sábado, 11 de janeiro de 2020

Hoje decidi falar de mim.

Hoje decidi falar de mim. Dessa incessante vontade de criar, propor, expor.
Nem todo dia estou de boa. Me empurro. Ando pela cidade, espero as flores e espinhos que encontro quando ando na multidão. Uma trombada no braço esquerdo; um soslaio incomodado; uma franzida de testa; aperto o passo, diminuo este.
Vez ou outra me presto ao papel estranho de entrar num bar só pra sentir como estão sentindo.
No meio do salão, olho pra esquerda. Na fila do banheiro, homens e mulheres de olhares baixos olham pra um nada, como se olhassem pra dentro de si. Não é raro um balbuciar indistinguível, daqueles que soltamos quando pensamos com nós mesmos.
Isso me provoca, me tira do conforto.
O dia a dia me ensina o conforto do sozinho, ainda assim, o passo me chama.
Talvez seja essa sensação de mistério insolúvel de não saber, nem poder saber, o que toma o coração e as idéias de toda essa turba. Ao menos não sem parecer um louco que, do nada, se preocupa com o que o outro pensa da vida.... Ou da morte.

E tem coisa mais interessante e reveladora do que saber a visão de mundo de alguém? Por mais simples que seja a resposta, muita coisa está envolvida.
Hoje, entre trombadas e passos me peguei pensando na vida. Pensei sobre seu fim. Não é um pensamento raro. Nosso hardware é feito pra nós afastar de tudo que ameace essa existência.
É a fórmula perfeita pra paranóia. E se hoje fosse o último? E se eu não pudesse viver o que planejei? Quantas narrativas como essas me cruzaram?

Olho o relógio. Já é quase meia noite. Vou carregar o bilhete. Operação negada para o usuário. Não tenho o que fazer. Será que o motô passa? Vou ter de dar migué?
Sei lá.
As vezes, uma vez vivo, o que importa é viver. E vivo, quero mudar.a mim e o mundo.
Quem sabe assim cada esbarrão me pareça menos vazio e insípido. Quem sabe esse encontro, único, me traga algo sobre nós além do choque. Quem sabe do choque surja o novo. E do comum e do banal, se veja a mais completa arte.
Aquela que percebemos num gesto simples do dia a dia.
Sem propósito, sem corolário. Apenas eu e minha continuidade, separados no tempo, juntos em essência, fluindo na história.

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