terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Greve de petroleiros na encruzilhada

A atual greve dos petroleiros é mais uma encruzilhada histórica, para o PT, para os petroleiros e para todos nós.

Com mais de 20 mil petroleiros parados, numa greve que a própria CUT anuncia como a maior desde 95. Lá, uma greve de 32 dias enfrentava Fernando Henrique e o Neoliberalismo em seu vigor de nascimento no Brasil. Chegando uma década mais tarde por aqui, após o levantamento operário dos anos 80, as forças do neoliberalismo fizeram o que puderam para acabar com esta greve.
Exército ocupando refinarias, multas milionárias contra a FUP (federação petroleira) pelo mesmo TST, enfim, o filme de sempre.
Foi importante para o imaginário popular , no entanto, manter consolidada a ideia do senso estratégico de uma Petrobrás estatal e para questionar o projeto neoliberal "sem amarras".

Cá estamos, em 2020, após a década neoliberal e o respiro social-liberal dos governos PT, ou seja, neoliberalismo com pitadas de socialdemocracia e assistencialismo, de volta a um piorado neoliberalismo sem amarras.

Bolsonaro é o capitão do barco do trabalho precário, do roubo de terras, assassinatos de indígenas, do fim da aposentadoria, da privatização de "tudo o que der", da terceirização total, dos 13 milhões de desempregados e 42 milhões de brasileiros na informalidade. A Petrobrás já possui grandes investimentos internacionais; o pré-sal não é vendido por falta de comprador e não vontade; todos gabinetes estratégicos do Planalto estão nas mãos dos militares; milícias, assassinatos e conspirações tomam conta do cenário do palácio burguês.

De nosso lado, uma greve da Petrobrás poderia ser o catalisador, a faísca, capaz de contagiar milhões de trabalhadores, empregados e desempregados, freando essa ofensiva social dos patrões.
Hoje, na cabeça de qualquer trabalhador consciente e, certamente, dos petroleiros cujo trabalho está ameaçado pelas demissões, soa o alerta: até quando pode durar esta greve? Uma semana? Uns dias? Um mês?
Quem vive de salário é muito concreto. Esta pergunta leva diretamente a outra: qual a estratégia para vencer?

Sob a terra arrasada do mundo do trabalho e a luta desesperada que cada peão tem para fechar o mês, a luta dos petroleiros pode ser um farol.

Não apenas vender gás a 30 reais, uma demonstração forte da capacidade dos trabalhadores de guiarem a luta popular, mas, em primeiro lugar, unificar os terceirizados de todas funções na própria Petrobrás, a greve, atropelando ou não os pelegos que dirigem seus sindicatos.
Poderia se unificar numa mobilização permanente com os caminhoneiros, em primeiro lugar pela libertação de seu líder sindical e pelas reivindicações.

Disto, quantas categorias não poderiam se animar com a luta e unificar suas forças?
Professores do RJ ou SP, humilhados por anos de arrocho salarial e precarização da educação? Correios, uma das maiores e mais antigas empresas prestes a demitir milhares e ser privatizada?

Desta unificação de "grandes pólos" dos trabalhadores, não seria possível organizar e ajudar a organizar comissões de mobilização e oposições entre os trabalhadores do call center? E entre os trabalhadores nos serviços? Não seria possível organizar assembléias de desempregados, que unissem organização, luta e ajuda material das categorias empregadas aos desempregados?

Isso não poderia envolver tanto grevistas quanto aqueles que não puderam ainda entrar em greve, mas que querem ajudar a "dar corpo" a este movimento?

Diante disso, quem poderia dizer que os trabalhadores no Brasil não tem voz, que não existem, que não tem força?

De todo esse movimento, não seria possível organizar um grande congresso, com membros de cada um destes setores citados, convocando os indígenas para se organizarem em conjunto, organizando uma pauta comum de reivindicações e luta, articulando seus passos, métodos e golpeando com uma só mão, numa frente única dos trabalhadores?

A CUT é a maior central sindical do Brasil. Possui milhões de verbas e, mais importante, milhões de trabalhadores em sua base sindical.

Se existe uma estratégia para não vencer é a de manter a greve da Petrobrás isolada, com efetivos isolados dos terceirizados, petroleiros isolados dos demais, apelando para ações midiáticas, moções de apoio e audiências na Justiça.

Se existe alguém capaz de dar passos nesse sentido é a CUT. Ao não fazê-lo, ela contribui não apenas para manutenção de toda a terra arrasada, para a derrota da greve e para, claro, o avanço do projeto bolsonarista neoliberal.

Veremos se, uma vez mais, as direções de CUT e PT, com medo de perder o controle, de ter de ceder espaço para a organização e ação livre e direta dos trabalhadores, trarão mais está derrota.

Isto marcaria mais um sinal de que estão dispostos a tudo para manter seu lugar no regime político como "conciliadores" entre trabalhadores e patrões, inclusive, direta e indiretamente, sustentar as condições que permitem Bolsonaro, Guedes e os bancos destruírem a vida do povo. Eles tem a faca e o queijo na mão, mas parecem não ter fome.

E aqui é que vem a responsabilidade de nós trabalhadores. Em primeiro os petroleiros, que devem refletir quais os caminhos para vencer; se este, baseado numa ação coletiva, ou o outro, baseado na ação controlada proposta por suas direções.  E, se for a primeira, cabe a estes forçarem este caminho.

Disto dependem vitórias objetivas e subjetivas para a classe trabalhadora. Se uma categoria capaz de rasgar os bolsos dos magnatas for derrotada, uma onda de desânimo adicional é quase certa.

E uma greve isolada da Petrobrás duramente duraria mais um mês. Os prejuízos são contidos e o patrão já mediu o teto da força dos trabalhadores. É hora de ampliar suas "reservas" e trazer mais lutadores para a arena.

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