“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem.”
Esta frase não poderia se encaixar melhor para definir os acontecimentos dos últimos dias.
Hoje, dia 17/03, se confirma o primeiro falecimento em decorrência da doença – Covid19 - causada por corona vírus no Brasil. Até o momento são 200 casos, uma morte e milhares de suspeitos em avaliação.
Pelo mundo, o epicentro do contágio migra da China, cujas medidas de contenção e quarentena agressiva ajudaram diminuir a disseminação, para a Europa, com Itália e Espanha sofrendo as piores consequências.
Na Itália, cuja população idosa é proporcionalmente maior que a chinesa, a taxa de mortalidade da doença chegou a 7,7%, bem acima de 2,3%, a taxa na China.
A média de idade dos infectados é de 63 anos, geralmente com doenças pré-existentes, sofrendo principalmente com os sintomas de insuficiência respiratória. Por lá, somam-se mais de 23 mil infectados e 2150 mortos, em contraste com os mais de 90 mil infectados na China, com cerca de 3200 mortos.
A grande questão, que tem obrigado os governos de todo mundo a fechar fronteiras e tentar impedir aglomerações e reunião de pessoas, ora com medidas brandas, ora com ações rígidas de restrição, é que o Corona Vírus possui uma taxa de infecção muito grande, tornando seu alastramento difícil de conter.
Outra dificuldade está no fato de que muitos dos infectados são assintomáticos, principalmente aqueles fora do chamado “grupo de risco”, como jovens e crianças que, embora não desenvolvam a doença, podem espalhar de maneira acelerada o vírus àquela porção da população mais vulnerável.
Esta epidemia, em meio a já enfraquecida economia capitalista, operando em “banho maria” com baixas taxas de crescimento desde a crise de 2008, se soma a guerra comercial ao redor do petróleo e as incertezas decorrentes da dificuldade de crescimento mundial.
Uma verdadeira tempestade perfeita se ergue sob as nações do planeta, com previsões de quarentena, forçada ou não, pelos próximos 3 ou 4 meses, quando se espera que o vírus seja controlado e se avance em tratamento, medidas de isolamento e vacinas.
De fato, na atual etapa inicial do enfrentamento do vírus, a experiência da China e Itália demonstra que o principal impacto do vírus é não tanto sua mortalidade, mas a pressão que exerce sob os sistemas de saúde, desigualmente desenvolvidos, em todo o mundo.
Quanto menos restrições e medidas de controle de circulação, mais rápida a disseminação do vírus e, assim, o contágio das populações de risco. Isto leva a sobrecarga dos leitos de hospitais, UTI’s e sistemas de saúde em geral.
O resultado da demora observamos nos corpos empilhados nas igrejas italianas e a heroica – e arriscada - luta das enfermeiras, médicos e profissionais da saúde para tentar garantir tratamento e cuidados para pilha de doentes que tomam os hospitais.
Disto surge o chamado cientifico a “tornar a curva plana”, em alusão a necessidade de tomar medidas agressivas de restrição de mobilidade como forma de controlar o ritmo do contágio e permitir que os sistema não seja sobrecarregado por um pico descontrolado de infectados, cenário este que, no caso do Brasil, se verificará nas próximas semanas caso não se aja rápido.
A sobrecarga é, no entanto, praticamente inevitável quando falamos da atual estrutura econômica e social capitalista em praticamente todas as nações do mundo.
Sob este sistema, o desenvolvimento é necessariamente desigual, pois responde a divisão mundial do trabalho (ou seja, a relação de produção de bens entre aquelas nações desenvolvidas e ricas, com economias baseadas nos serviços e as nações subdesenvolvidas, periféricas, coloniais e semicoloniais, responsáveis pela produção de bens agrários e extrativistas, pobres e/ou dependentes destas nações capitalistas avançadas).
Isto significa que uma crise deste porte necessariamente atingiria países como a Itália ou Inglaterra, que contam com dezenas de milhares de médicos e milhares de hospitais, de forma muito diferente de como atingiria Serra Leoa, epicentro de outra crise epidemiológica com o Ebola, que conta com 245 médicos e 80 hospitais. Até agora, apenas por sorte não se observou eclosões catastróficas nas nações mais pobres.
Essa discrepância absurda não tem nada de natural e corresponde às relações de subordinação e exploração existentes entre as nações capitalistas avançadas, ou melhor, os grandes bancos e conglomerados industriais destas e as nações periféricas e dominadas, principalmente no Sul Global.
