domingo, 30 de junho de 2019

Sobre as novas demissões no Metrô de SP e a política da diretoria do Sindicato


Já faz um ano e meio que estou demitido. Se se tratasse só de mim, apesar de difícil, seria menos grave. Mas são dezenas de Metroviários em SP demitidos desde 2017/2018 até hoje. Conheço alguns deles. Fomos demitidos numa onda de DEMISSÕES que já dura 2 anos e que o metrô quase nunca realizou no passado. Tinha até uma piada que pra "ser demitido do metrô tinha de se esforçar".

Bem, atualmente eles demitem por "baixa produtividade", ou seja, usando avaliações unilaterais de desempenho que a chefia usa, na pratica, pra impedir que trabalhadores façam concursos internos e pra perseguir política e pessoalmente. Hoje as coisas estão diferentes.

Ano passado escrevi diversos textos, relatos, polêmicas e até um escrito mais e fôlego propondo uma reflexão a todos grupos políticos (PSOL, MRT, PSTU, PCB, etc) na categoria sobre como o lema vindo da luta que TODOS DEMOS de 2014, "Ninguém fixa pra trás", não podia ser um chavão, mas que deveria ser um princípio e que, também possuía um profundo caráter estratégico prós trabalhadores no metrô e na cidade. Todos, por um ano e meio ignorados.

Enquanto alguns diretores faziam festa diante da readmissão (merecida, legítima e tardia) dos demitidos de 2014, estávamos sendo demitidos a dezenas e sem sequer ser respondidos. Ficamos pra trás.
80 é o último número que tive notícia em 2017/2018. Não é exagerado mencionar que todas estas demissões foram tratadas pela diretoria como casos individualizados, passíveis apenas de recursos administrativos e, no limite, de entrar na justiça burguesa, que, sabemos, muitas vezes não beneficia o trabalhador.

Não houve assembleia, não houve denúncia, não houve manifestação, não houve campanha, não houve nem sequer tentativa de organizar quem estava demitido pra tentar formar uma luta. Eu e todos demitidos sequer tivemos direito ao seguro desemprego e nosso sindicato não falou nada!

Do ponto de vista jurídico, a equipe de advogados do setor jurídico do sindicato é extremamente abnegada e disposta e deles só posso falar bem. Mas a diretoria política, eleita pela categoria, são outros 500 e, por isto, a cobrança é diferente.

Após dois anos em que a empresa do metrô usa de demissões baseadas em avaliações ilegítimas e feitas pra perseguir, retornam as demissões após a greve do 14 J, demissões contra as quais temos de lutar, é claro!

Todas elas, afinal, cumprem o papel de colocar os trabalhadores na defensiva, aterrorizar, enfraquecer e avançar com o plano da ala raivosa de Doria: privatizar o sistema metroviário e tornar um espaço para seus amigos lucrarem.

Contraditoriamente, a diretoria do sindicato, que não apenas não atuou verdadeiramente pra defender na ação política os demitidos até agora, hoje, diante da inescapável crise das novas demissões, divide estas demissões entre políticas e "não políticas", na prática dizendo que todas as realizadas antes, em 2018/2017, seriam baseadas em critérios legítimos, ainda que fossem injustas. Mas não são legítimos, são apenas uma forma de perseguição maquiada para o mesmo objetivo.

E a inação diante das demissões passadas mandou um recado e o Metrô concluiu: se demitir a conta gotas, com critérios pouco claros, é uma forma possível que não encontra resistência, então é possível seguir demitindo e avançar mais rápido na privatização.
A luta não dada desde 2017 cobra seus preços até hoje e explica a ofensiva da gestão Doria e das demissões, privatizações de bilheteria, etc.
É por isto que lutar pelos demitidos é, além de um princípio, uma questão estratégica para que a categoria siga lutando e, assim, resistindo e ajudando o conjunto da classe em suas manifestações e lutas mais amplas contra as reformas.
Uma derrota total dos metroviários (privatização e demissões) impacta e impactaria mais o conjunto dos trabalhadores de São Paulo.

Disso só se conclui que, diante das atuais demissões de 2019, não é possível seguir errando.
E pior. Se foi grave não realizar nenhuma ação política organizada em defesa dos demitidos de 2018/2017 (nem tentar organiza-los pra pensar ações), se se confirma que a diretoria pretende dividir entre "demissões políticas" as de 2019 e "não políticas" as anteriores, seremos, então, abandonados UMA SEGUNDA VEZ e pode-se dizer que traídos nessa defesa de um princípio fundamental (e do sustento dos demitidos em geral).

Eu, particularmente, fui demitido dois dias antes da greve de janeiro de 2018. Outros alguns dias depois.
Fui descobrir qual a justificativa de demissão da empresa, não no dia, mas 8 meses depois que eu entrei com o processo, mostrando que demitiram a mim e a tantos sem nenhuma justificativa e, depois, tentaram inventar alguma história pra dar base. Sigo lutando na justiça.

Mas o nosso terreno é o da luta direta da categoria, com nossa força unificada. É daí que vem nossas forças, como tantas greves jah mostraram.
Abrir mão disto e preferir ações jurídicas e conversas com o secretario do Doria é, novamente, o caminho da derrota.
É é por isso que não posso, como demitido, me calar diante das ações da diretoria. Dividir as demissões torna, inclusive, mais difícil lutar para reverter as demissões de 2019 agora.

Pelo fim das avaliações de desempenho e pela readmissão de TODOS metroviários demitidos de 2018 e 2019 que querem voltar e lutar por isto na justiça, sem separação entre "tipos de demissão"!
Por uma mobilização real e com diversas ações por isto!

Estas são as únicas bandeiras que podem nos fazer vencer e mandar um recado claro a chefia da empresa. Este é o marco zero de qualquer luta.

Porque quem vai lutar políticamente com o sindicato se perceber que, se demitido, não vai ser, políticamente, defendido?

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