sexta-feira, 22 de março de 2019

As "semi-estratégias" de Arcary e Pomar

Por Bof, demitido político do Metro de SP.
Segue a trágica e tortuosa trilha da esquerda que, ao menos em intenções, busca uma transformação revolucionária no Brasil.

Após meses de silêncio inacreditável dos debates, como durante a descarada tentativa de armar uma provocação civil-militar que desse início a uma guerra civil e/ou sublevação militar contra o Governo da Venezuela, neste último dia 20, no portal do grupo Resistência, do PSOL, se apresentou um debate em quatro artigos entre Valério Arcary, dirigente advindo do PSTU e que rompe em 2016 para formar as fileiras do PSOL e Valter Pomar, teórico da Articulação de Esquerda, dentro do PT.(https://esquerdaonline.com.br/2019/03/20/ha-duas-estrategias-em-disputa-na-oposicao-a-bolsonaro/)

O debate, em si, é de importância, menos pelas orientações e análises de conjuntura política, estas, de ambas as partes, como tentaremos demonstrar, equivocadas e distantes de uma ação e teoria socialistas, e mais pelo debate sobre “estratégia e tática”, diante do governo Bolsonaro em particular e, em geral, sobre aquelas que norteiam a ação dos socialistas.

Como critica corretamente Arcary, não é muita tradição de nossa esquerda o debate teórico e escrito. Desse modo, convocamos os companheiros e toda a esquerda a reflexão e diálogo..

A primeira nota de Valério é dedicada a explicar como, numa compreensão de estratégia corretamente apontada por Pomar como restritiva, existiriam duas estratégias em choque na oposição a Bolsonaro: a de PT e PDT, na figura de Ciro, e que, diante de tal polarização, o PT, dividido, teria como tarefa central de seu 7º congresso, escolher dentre elas.

Uma seria a de Ciro, que tenta ocupar o espaço de “centro-esquerda” hegemônico motivada por uma subestimação dos resultados das reformas de Guedes, do quanto Bolsonaro e seus afiliados poderiam desestruturar o “equilíbrio de poderes” e assim, fechar mais o regime político avançando num sentido autoritário de um bonapartismo militar, posição que buscaria esperar as eleições de 2022 e, assim, aproveitando o fraquejar do PT para deslocá-lo e assumir a liderança deste campo de “resistência”.

A outra seria aquela representada pelo PSOL que estaria comprometido em não esperar 2022 através de uma orientação que evite que a “derrota eleitoral se torne derrota social e histórica” (sic) e, como a situação é “reacionária”, a estratégia deve ser totalmente defensiva, impedindo que os ataques se implementem, travando-os para, se possível, passar a contraofensiva.  A via para isso? Uma frente única “das esquerdas”, inclusive o PT e uma “unidade de ação com todos os que quiserem lutar pelas liberdades democráticas ameaçadas. Conscienciosamente, Arcary não deixa de mencionar como, em algum caso excepcional, podemos até “tentar derrubar” Bolsonaro.

Tais posições combinam bem com a trajetória do embrião da atual resistência, o MAIS, tendência que rompeu e se transformou nos últimos anos num  representante da ala direita do PSOL, numa concepção de “defensiva” há pelo menos 3 anos, desde o impeachment.

Um revolucionário russo, sempre bom referencial para aqueles que atuam seriamente em construir uma ação revolucionária socialista, nos dizia que a teoria deve ser um guia para a ação.
Igualmente, deve estar ancorada numa análise lúcida da realidade dos fatos políticos, econômicos e sociais e, assim, dar corpo a estratégia e seu conjunto de táticas. Quando os erros deixam de ser “acidentes de percurso” mas passam a ser teorizados, o sinal vermelho da história precisa ser aceso. Tais desvios, por menores que pareçam, cobram quilômetros de distância na prática.

E é precisamente por aí que se mete Arcary, deixando o trabalho de Pomar, de polemizar ao redor do tema da estratégia socialista, de maneira abstrata, mas ainda assim eficaz, muito fácil.

Em qualquer ciência e ofício, tentar formular uma realidade para que ela se encaixe em seus planos, modelos ou objetivos é má empreitada. O resultado não pode ser eficaz pois não é coerente com a realidade.
Arcary afirma uma falsa polarização no campo oposicionista que, surpreendentemente embeleza não apenas o PDT e Ciro como, também, o PT, como se fosse uma organização de incautos, confusos e desestruturados.