Sendo assim, no “sistema de Estados” mundial, a epidemia tem um endereço muito mais vulnerável e a catástrofe um terreno muito mais fértil nas nações pobres, periféricas e semicoloniais.
Na contramão dos fatos e expectativas, o fantoche de milícias e militares que ocupa o palácio do planalto, passou de minimizar o impacto da crise como “uma fantasia” a, num episódio estranho, característico de tudo que lhe envolve, participar de uma delegação com 11 infectados que foi aos EUA e, ao que parece, lhe transmitiu o Vírus, embora este diga que os testes deram negativo.
É coerente com mais esta fanfarronada que ele se encontrou com apoiadores alucinados neste final de semana.
Apoiadores do terraplanismo e da teoria de que o Corona seria uma farsa, juntaram algumas centenas para pedir o AI5 e fechamento do congresso e do STF – além de transmitir o vírus-, incentivados pelos militares e pelo miliciano, ambos interessados nos frutos políticos que podem conseguir com o pânico.
Como quem tenta jogar panos quentes, Paulo Guedes, a verdadeira face dos bancos e magnatas capitalistas, gringos e nacionais, anunciou um “pacote de aquecimento” da economia com supostas “medidas de proteção ao emprego”.
Neste, basicamente, distribui facilidades fiscais as empresas (possibilidade de adiar o pagamento de tributos federais e o FGTS por meses;), créditos para médio e microempresas, facilitação de compra de matérias primas e insumos pelas indústrias e compra de linhas de crédito de bancos médios.
Para o SUS, prometem destinar 4,5 bilhões do Fundo de amparo ao trabalhador e liberar crédito, ou seja, empréstimo, de 5 bilhões para tanto o ministério da saúde quanto o da educação.
Nada de ampliação do número de leitos nos hospitais, de controle público sob os leitos privados, de somas emergenciais substanciais para tratar dos infectados e evitar o contágio. Para uma crise deste porte oferecem a cada ministério 2,5 bilhões em crédito, enquanto só em auxílio moradia a membros do Estado gastaram 3,5 bilhões em 2018!
Ou seja, ao invés de medidas de “proteção aos empregos” anunciam um enorme pacote de “proteção aos lucros dos empresários e bancos”, como se, com estas facilidades, num país com já 14 milhões de desempregados e 42 milhões de informais por conta própria, se beneficiasse as maiorias trabalhadoras.
Aos entregadores Uberizados, terceirizados sofrendo com as demissões e rotatividade, trabalhadores de telemarketing e callcenter, camelôs, ambulantes, desempregados, trabalhadores dos serviços, nenhuma medida eficaz.
Para se evitar, de verdade, o contágio e, assim, a sobrecarga no sistema de saúde, um conjunto de medidas emergenciais deveriam ser feitas em benefício da maioria da população trabalhadora:
Não apenas a ampliação do financiamento em saúde, saneamento, mas a suspensão de pagamento de alugueis, contas de luz e água;
-o cancelamento IMEDIATO do teto de gastos, que impedem ampliações no orçamento da saúde e educação, aprovado em 2017;
- a organização de um plano veloz de estabelecimento e restabelecimento de distribuição de energia e água em zonas que sofrem com sua falta (há favelas no RJ com falta de água há 15 dias);
- a proibição de demissões e do confisco ou redução de salário dos trabalhadores; a nacionalização de empresas que demitirem; o confisco dos lucros bilionários dos Bancos (só o Itaú somou 28,4 bilhões de reais de lucro em 2019) e aplicação dos recursos em benefício dos trabalhadores;
- nos trabalhos essenciais, suspensão imediata de qualquer sanção por falta e atrasos aos trabalhadores e distribuição de equipamento de proteção a todos;
- distribuição de um salário mensal que respeite a média dos salários anteriores, a todos trabalhadores, para que fiquem em quarentena até o fim do surto;
- distribuição gratuita de equipamentos de prevenção a quem necessita, como álcool, máscaras aos infectados, etc;
- que todos os salários sejam indexados a inflação, ou seja, uma vez que esta suba, pela pressão enorme do dólar alto e da crise econômica, os salários sobem na mesma medida, protegendo o poder de compra do trabalhador.
