, das fábricas de veículos, dos grandes bancos e seu capital e das gigantes redes de comércio.

Hoje, em meio a crise epidêmica, temos um cenário inacreditável: a capacidade ociosa, ou seja, a capacidade de produção da grande indústria brasileira que não é usada, é a maior em 20 anos!
O setor de produção de veículos conta com 65 fábricas e, nestes meses, 64 ou pararam ou usam menos de 1/3 da capacidade produtiva. Estas fábricas juntas podem produzir 5 milhões de carros em um ano!
Porque raios não são reorganizadas para produzir em massa milhões de respiradores baratos como os, também, pesquisados pelas Universidades?

O setor de vestuário teve uma queda vertiginosa na produção, usando hoje apenas 25% da sua capacidade produtiva! Justamente as fabricas que podem fazer aventais, coletes, máscaras, luvas aos milhões, sem grandes transformações em sua estrutura de produção estão paradas, como se não houvesse necessidade destes bens!

Num Brasil socialista, as necessidades da população seriam o motor da economia e a “anarquia” não dominaria a produção:
- Nessa situação todas as mineradoras colocariam sua extração a serviço não de exportar para lucro, mas de buscar insumos necessários a produção de bens industrializados para combater o vírus.
- As grandes porções de terra produziriam alimentos vendidos barato nas cidades e produziriam em massa bens agrícolas e insumos necessários a indústria de combate ao vírus.  
- Todas as grandes fábricas automotivas e de vestuário seriam reorganizadas para produzir milhões de respiradores e centenas de milhões de luvas, máscaras e aventais.
- Controlando o sistema financeiro, bancos e o crédito, o Estado não endividaria sua população em meio a ameaça de morte: Ofereceria crédito barato para os pequenos negócios essenciais continuarem funcionando e subsidiaria com salários dignos os trabalhadores para que pudessem ficar em isolamento o tempo necessário.
- Todos os grandes complexos hospitalares seriam colocados a disposição do público, com leitos privados sendo estatizados e colocados a serviço das necessidades coletivas.
- Com o monopólio do comércio exterior nas mãos do Estado socialista, os bilhões que viessem do comércio internacional seriam colocados a serviço do plano: Dezenas de milhares de leitos de UTI seriam produzidos, bilhões seriam investidos na pesquisa de tratamentos sérios, vacinas e equipamentos de proteção e respiradores.

Tudo isto, é claro, só poderia vir de uma sociedade socialista construída e controlada pela forma mais democrática já vista pela humanidade:
A auto-organização direta, composta por representantes eleitos e revogáveis diretamente pelos trabalhadores e pobres em cada local de trabalho, nos bairros e cidades, algo totalmente diferente desta democracia falsa, que é uma democracia para os ricos e uma ditadura para os pobres, em que dominam os empresários através dos “políticos profissionais’ que só defendem os seus interesses econômicos.

Seria também distinta, é claro, de modelos socialistas anteriores que, por suas particularidades, degeneraram e se transformaram em ditaduras burocráticas, nas quais o poder político dos trabalhadores foi tomado por uma casta social que usa a bandeira comunista para confundir e manter seus privilégios materiais.

Organizados desta forma, os trabalhadores teriam as ferramentas diretas para atuar politicamente, controlar seus representantes e seriam capazes de definir com clareza suas necessidades, as quais seriam as bases do plano econômico de combate a crise e manutenção de suas vidas.

Num Brasil Socialista, haveria democracia e - porque não? – muitos partidos para os trabalhadores debaterem as melhores políticas para a crise, em base a uma sociedade em que a grande propriedade privada, a acumulação de capital e a grande exploração do trabalho alheio fossem proibidas.
Neste cenário, é claro, diriam aqueles patrões que trouxeram a doença ao país e hoje se escondem em suas casas na praia, condomínios e bunkers: “Seria uma ditadura para nós!”.

Precisamente. E pela primeira vez na América do Sul, veríamos um governo das maiorias trabalhadoras, trilhando o caminho da transição ao socialismo e, com isto, lançando uma nova onda de transformações revolucionárias nos demais países do mundo, rumando para a sociedade comunista, sem classes.

Ao responder isto, os capitalistas nos dão uma ótima lição: Da mesma forma como  compreendem o que seria uma ditadura da maioria trabalhadora contra eles, uma minoria exploradora do trabalho alheio, temos de compreender o que é e a necessidade de nos libertar desta atual ditadura de patrões, maquiada e protegida.

É só isto o que nos impede de abrir as portas para um novo mundo. E este mundo, nesta crise, se mostra não apenas possível, mas absolutamente necessário.


Fontes:
 https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-04/coronavirus-pesquisa-mostra-que-50-dos-medicos-acusam-falta-de-epi

https://oglobo.globo.com/economia/com-coronavirus-industria-tem-maior-nivel-de-ociosidade-em-quase-20-anos-24409871

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/nove-em-cada-dez-casos-de-covid-19-nao-sao-detectados-no-brasil-diz-estudo.shtml

https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/05/04/endividamento-se-acentua-e-pode-ser-um-dos-legados-da-crise-do-coronavirus.ghtml

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52509734