Obviamente, seu objetivo é disputar um “naco” desta organização (ou pensar que o faz) através de uma operação previsível: dividir campos e forçar posicionamentos. A ferramenta para isto seria a caricatura de “frente única”. Entretanto, quando os campos estão mal definidos, não se pode ter esperança de sucesso.

Corretamente, o que Pomar responde é que o projeto de Ciro não é fruto de uma “desatenção” ou subestimação, mas de um projeto político, baseado num nacional-desenvolvimentismo “autoritário”.
A definição das intenções de Ciro são, aqui, corretas, nos parece, na medida em que, carecendo de uma classe burguesa nacional que desse impulso e lastro social  a este projeto, Ciro basearia suas pretensas ações na cooptação da classe trabalhadora e nem “engordar” burgueses nacionais, hipoteticamente, independentes (e onde é que surgiu uma burguesia independente no século 21, em países atrasados e periféricos como Brasil?)  e em choque com o imperialismo, seus bancos e empresas.

Arcary não menciona isto, o que é grave, na medida em que seu candidato - Boulos - e toda a ação do PSOL em grande parte do ano passado foi adaptada a uma farsa de frente amistosa e acrítica com o PDTista (além do PT), mesmo enquanto este discutia apoio eleitoral e parlamentar com o Centrão (vulgo, partidos fisiológicos de direita)e com o PDT embarcado na defesa de Rodrigo Maia, inequívoco burguês e golpista e além de ser favorável a negociação da reforma da previdência.

Ou seja, Ciro não é um “aliado” ou um “pólo” da oposição a Bolsonaro. Ciro tenta, com demagogia, desviar as já poucas energias da centro-esquerda para um projeto nacional-desenvolvimentista burguês, baseado na conciliação entre patrões e oprimidos.
O que isso quer dizer? Ciro já disse com todas as letras que quer ser o nexo de conciliação entre as forças do capital e do trabalho. Nada muito distante de um líder populista, conciliador, que não tem nenhuma perspectiva séria de transformação social. Seu objetivo é o poder e, uma vez dentro, conciliar, com quer que seja, até o Centrão, vendo o que dá, inclusive realizando ataques e golpes contra os trabalhadores. Por isto ele é contra esta reforma, mas é favorável a outros regimes de capitalização da previdência. Felizmente, ele é um general sem exército.
Ainda assim, um inimigo da perspectiva socialista e revolucionária cuja influência deve ser combatida e cujas características devem ser expostas claramente. Tais senhores não se dão as graças da “ingenuidade” diante de Bolsonaro.  

Por outro lado, movido por seu impulso de retratar uma realidade fértil a seus objetivos, Arcary embeleza a posição do PSOL, sem nenhuma autocrítica após uma das candidaturas mais desastrosas, coladas ao PT, com programa econômico fundamentalmente liberal, sem cara própria e com piores resultados da história, como foi a de Boulos, além de, literalmente, “passar um pano” para a direção do PT e das centrais sindicais.

Talvez movido por ideias de uma crise na cúpula decorrente da prisão de Lula e debates preparatórios ao 7º congresso, Arcary define a organização como polarizada entre estas duas “estratégias”, deixando de lado a óbvia linha política do PT de evitar o combate aberto, se demonstrando como oposição “responsável” e que joga “pelas regras do Jogo”, desde a queda de Dilma.

Após passar pelo impeachment, Temer e seu congelamento de gastos e reforma trabalhista, passando pela demonstração - traída - de disposição para a luta e greves gerais em 2017, a prisão de Lula e toda a maquinação burocrática, sequestro de votos, disparos ilegais de whatsapp, culminando na eleição de Bolsonaro e dos militares, tudo isso acontecendo sem nenhuma ação além da velha divisão de tarefas entre “teatro parlamentar e paralisia sindical” do PT e CUT, é preciso se tirar algumas conclusões, afinal!

A estratégia clara e hegemônica no PT, diante da conjuntura, é democrático-liberal, ou, em melhores termos, de reedição de uma espécie de “social-liberalismo”, como ficou explícito na plataforma de Haddad, administrando liberalmente o capitalismo enquanto dá pequeníssimas e frágeis concessões sociais e econômicas aos mais pobres, fortalecendo sua base eleitoral e se alçando a posição de conciliador do capital/trabalho. O PT tem esta diretriz em programa e prática e seu objetivo é seguir com ela até 2022, vendo o país sangrar para surgir, utopicamente, como “salvador da pátria”.