Na Espanha, por exemplo, a situação atingiu tamanha dificuldade que, como única medida para enfrentar a sobrecarga, o Governo decidiu estatizar todos os leitos privados e, assim, hospitais, colocando sob controle público. Na Itália, a Alitalia, a maior companhia aérea, seguindo as dificuldades e ameaça de falência de diversas companhias do setor, como a da gigante American Airlines, pode ser estatizada.
O fato é que, tal desigualdade do desenvolvimento esbarra de frente com a atual ideia, bonita, porém inviável no capitalismo, de um sistema mundial de saúde.
Como é possível que se possa evitar um contágio e o desmoronamento dos sistemas de saúde se a prioridade, mesmo em tempos de crise, segue sendo o lucro?
É racional falar em quarentena e isolamento quando metade dos trabalhadores brasileiros são informais - mês a mês incertos de quanto podem conseguir - ou quando os patrões obrigam os trabalhadores a se espremer nos metrôs e ônibus, arriscando a sua saúde e de familiares, por lucro?
Por outro lado, como é possível falar em um sistema mundial de saúde num planeta em que saúde é tratada como negócio e, como tal, leitos, camas e atendimentos são restritos a população que não pode pagar?
Numa epidemia como esta, os trabalhadores precisam se perguntar quem ganha e quem perde; quem se expõe e quem se resguarda. A quem serve este sistema e esta “democracia”. Seria um governo do povo, mesmo?
Se, numa crise, a única solução séria vem de medidas não de capitalismo, mas socialistas ou “socializantes”, como as nacionalizações de empresas e hospitais, o congelamento dos preços, com salários subindo com o aumento da inflação, porque fora da crise, quando deveríamos nos preparar para ela, serve a prioridade ao lucro de uma minoria?
Esta é a maior oportunidade de percebermos a irracionalidade da produção e administração da sociedade capitalista, onde, o que impera, não é a ordem, mas a anarquia, com cada capitalista decidindo quais serviços e bens produzir, quando produzir e para quem oferecer, sem nenhum plano coletivo que, racionalmente, atenda as necessidades imediatas e futuras da humanidade.
O Corona vírus não será a última epidemia que viveremos. O aquecimento global acelera o surgimento destas, na medida em que um mundo mais quente é mais hospitaleiro para vírus e bactérias.
O capitalismo demonstrou que, além, de ser incapaz de lidar com suas crises econômicas cíclicas, a cada dez anos, não possui ferramentas para lidar com epidemias deste porte.
E se nos depararmos com uma que não apenas possua uma alta taxa de infecção e também de mortalidade entre todas as faixas etárias? E se, como hoje, isto se der numa combinação de crise econômica e biológica?
A única saída que este sistema econômico nos oferece seria a extinção da maioria, obrigada como gado ao abatedouro da exposição diária ao vírus em nome do lucro, e a fuga da minoria para suas casas na praia, de campo ou bunkers, armados até os dentes.
Inviável biologicamente, por não ser capaz de responder, racional e planejadamente, aos riscos que ele cria, o capitalismo precisa ser questionado em sua essência.
Isto deve nos levar a ver que uma economia socializada, controlada pela maioria dos trabalhadores, com uma produção e serviços organizados em base a um plano coletivo e social, livres das amarras do lucro e da acumulação de riqueza privada, são a única saída para esta e outras epidemias. Só assim, colocando os interesses sociais acima dos interesses do lucro, um sistema de saúde racionalmente planejado e homogêneo poderia ser organizado e compartilhado mundialmente.
Nossa espécie está diante de um desafio biológico, social e econômico na história. E as forças do atraso e da extinção são as que minimizam os riscos, enquanto se escondem em seus bunkers, com seu estoque de armas, papel higiênico e álcool gel. E estas estão, infelizmente, no poder.
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Fontes consultadas:
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2020/03/16/perfil-de-mortos-por-coronavirus-na-italia-e-o-mesmo-da-china-mas-mortalidade-e-tres-vezes-maior.htm
https://www.pbs.org/wgbh/nova/article/ebola-doctors/#:~:text=In%20total%2C%20about%20245%20doctors%20practice%20within%20Sierra%20Leone.
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/16/coronavirus-medidas-economicas-guedes-13-salario-bolsa-familia-abono.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social-media&utm_campaign=noticias&utm_content=geral&fbclid=IwAR3jINwRVlmZFLZJdmkcGPmAODCY4zxaXZFWb_6-DtEsevoO683K3leJtKI
https://oglobo.globo.com/economia/devido-ao-coronavirus-italia-cogita-estatizar-alitalia-franca-estuda-socorrer-empresas-1-24309476
Esta frase não poderia se encaixar melhor para definir os acontecimentos dos últimos dias.
