terça-feira, 24 de março de 2020

Notas urgentes e essenciais sobre a situação da epidemia até aqui.



1- Está mais do que confirmada a política estatal de subnotificação. Anunciam 1891 casos, mas médicos, especialistas e coordenadores de saúde na linha de frente apontam que este número é de 11 a 15 casos não notificados para cada infectado confirmado. Desse modo, estaríamos na casa dos 28 mil infectados.

2- Esta política de subnotificação está ligada a falta de testes e a estratégia de combate escolhida pelos governadores e pelo governo federal. Suas diferenças são meras disputas eleitorais; no fundamental todos estão escolhendo a mesma política: Ao invés da supressão, escolheram a mitigação como forma de combate ao vírus.

3 - Supressão foi a medida realizada pelos chineses e coreanos do sul e consiste em travar a cadeia de transmissão do vírus impondo uma quarentena rígida e testando pessoas com sintomas e qualquer um que se aproximou delas. Na Coreia e China essa foi a medida capaz de barrar o surto e reduzir drasticamente novos casos e mortes. "Mitigação" é a medida que estava sendo realizada na Itália e, inicialmente, na Inglaterra, que consiste em não suprimir a cadeia, mas dificultar um pouco a disseminação e gerar imunidade com a infecção da maioria da população. Após estudos de universidades inglesas, ficou comprovado que esta estratégia levaria a 520 mil mortos em 3 meses e a sobrecarga do sistema de saúde, assim como na Itália. Hoje, os ingleses deram "um cavalo de pau" e assumiram a estratégia da supressão, ou seja, acabar com a transmissão fechando cidades, impondo quarentena e realizando testes.

4 - A subnotificação tem tudo a ver com a escolha dos governadores e, antes de tudo, Dória e Bolsonaro que, enquanto fingem se oporem, atuam juntos para manter as cadeiras produtivas em funcionamento.

5 - Trabalhadores precarizados em telemarketing são declarados essenciais; segue o funcionamento de indústrias, com milhares de operários, de TODOS OS RAMOS; construção civil, obras públicas, estradas, transporte de todos tipos de cargas seguem funcionando.

6 - Isso demonstra que, por debaixo do bate boca oportunista de Doria e Bolsonaro, com o governador de SP claramente buscando (como marketeiro que é) se diferenciar de Bolsonaro para criar uma falsa impressão de que luta contra o vírus e assim se localizar melhor na disputa eleitoral, está a realidade: essa FALSA OPOSIÇÃO esconde que ambos cedem as pressões das empresas, dos ruralistas, dos bancos, das igrejas, dos industriais e das bolsas para NÃO parar a produção e garantir os lucros fluindo, mesmo que as custas de vidas de trabalhadores. Aqui, a fração comercial da burguesia é a que decidiram que vai pagar a maior parcela do bolo, já que teve seus negócios fechados.

7 - Tudo fica claro com as medidas tomadas: enquanto países chamados "socialistas", mesmo sem ser, como Venezuela e El Salvador, isentam cobranças de água, luz, gás, aluguéis e se comprometem a pagar salarios de empregados públicos e privados enquanto durar a quarentena, para realmente suprimir a disseminação, no Brasil, as medidas beneficiam apenas as empresas, seus lucros e, principalmente, os bancos: 68 bilhões entregues pelo Banco Central (ou seja, dinheiro público) aos bancos privados para que emprestem e criem mais dívida no povo; isenção de impostos federais, facilitação de compra de matérias primas e, recentemente, a medida provisória que permite (mesmo após revogar o ponto específico) suspender contratos e salários do trabalhador. Aos trabalhadores apenas se prometeu o chamado "vale miséria", de 200 reais, num país cujo salário mínimo deveria ser, para uma vida digna, de 4500 reais.

8 - Coagidos a trabalhar, tendo de escolher entre se endividar/morrer de fome ou contrair o vírus e espalhá-lo, o ultraneoliberalismo brasileiro (e mundial) mostra, através das figuras sádicas dos figurões e de cada pequeno patrão, que este sistema econômico e social capitalista ultrapassou há tempos o limite da racionalidade e não pode servir mais a humanidade e as necessidades do povo; pelo contrário, quanto mais ele dura, mais sacrifícios, fome, miséria e doenças são impostas aqueles que vivem mês a mês de salário, produzem tudo mas sem ter a chance de guardar nenhuma economia que lhe permita sobreviver nestas situações gravíssimas. O lucro impede a vida.

9 - Centenas de leitos sendo construídos não é, necessariamente, um sinal de "boa atitude" neste combate. Fazem justamente porque sua estratégia conta com a sobrecarga do sistema de saúde, com a não testagem dos suspeitos, em suma, contam com a morte de dezenas ou centenas de milhares (se não for pior).

10 - Os trabalhadores PRECISAM abrir os olhos e entender que não é um problema de falta de recursos.
Apenas o Itaú lucrou 28 bilhões de reais em 2019. As empresas e bancos devem mais de 500 bilhões de reais de impostos ao INSS (vulgo roubo do que deveriam contribuir a previdência ). Se fosse instaurado um imposto sob lucros, dividendos e grandes fortunas seria possível obter mais de 275 bilhões de reais. Para se ter ideia, para o "vale miséria" Guedes propôs apenas 15 bilhões.

11- Quantos hospitais poderiam ser feitos? Quantos milhões de trabalhadores formais e informais, desempregados e empregados, poderiam receber salários para ficar em quarentena? Quantas máscaras, testes, álcool, poderiam ser distribuídos? Quanto se paga em sangue para se manter a lógica do lucro acima de tudo? E quem paga?

12 - Precisamos agir rápido. Estamos as portas de uma catástrofe que pode vitimar mais de um milhão de pessoas, por Covid19 ou outras doenças por falta de Uti's. Os trabalhadores precisam realizar a pressão e luta por todas as vias possíveis e seguras, digitais e reais, para que a gestão dessa crise não seja paga com seu sangue. Para que haja ISENÇÃO de cobranças por pelo menos 4 meses, pagamento de salários, quarentena real e rígida e distribuição de proteção a todos.  Só assim o vírus será parado.

13- Essa responsabilidade é de todos nós, mas aquelas categorias com mais força tem um papel histórico central para impor nossa decisão. Ferroviários e Metrôviários, operários da indústria, motoristas de ônibus, caminhoneiros, precisam decretar greve e funcionamento apenas para necessidades essenciais de combate ao vírus. Transporte de utensílios médico-hospitalares, de profissionais no combate ao vírus e produção destes utensílios. Qualquer outro serviço deve ser totalmente interrompido. Se o Estado não permitir ou fizer, que os próprios trabalhadores se organizem e façam. Esse movimento é o único capaz de acabar com o assédio e coação para que trabalhadores NÃO ESSENCIAIS sigam circulando e contraindo o vírus.

A hora é agora. Nossa vida já mudou. Resta apontar, nas idéias e nos atos, para o mundo que queremos que surja dessa catástrofe. E ele precisa ser coletivo, socializado e planejado. O oposto desse capitalismo podre e em decomposição.

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