A votação em Rodrigo Maia, um dos implementadores das reformas de Bolsonaro, não oficial, mas na prática, para presidente da câmara, por diversos deputados do PT; a votação em massa do PT em Cauê Macris, o homem do PSDB de Dória, para a presidência da assembleia legislativa em SP; a completa paralisia das centrais sindicais como CUT e CTB (essa, para salvar o PCdoB da extinção, de mala e cuia no apoio a Maia), numa verdadeira trégua que deixou a reforma trabalhista passar, o teto de gastos se impor e deixará a da previdência acontecer, fora o estelionato eleitoral reeditado, chantageando milhões a votarem em Haddad para combater um fascismo que, ainda, não se viu e que, pelo que se vê, tem caminho livre e apoiado pelos parlamentares do PT, nas câmaras e assembleias; bem, tudo isto deveria ser prova suficiente de uma estratégia clara do PT.

Causa espanto, diante deste cenário, que um dirigente de décadas de Trotskysmo, em prol de uma operação tática (supostamente romper e aproximar bases do PT), distorça a realidade e trate de confundir a própria militância e setores de vanguarda dos trabalhadores com afirmações tão díspares com a realidade.

Os termos em que Arcary coloca a questão mostram, efetivamente, que sua concepção de estratégia (pelo menos diante de uma suposta situação reacionária)  não apenas é restritiva como tem como objetivo central “alcançável” recompor, sim, o regime democrático burguês.

Ou seja, qual seria o resultado de uma ação, a única possível já que a estratégia é “defensiva” em uma situação “reacionária”, focada em impedir que os retrocessos eleitorais virem sociais e históricos? Devemos seguir para onde? Para a recomposição de uma situação de “equilíbrio entre os poderes” ideal? Quando isto se materializou no Brasil? Nos anos de Lula? Ou antes, retomando a constituição esfacelada de 88?

Ao descolar a estratégia por um programa socialista, por uma auto-organização dos trabalhadores que dê origem a formas de luta que ultrapassem a  engessada estrutura sindical brasileira, que ponham de pé organismos de luta e democracia exercida diretamente pelos traballhadores e coloque a questão do poder e da classe em cada mobilização, articulando-as e criando estruturas de poder dos trabalhadores, Valério cai no possibilismo ao qual sua lógica defensiva o leva.
E este possibilismo, que silencia diante da trégua sindical das centrais e do PT, subestima a linha de Ciro e tenta alçar o PSOL, uma organização sem estratégia e sem inserção, a um papel polarizador que não existe, leva, de facto, a que a linha de Valério seja a de “salvar a democracia”, o colocando ao lado da direção burocrática e majoritária do PSOL e, blocando, é claro, com o discurso da direção do PT.

De que retrocesso social a ser impedido Arcary fala? Ou não temos já o teto de gastos e a reforma trabalhista que esfacela as relações de trabalho? O retrocesso já está aí!
O problema é que a estratégia “possibilista e defensiva” de Arcary se baseia numa concepção derrotista, antes da hora. Os ataques estão passando, a reforma da previdência está as portas, no entanto, a classe trabalhadora, apesar das traições, não está derrotada ainda. Como para Arcary ela já está desde 2016, não cabe lutar, mobilizar, articular alternativas a burocracia sindical, fomentar nas greves e lutas organismos de democracia direta... Apenas tentar impedir que o mal fique pior, lutar pelo horizonte democrático e só.

Para isso, a independência de classe, um componente estratégico clássico do marxismo revolucionário, também desce pelo ralo.
Por isto é possível fazer frentes com “todos” que queiram defender a democracia. Todos incluem o PSDB? PDT? PPS? PSB? Partidos burgueses em geral? E para isso, basta uma declaração de intenções?
Bem, as cartas e manifestos assinados, como as de fevereiro do ano passado por PSOL e muitas dessas organizações empresariais, mostraram bem o efeito que tem: confusão na vanguarda, continuidade dos acordões entre estes partidos burgueses e partidos do centrão, magnatas e latifundiários (Katia Abreu e Ciro estão ai pra mostrar) e apatia na classe trabalhadora.

A burguesia, de fato, mudou de estratégia e embarcou na linha de um neoliberalismo selvagem, a entrega do país e uma nova dinâmica voraz de exploração do trabalho. Não é possível que aceite um retorno ao padrão de conciliação anterior, ainda menos diante da ofensiva dos EUA na disputa com a China e da desaceleração econômica mundial.
É a hora do ataque e contra o ataque de classe não existe ferramenta eficaz que não seja os trabalhadores lutarem pelos seus próprios interesses, contra os patrões, magnatas e gringos.