Hoje, dia 17/03, se confirma o primeiro falecimento em decorrência da doença – Covid19 - causada por corona vírus no Brasil. Até o momento são 200 casos, uma morte e milhares de suspeitos em avaliação.
Pelo mundo, o epicentro do contágio migra da China, cujas medidas de contenção e quarentena agressiva ajudaram diminuir a disseminação, para a Europa, com Itália e Espanha sofrendo as piores consequências.
Na Itália, cuja população idosa é proporcionalmente maior que a chinesa, a taxa de mortalidade da doença chegou a 7,7%, bem acima de 2,3%, a taxa na China.
A média de idade dos infectados é de 63 anos, geralmente com doenças pré-existentes, sofrendo principalmente com os sintomas de insuficiência respiratória. Por lá, somam-se mais de 23 mil infectados e 2150 mortos, em contraste com os mais de 90 mil infectados na China, com cerca de 3200 mortos.
A grande questão, que tem obrigado os governos de todo mundo a fechar fronteiras e tentar impedir aglomerações e reunião de pessoas, ora com medidas brandas, ora com ações rígidas de restrição, é que o Corona Vírus possui uma taxa de infecção muito grande, tornando seu alastramento difícil de conter.
Outra dificuldade está no fato de que muitos dos infectados são assintomáticos, principalmente aqueles fora do chamado “grupo de risco”, como jovens e crianças que, embora não desenvolvam a doença, podem espalhar de maneira acelerada o vírus àquela porção da população mais vulnerável.
Esta epidemia, em meio a já enfraquecida economia capitalista, operando em “banho maria” com baixas taxas de crescimento desde a crise de 2008, se soma a guerra comercial ao redor do petróleo e as incertezas decorrentes da dificuldade de crescimento mundial.
Uma verdadeira tempestade perfeita se ergue sob as nações do planeta, com previsões de quarentena, forçada ou não, pelos próximos 3 ou 4 meses, quando se espera que o vírus seja controlado e se avance em tratamento, medidas de isolamento e vacinas.
De fato, na atual etapa inicial do enfrentamento do vírus, a experiência da China e Itália demonstra que o principal impacto do vírus é não tanto sua mortalidade, mas a pressão que exerce sob os sistemas de saúde, desigualmente desenvolvidos, em todo o mundo.
Quanto menos restrições e medidas de controle de circulação, mais rápida a disseminação do vírus e, assim, o contágio das populações de risco. Isto leva a sobrecarga dos leitos de hospitais, UTI’s e sistemas de saúde em geral.
O resultado da demora observamos nos corpos empilhados nas igrejas italianas e a heroica – e arriscada - luta das enfermeiras, médicos e profissionais da saúde para tentar garantir tratamento e cuidados para pilha de doentes que tomam os hospitais.
Disto surge o chamado cientifico a “tornar a curva plana”, em alusão a necessidade de tomar medidas agressivas de restrição de mobilidade como forma de controlar o ritmo do contágio e permitir que os sistema não seja sobrecarregado por um pico descontrolado de infectados, cenário este que, no caso do Brasil, se verificará nas próximas semanas caso não se aja rápido.
A sobrecarga é, no entanto, praticamente inevitável quando falamos da atual estrutura econômica e social capitalista em praticamente todas as nações do mundo.
Sob este sistema, o desenvolvimento é necessariamente desigual, pois responde a divisão mundial do trabalho (ou seja, a relação de produção de bens entre aquelas nações desenvolvidas e ricas, com economias baseadas nos serviços e as nações subdesenvolvidas, periféricas, coloniais e semicoloniais, responsáveis pela produção de bens agrários e extrativistas, pobres e/ou dependentes destas nações capitalistas avançadas).
Isto significa que uma crise deste porte necessariamente atingiria países como a Itália ou Inglaterra, que contam com dezenas de milhares de médicos e milhares de hospitais, de forma muito diferente de como atingiria Serra Leoa, epicentro de outra crise epidemiológica com o Ebola, que conta com 245 médicos e 80 hospitais. Até agora, apenas por sorte não se observou eclosões catastróficas nas nações mais pobres.
Essa discrepância absurda não tem nada de natural e corresponde às relações de subordinação e exploração existentes entre as nações capitalistas avançadas, ou melhor, os grandes bancos e conglomerados industriais destas e as nações periféricas e dominadas, principalmente no Sul Global.
