quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Darwinismo social como política de Estado nos tempos de Corona

O Darwinismo social como política de Estado nos tempos de Corona

O Darwinismo social, esse conjunto de idéias arcaicas, baseadas numa tentativa de transpor conceitos da biologia ao mundo social, de "sobrevivência do mais apto", sempre serviu a justificação de políticas em que as populações mais pobres, os trabalhadores, eram o foco principal e vulnerável.

Tal idéia defendia que determinadas pessoas possuiriam características biológicas e, importante, sociais, as quais as fariam superiores, sendo assim, mais aptas a sobrevivência. O controle demográfico, ou seja, da quantidade e distribuição da população, deveria e se daria dessa forma.

Uma sociedade dos mais aptos então deveria ser fomentada através de políticas públicas.

Não espanta que tal idéia, absurda e reacionária, tenha sido base para Eugenia (manipulação e superioridade de determinados genes humanos), o fascismo e o nazismo.

Numa sociedade dividida em classes, divisão esta que os governantes burgueses tratam de sempre maquiar e negar, o Darwinismo social não é nada além de genocídio e extermínio, orientado pela classe dos indivíduos.

Hoje, dia 2 de abril, com as bolsas de valores em alta puxada pela trégua anunciada entre EUA e Rússia em relação a produção e o preço do barril de petróleo, trégua nada banal e que revela a profundidade da crise econômica provocada pelo vírus que não permite uma aventura comercial com prejuízos orçamentários a todos países, notícias escabrosas tomam os jornais:

No Brasil, já pelos 20 dias de paralisação parcial por conta do Vírus, não existe um sistema unificado e uma orientação central para a notificação dos casos confirmados, infectados e suspeitos de infecção por Corona Vírus.

Os principais jornais do país, após pressão de enfermeiros, vazamento de documentos orientando a não notificação e alerta de médicos, demonstram que a subnotificação é GIGANTESCA e generalizada no país. Em alguns casos e cidades, para cada caso confirmado são 15, 20 e até 40 casos não notificados.

Seguem, no entanto, governos e mídias, divulgando os nitidamente falsos números de apenas 6 mil infectados e 204 mortos até o momento.
Centenas de valas são cavadas nos cemitérios já abarrotados, carros frigoríficos alugados para transporte de corpos, enterros sem velório, sepultamento sem atestado de óbito e, assim, caminhamos para um descontrole completo da epidemia no Brasil.

Pelo planalto, o testa de ferro miliciano, apoiado e/ou orientado por parcelas importantes dos empresários, banqueiros e, com ênfase necessária, militares, continua a minimização da epidemia e força, por todas as vias, o afrouxamento do isolamento social.

Seja pelo pronunciamento irresponsável, pela deturpação da fala do presidente da OMS (organização mundial de saúde), pelo atraso da liberação da indispensável e miserável ajuda de 600 reais, por suas andanças nos comércios, incentivando o desrespeito a quarentena e o povo a se arriscar e contaminar, todos seus atos são para que "a economia" se coloque acima das vidas.

A subnotificação é, no entanto, a base real e criminosa para esta política que orienta as forças dominantes na política.

Não se enganem os que pensam que os governadores, com Dória e seu marketing a frente, divergem e exercem pressão contra esta política. Não apenas seguem abertas fábricas, diversos comércios, callcenters, serviços que nunca foram declarados essenciais mas agora são, como muitos, dentre eles com mais ênfase Dória, bateram palmas para a MP do corte de salários e suspensão de contratos aprovada ontem.

Sem que a massa de trabalhadores tenha clareza do enorme número de infectados, na casa das dezenas de milhares segundo projeções, além do número muito maior de mortes que não são notificadas por Corona, fica muito fácil manipular a opinião pública e forçar a exposição da base da pirâmide social a contaminação.

A partir daí, o Darwinismo opera segundo a lógica.
Os que tiverem a sorte de seu sistema imunológico resistir e algum recurso para se proteger/isolar por algum tempo, sobreviverão; os que não tiverem, infelizmente, morrerão e, muito provavelmente, sem velório, abraço ou despedida, nem sequer serão contabilizados nas estatísticas de mortos pelo vírus.