Na nação atrasada e semicolônia que é o Brasil, não há arma realista que não seja a luta pelas bandeiras socialistas, até mesmo paras arrancar mínimas conquistas democráticas e de direitos dentro do terreno da democracia liberal burguesa.

Estratégia: Pra que serve, afinal?
Aqui voltamos a Pomar. É verdade que tal concepção de Valério restringe o alcance do termo estratégia. Também é verdade, no entanto, que é possível se ter estratégias para batalhas e “teatros de guerra” menos abrangentes.

Talvez uma forma mais precisa de definir estratégia seja a seguinte:
Ela é um plano geral que articula um conjunto de operações táticas isoladas, mas não desconectadas, cuja implementação levam a conquista de objetivos estratégicos.
No plano militar, é possível ter uma estratégia para uma batalha.
Esta, apesar de ter como objetivo estratégico central a vitória diante do inimigo, possui uma série de objetivos estratégicos parciais, cuja conquista se dá através das operações táticas. Nenhuma tática é estática.
A conquista destes objetivos precisa ser obtida na luta real e, como toda luta real, ajustes devem ser feitos em função das condições de suas forças, reações do inimigo, condições climáticas e de terreno imprevistas, enfim, qualquer estrategista sabe que, para se conquistar uma batalha é preciso se ter um plano, vias táticas de paulatinamente concretizar este plano e um olho acurado para realizar ajustes nas operações deste plano a tempo de não se perder de vista a possibilidade de vitória.

Um exemplo: Um exército menor pode enfrentar um exército maior e, diante das possibilidades de terreno e clima, manobrar seu exército em distintas porções menores, concentrando sua força principal em posição vantajosa, mais numerosa e escondida do inimigo. Estas porções menores podem ser mobilizadas em direção ao inimigo com o único objetivo de forçá-lo a se mover, provavelmente dividindo suas forças. A função destas porções menores é, neste sentido, defensiva, de ganhar tempo, dividir o exército maior e permitir que a manobra da porção principal, mais numerosa e concentrada, seja bem sucedida e rompa as linhas de frente do inimigo, fazendo-o recuar.

Esta é uma concepção de estratégia de batalha chamada “concentração de força/derrota em detalhe”, pois permite dissimular a ação, enganando o inimigo e atacando no momento certo com superioridade numérica, fazendo sua linha quebrar e permitindo perseguir as tropas em fuga, derrotando “no detalhe” um exército maior.

Esta explicação, talvez enfadonha, no entanto, mostra bem que, não apenas é possível uma estratégia, com todos os limites da analogia quando falamos de estratégia político-social, para batalhas menores (portanto, Arcary poderia estar falando sobre algo assim), quanto é não apenas possível, mas crucial, a articulação de fases (defensiva, contraofensiva, ofensiva) dentro de uma mesma estratégia de batalha (e aqui, Arcary se equivoca diante da absolutização de uma pretensa “estratégia defensiva”).

Diante de tamanha confusão, por um lado e de, aparentemente, uma intenção de Arcary criar uma realidade ideal polarizada que justifique suas ações (novamente o russo nos lembraria do erro de justificar as ações e não movê-las pela teoria), Pomar desenvolve uma espécie de “metalinguagem” sobre o tema, pegando, é claro, Arcary pela esquerda.

Em uma coisa, Valério acerta na réplica: não importa muito estar “a esquerda” de alguém num debate teórico abstrato. A teoria ganha concretude e validade, em sua implementação prática, através da dialética demonstrada da estratégia/tática.

Pomar, polemista experiente, soube observar as brechas da argumentação e Arcary e aproveitar para lembrá-lo que a estratégia socialista não se detém nos limites da democracia burguesa, que os socialistas sempre lutam pelo poder e que a linha de Arcary levaria a um horizonte de defesa da democracia burguesa, recompondo o status quo a uma situação ideal. Nada mais utópico e inaceitável pelos magnatas diante da ofensiva burguesa dos últimos anos. Ponto pra ele.

Mas seus pés, no entanto, não estão em terreno mais sólido dos que o de Arcary, afinal, sua crítica vale, igualmente, para si mesmo.

Pomar afirma tal como uma declaração de manual, correta em geral, que “O objetivo de longo prazo é uma sociedade comunista. Entre esta sociedade comunista e o ponto em que estamos, haverá um longo período histórico de transição. Esta transição é o socialismo. O ponto de partida da transição socialista é a conquista do poder, por parte da classe trabalhadora. A estratégia é, enquanto prática, o processo real através do qual a classe trabalhadora conquista o poder e, enquanto teoria, a definição acerca de qual é o caminho que nos leva a conquistar poder. Portanto, eu reservo a categoria estratégia para aquilo que diz respeito ao caminho para a conquista do poder.”.