Sendo assim, no “sistema de Estados” mundial, a epidemia tem um endereço muito mais vulnerável e a catástrofe um terreno muito mais fértil nas nações pobres, periféricas e semicoloniais.
Na contramão dos fatos e expectativas, o fantoche de milícias e militares que ocupa o palácio do planalto, passou de minimizar o impacto da crise como “uma fantasia” a, num episódio estranho, característico de tudo que lhe envolve, participar de uma delegação com 11 infectados que foi aos EUA e, ao que parece, lhe transmitiu o Vírus, embora este diga que os testes deram negativo.
É coerente com mais esta fanfarronada que ele se encontrou com apoiadores alucinados neste final de semana.
Apoiadores do terraplanismo e da teoria de que o Corona seria uma farsa, juntaram algumas centenas para pedir o AI5 e fechamento do congresso e do STF – além de transmitir o vírus-, incentivados pelos militares e pelo miliciano, ambos interessados nos frutos políticos que podem conseguir com o pânico.
Como quem tenta jogar panos quentes, Paulo Guedes, a verdadeira face dos bancos e magnatas capitalistas, gringos e nacionais, anunciou um “pacote de aquecimento” da economia com supostas “medidas de proteção ao emprego”.
Neste, basicamente, distribui facilidades fiscais as empresas (possibilidade de adiar o pagamento de tributos federais e o FGTS por meses;), créditos para médio e microempresas, facilitação de compra de matérias primas e insumos pelas indústrias e compra de linhas de crédito de bancos médios.
Para o SUS, prometem destinar 4,5 bilhões do Fundo de amparo ao trabalhador e liberar crédito, ou seja, empréstimo, de 5 bilhões para tanto o ministério da saúde quanto o da educação.
Nada de ampliação do número de leitos nos hospitais, de controle público sob os leitos privados, de somas emergenciais substanciais para tratar dos infectados e evitar o contágio. Para uma crise deste porte oferecem a cada ministério 2,5 bilhões em crédito, enquanto só em auxílio moradia a membros do Estado gastaram 3,5 bilhões em 2018!
Ou seja, ao invés de medidas de “proteção aos empregos” anunciam um enorme pacote de “proteção aos lucros dos empresários e bancos”, como se, com estas facilidades, num país com já 14 milhões de desempregados e 42 milhões de informais por conta própria, se beneficiasse as maiorias trabalhadoras.
Aos entregadores Uberizados, terceirizados sofrendo com as demissões e rotatividade, trabalhadores de telemarketing e callcenter, camelôs, ambulantes, desempregados, trabalhadores dos serviços, nenhuma medida eficaz.
Para se evitar, de verdade, o contágio e, assim, a sobrecarga no sistema de saúde, um conjunto de medidas emergenciais deveriam ser feitas em benefício da maioria da população trabalhadora:
Não apenas a ampliação do financiamento em saúde, saneamento, mas a suspensão de pagamento de alugueis, contas de luz e água;
-o cancelamento IMEDIATO do teto de gastos, que impedem ampliações no orçamento da saúde e educação, aprovado em 2017;
- a organização de um plano veloz de estabelecimento e restabelecimento de distribuição de energia e água em zonas que sofrem com sua falta (há favelas no RJ com falta de água há 15 dias);
- a proibição de demissões e do confisco ou redução de salário dos trabalhadores; a nacionalização de empresas que demitirem; o confisco dos lucros bilionários dos Bancos (só o Itaú somou 28,4 bilhões de reais de lucro em 2019) e aplicação dos recursos em benefício dos trabalhadores;
- nos trabalhos essenciais, suspensão imediata de qualquer sanção por falta e atrasos aos trabalhadores e distribuição de equipamento de proteção a todos;
- distribuição de um salário mensal que respeite a média dos salários anteriores, a todos trabalhadores, para que fiquem em quarentena até o fim do surto;
- distribuição gratuita de equipamentos de prevenção a quem necessita, como álcool, máscaras aos infectados, etc;
- que todos os salários sejam indexados a inflação, ou seja, uma vez que esta suba, pela pressão enorme do dólar alto e da crise econômica, os salários sobem na mesma medida, protegendo o poder de compra do trabalhador.
Na Espanha, por exemplo, a situação atingiu tamanha dificuldade que, como única medida para enfrentar a sobrecarga, o Governo decidiu estatizar todos os leitos privados e, assim, hospitais, colocando sob controle público. Na Itália, a Alitalia, a maior companhia aérea, seguindo as dificuldades e ameaça de falência de diversas companhias do setor, como a da gigante American Airlines, pode ser estatizada.