Isso, óbvio, não se aplica aos da estirpe de Justus, dono do Madero ou qualquer figurão executivo empresarial ou estatal. Em seus bunkers, iates e mansões, apenas despacham, a distância, para que os criados lhes tragam alimentos, enquanto acompanham o andamento de seus rendimentos e lucros.

Não é preciso, porém nunca é muito, lembrar que vivemos em um país em que 104 milhões (a metade da população) vive com 413 reais, com mais de 12 milhões de desempregados e 40 milhões de informais.

Desse "caldo", é claro, que a proporção daqueles em condições de serem "aptos", nesta seleção nada natural, será muito menor do que neste topo parasitário e assassino, onde reside a elite econômica do país.

Sem testagem massiva, identificando os focos de disseminação, os contaminados e aqueles suspeitos em seu círculo de convivência, com uma quarentena rígida garantida com salários pagos a todos trabalhadores para que fiquem em casa com sustento, não há nenhuma saída séria contra o vírus. E empresários e governos sabem disto.

Impressiona, no entanto, o papel desempenhado pelos sindicatos e as esquerdas, sejam as liberais, sejam as ditas revolucionárias e até mesmo a centro esquerda social liberal, que caracteriza o PT.
Estão de quarentena imóveis.

Com os trabalhadores, literalmente, sendo sacrificados em praça pública, com demagógicas medidas de "proteção ao emprego", que na verdade são alívio de custos e proteção ao lucro do patrão, com cortes de 70% nos salários, demissões em massa e assédio generalizado para o peão ir ao trabalho, o que fazem estes "representantes do povo"?

A maior central sindical do país, a CUT, paralisada, não organiza uma ação, nem a mais mínima...
Não tem uma campanha de doação de cestas básicas sequer em seu site.
A dita oposição parlamentar negocia no covil de cobras, a câmara de deputados, pela aprovação do "vale miséria", muito abaixo das mínimas necessidades de uma família e, quando muito, pedem encarecidamente para que Bolsonaro renuncie.

Nenhuma greve geral, nenhuma tentativa para que aqueles mais afetados, os peões, opinem e tenham protagonismo na gestão desta crise, para que não sejam buchas de canhão, é feita.

Enquanto isto, o vírus, trazido pelo governo e parte dos viajados membros da alta classe média e burguesia, começa a penetrar as fronteiras das periferias, favelas e fazer vítimas entre pessoas que, amontoadas em 5 pessoas em um cômodo e cozinha, não possuem água, saneamento e tem de se arriscar com o vírus pois sabem que a morte é certa.

Neste Malthusianismo revisitado, não há recursos para pagar os salários dos trabalhadores para que fiquem em quarentena, mas há bilhões para dar aos bancos, para que, com este dinheiro público, emprestem, endividem o povo e pequenas empresas e, assim, lucrem com juros.

Também é preciso cortar salários, mas mexer em um centavo que seja no lucro acumulado, graças ao trabalho do peão, nos caixas das grandes empresas e bancos, isso já é impossível.

O Darwinismo social que acontece diante de nossos olhos é um dos crimes mais inomináveis que a elite econômica, com a cumplicidade da grande mídia burguesa e dos governos cometem contra o próprio povo.

Um levante dos debaixo, greves selvagens contra o corte de salários, pelo confisco dos lucros, paralisações gerais pela isenção de cobranças de contas, pela indexação dos salários a inflação, para que subindo preços suba o salário, estas são a única via de abrir esta caixa preta de informações, para que saibamos a gravidade dos fatos e, assim, arranquemos, de quem fez fortunas a nossas custas, os recursos para sobrevivermos, nós e nossos parentes.

Ou isto ou, entre demagógicas medidas de quarentena meia-boca e dados falsos, veremos milhões de mortes, com caixões lacrados, dados escondidos e lágrimas distanciadas.

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