Espanta ver, no entanto, que em nenhum momento dos dois textos, Valter aponte, como cobra de Arcary, “o caminho a ser percorrido”, o passo além. Chega ao ponto, inclusive, cometendo o mesmo erro de Arcary, de tentar produzir uma realidade que caiba nos seus esquemas ao afirmar que hoje se dá no PT um debate sobre quais caminhos levam ao socialismo.

Vindo de um representante de décadas no PT, igualmente causa espécie que censure um colega e ao mesmo tempo não responda minimamente o que exige sobrequal a relação que existe entre nossa luta contra o governo Bolsonaro, nossa luta pelo poder e nossa luta pelo socialismo?”

A articulação de esquerda, sabe-se, não goza de força hegemônica, portanto, não tem o poder de definir as linhas do PT. Mas a participação em uma estrutura pressupõe responsabilidade por ela.

E o PT tem sido não apenas uma organização “não-socialista” em termos gerais, mas diretamente antissocialista nos atos. Todas as operações táticas deste partido, nos últimos 17 anos (desde que entrou no governo federal) e antes no período de oposição leal dentro do regime, foram para integrar, cooptar e domesticar as energias e lutas dos trabalhadores e oprimidos.

Por dentro do governo se resolveriam os problemas sociais através de medidas e programas e toda luta seria nociva a este projeto de “progresso gradual e contínuo”. O ano de 2013,que fez tremer o projeto de conciliação, é até hoje demonizado pelos PTistas, pois teria se insurgido diante deste esquema e, claro, necessariamente, para eles, seria o início das ações da direita para derrubá-los.

Que isso é ladainha e que, diante da paralisia e grau zero de estratégia da esquerda não PTista e da completa integração do PT ao poder burguês, a mídia corporativa e a burguesia brasileira com ajuda dos EUA conseguiram desviar as energias, criando com parte destas os “caras pintadas” de classe média que derrubaram Dilma, convenhamos, não é preciso discorrer muito.
2013 não começou de direita. Começou espontaneamente contra o alto custo de vida e dos transportes.

Entretanto, devolvendo-lhe a pergunta: Quais são os caminhos que, de dentro do PT, levam ao socialismo, caro Pomar? De que maneira as operações táticas encampadas pelo seu partido vão de encontro as conquistas de objetivos estratégicos que nos aproximam da vitória diante do inimigo?

Pomar não responde.
O polemista tem a vantagem de erguer para si um objetivo a ser desestruturado e, teoricamente, desmontá-lo. Em termos abstratos e teóricos isto é possível. Mas a prática cobra a coerência dos exemplos e esta, infeliz ou felizmente, demonstra que a conivência de ditos “revolucionários” da Articulação de Esquerda, com a estratégia de passividade social, combinada com teatro e sobrevivência parlamentar e sindical, com a trégua sindical do PT, aponta para, este sim, a manutenção de um status quo idealizado e desta democracia dos ricos “conciliada” ou, no pior dos casos (o que é mais provável) apenas para a sobrevivência da estrutura burocrática PTista no novo pacto social muito mais selvagem que a burguesia prepara contra os trabalhadores.
O PT freia e combate o desenvolvimento de qualquer ação revolucionária entre os trabalhadores.

Aqui, Pomar e Arcary se unificam, cada um com seus erros.
Ambos silenciam sobre o papel das centrais sindicais e das organizações de esquerda diante de um país em que a reforma trabalhista aumentou para 32 milhões o trabalho informal, 13 milhões de desempregados e, só no ano passado, mais um milhão e meio no trabalho precário, terceirizado e/ou intermitente.

Como é possível falar de estratégia revolucionária sem pensar os “caminhos” da organização, conscientização e mobilização desta nova classe trabalhadora? Como é possível passar ao largo das centrais sindicais num debate de estratégias para a tomada do poder? Como é possível ignorar que a esquerda vira as costas ao sujeito histórico da revolução socialista?

Bem, Arcary tem o mérito de honestidade: Se salvaguarda numa suposta estratégia defensiva, cujo horizonte máximo é resistir e manter as coisas um pouco “menos piores”. Pomar, no entanto, se diverte, debatendo socialismo e estratégia em abstrato e colocando o estilo a frente. O recheio, afinal, como ele deu a senha, pouco importa.

Mas a nós, aí está o crucial.