O fato é que, tal desigualdade do desenvolvimento esbarra de frente com a atual ideia, bonita, porém inviável no capitalismo, de um sistema mundial de saúde.
Como é possível que se possa evitar um contágio e o desmoronamento dos sistemas de saúde se a prioridade, mesmo em tempos de crise, segue sendo o lucro?
É racional falar em quarentena e isolamento quando metade dos trabalhadores brasileiros são informais - mês a mês incertos de quanto podem conseguir - ou quando os patrões obrigam os trabalhadores a se espremer nos metrôs e ônibus, arriscando a sua saúde e de familiares, por lucro?
Por outro lado, como é possível falar em um sistema mundial de saúde num planeta em que saúde é tratada como negócio e, como tal, leitos, camas e atendimentos são restritos a população que não pode pagar?
Numa epidemia como esta, os trabalhadores precisam se perguntar quem ganha e quem perde; quem se expõe e quem se resguarda. A quem serve este sistema e esta “democracia”. Seria um governo do povo, mesmo?
Se, numa crise, a única solução séria vem de medidas não de capitalismo, mas socialistas ou “socializantes”, como as nacionalizações de empresas e hospitais, o congelamento dos preços, com salários subindo com o aumento da inflação, porque fora da crise, quando deveríamos nos preparar para ela, serve a prioridade ao lucro de uma minoria?
Esta é a maior oportunidade de percebermos a irracionalidade da produção e administração da sociedade capitalista, onde, o que impera, não é a ordem, mas a anarquia, com cada capitalista decidindo quais serviços e bens produzir, quando produzir e para quem oferecer, sem nenhum plano coletivo que, racionalmente, atenda as necessidades imediatas e futuras da humanidade.
O Corona vírus não será a última epidemia que viveremos. O aquecimento global acelera o surgimento destas, na medida em que um mundo mais quente é mais hospitaleiro para vírus e bactérias.
O capitalismo demonstrou que, além, de ser incapaz de lidar com suas crises econômicas cíclicas, a cada dez anos, não possui ferramentas para lidar com epidemias deste porte.
E se nos depararmos com uma que não apenas possua uma alta taxa de infecção e também de mortalidade entre todas as faixas etárias? E se, como hoje, isto se der numa combinação de crise econômica e biológica?
A única saída que este sistema econômico nos oferece seria a extinção da maioria, obrigada como gado ao abatedouro da exposição diária ao vírus em nome do lucro, e a fuga da minoria para suas casas na praia, de campo ou bunkers, armados até os dentes.
Inviável biologicamente, por não ser capaz de responder, racional e planejadamente, aos riscos que ele cria, o capitalismo precisa ser questionado em sua essência.
Isto deve nos levar a ver que uma economia socializada, controlada pela maioria dos trabalhadores, com uma produção e serviços organizados em base a um plano coletivo e social, livres das amarras do lucro e da acumulação de riqueza privada, são a única saída para esta e outras epidemias. Só assim, colocando os interesses sociais acima dos interesses do lucro, um sistema de saúde racionalmente planejado e homogêneo poderia ser organizado e compartilhado mundialmente.
Nossa espécie está diante de um desafio biológico, social e econômico na história. E as forças do atraso e da extinção são as que minimizam os riscos, enquanto se escondem em seus bunkers, com seu estoque de armas, papel higiênico e álcool gel. E estas estão, infelizmente, no poder.
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Fontes consultadas:
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2020/03/16/perfil-de-mortos-por-coronavirus-na-italia-e-o-mesmo-da-china-mas-mortalidade-e-tres-vezes-maior.htm
https://www.pbs.org/wgbh/nova/article/ebola-doctors/#:~:text=In%20total%2C%20about%20245%20doctors%20practice%20within%20Sierra%20Leone.
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/16/coronavirus-medidas-economicas-guedes-13-salario-bolsa-familia-abono.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social-media&utm_campaign=noticias&utm_content=geral&fbclid=IwAR3jINwRVlmZFLZJdmkcGPmAODCY4zxaXZFWb_6-DtEsevoO683K3leJtKI
https://oglobo.globo.com/economia/devido-ao-coronavirus-italia-cogita-estatizar-alitalia-franca-estuda-socorrer-empresas-1-24309476
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