1 - No dia em que o Brasil, segundo dados oficiais, acumula 38.700 mortos diretos por Covid e 747 mil infectados, no epicentro da epidemia em São Paulo, Dória e Covas realizam a reabertura do comércio, escritórios e, na quinta, dos shoppings. O país já ultrapassou os EUA e Reino Unido no número médio de casos diários, acumulando 7.197 mortes em 7 dias, com uma média de 1.028 por dia. Importantíssimo frisar que estes são dados oficiais. A subnotificação no Brasil é de cerca de 7 vezes mais casos do que os valores oficiais.
2 - A reabertura do comércio em geral e shoppings é resultado de um giro de 180 graus de Dória: Há umas semanas falava da possibilidade de “lockdown”, fechando tudo, o que mudou bruscamente anunciando um plano supostamente científico de reabertura chamado “Plano São Paulo”. Especialistas cientistas dos grupos COVID19 Brasil e Ação Covid19 afirmam que este plano não possui qualquer embasamento científico, que países que não possuem indicadores claros de achatamento da curva de casos (e o Brasil demonstra o contrário, mas o aumento do número) jamais poderiam pensar em reabrir e acabar com o isolamento. Segundo estes grupos, todo o esforço do isolamento (meia boca, diga-se de passagem) durante 3 meses pode ser perdido em UMA semana.
3 - As principais vítimas do Covi19 já são, há um bom tempo, aqueles que vivem nas franjas de SP e das grandes metrópoles. Ou seja, são os pobres, trabalhadores e periféricos que mais morrem A reabertura acontece dois dias antes do dia dos namorados, data comercial tradicional, provocando aglomerações, transportes lotados e, claro, a disseminação do vírus.
Sem nenhum obstáculo, o corona não tem limite para se espalhar: o “achatamento da curva” , ou seja, a estabilização e controle do número de casos e mortes, só é possível com isolamento social e testagem de milhões. Sem ele, não existe nada que vá estabilizar a situação e o vírus seguirá se espalhando até atingir todo humano que puder. Projeções já apontam que, seguindo esse ritmo, teremos mais de 5 mil mortos por dia no Brasil. Isso levará a morte de milhões, numa situação pior do que qualquer guerra recente.
4 - A prefeitura e o estado de SP dizem que a situação começa a “estabilizar” porque “o número de ocupação de leitos diminuiu”, mas esquecem, propositalmente, de dizer que o número de mortes em casa aumentou vertiginosamente.
O “plano São Paulo” é uma farsa e já é chamado pelos cientistas de plano de “abatedouro” de pobres e trabalhadores. A expressão clara de um genocídio e darwinismo social.
5 - Esta farsa é patrocinada e resultado da pressão dos setores empresariais, patrões e associações de patrões, lojistas, indústrias, shoppings e burgueses em geral. Para eles “economia é saúde”, ou seja, a sua saúde sacrificada é o que faz a economia deles ficar saudável. Desde o início, com objetivos eleitorais, Dória e os governadores mantiveram uma fachada demagógica de “seriedade”, se diferenciando de Bolsonaro para colher votos. Hoje, enfim, se rendem a quem realmente manda no negócio: o poder econômico, que exige que o povo volte ao trabalho, volte ao consumo e, assim, seja sacrificado para manter seus lucros. Sua aposta (desde o início da pandemia, vale notar) é simples: no país acostumado a uma guerra civil e apartheid maquiados de pretos, pobres e trabalhadores, é possível maquiar dados e dar a impressão de que não há tantas mortes, mantendo assim, “a economia girando”
6 – Diante dessa, enfim, unificação de métodos de Bolsonaro e os governadores, vimos, na última semana, manifestações em reação a escalada (planejada) de tom de Bolsonaro. Em capitais do país, alguns milhares de pessoas compareceram a atos “Pela democracia e contra o racismo”, com bastante participação de jovens negros, ressoando a luta dos negros nos EUA contra a violência policial. Estes atos em SP, no entanto, encabeçados por setores da esquerda parlamentar e moderada, se transformaram, apesar da presença e energia valiosa de muitos presentes, em palanques para uma defesa abstrata da democracia. Defesa esta que, na linguagem eleitoral, significa pressionar por, no melhor dos casos, um impeachment que derrubaria Bolsonaro e traria novas eleições, onde se fariam as promessas de uma vida melhor.
7 – Como visto, no entanto, essa defesa da democracia é algo abstrato e que não toca a enorme maioria mais explorada dos trabalhadores. Porque sabem que a “igualdade formal de todos perante a lei” deste regime político tropeça todos os dias na desigualdade REAL, de uma sociedade dividida entre ricos burgueses que recebem democracia e direitos, de um lado, e pobres trabalhadores, cujos direitos de expressão, organização, manifestação, greve, são cotidianamente negados. Sabem que esta democracia é uma ditadura para os pobres e uma democracia apenas para os ricos e não existe igualdade entre explorados e exploradores.
Daí, após uma semana, as novas convocações para a continuidade destes atos estarem completamente minguadas, com pouquíssimos confirmados.
8 – As consequências econômicas e sanitárias da epidemia reorganizam todas as prioridades políticas e colocam um elefante no meio da sala. A esta esquerda que defende “democracia”, apagando o conteúdo de classe burguês desse regime político, o problema do regime está acima do problema da vida material desesperadora da enorme maioria.
Para eles não apenas seria mais “agudo” o problema do Governo federal, como a única forma de conseguir melhorias na” gestão da crise” seria com a queda de Bolsonaro e cia (algo inimaginável, no melhor dos casos, em menos de um ano e meio.). Se equivocam e as convocatórias fracas dos próximos atos provam isto.
9 – A enorme maioria dos trabalhadores, muitos dos quais nunca conseguiram fazer isolamento, se preocupam com sua sobrevivência num cenário de crise econômica e sanitária profundíssimos. Não partir destas necessidades não só não irá mover dezenas de milhares, com apoio de milhões, como irá seguir jogando o jogo da burguesia.
A essa maioria interessa a luta por TESTES aos milhões, PROIBIÇÃO de demissões, Salário Social digno, de no mínimo 2 mil reais, para manter o isolamento e isenção de contas e aluguéis.
Nossa luta deve ser a mais feroz por um isolamento social REAL para todos os trabalhadores!
10- Um movimento de trabalhadores, empregados, desempregados e informais, que colocasse esse programa de idéias a frente, realizando manifestações, ocupações, greves e ações tem o potencial de, ao mesmo tempo que coloca o interesse do peão como PROTAGONISTA na gestão da crise, arrastar dezenas ou centenas de milhares em todo país e derrubar qualquer governo e, assim, abrir caminho para pensar um projeto de poder dos trabalhadores contra esta democracia fajuta. É preciso, no entanto, dizer e dar exemplos de que esta luta é séria.
O debate, então, se torna um debate de estratégia. Também, por outro lado, deixa muito claro em que setores sociais (classe média e camadas superiores de trabalhadores com mais direitos) estão baseadas estas esquerdas que se recusam a priorizar esta luta.
11 – Estamos diante de uma encruzilhada histórica que, a cada dia, se torna mais perigosa. Ou agimos rápido e organizadamente, com uma política que mira o interesse e organiza a revolta da enorme maioria, mostrando como esta “democracia” burguesa, comandada por patrões, é a que nos trouxe a este genocídio anunciado de milhões, lutando algumas semanas com todos os métodos até arrancar a vitória ou passaremos meses e meses vendo cadáveres acumulando e mortes evitáveis de pobres, enquanto os que sobreviverem por sorte se afundam nas dívidas.
A maior central da América Latina, CUT, as organizações ditas socialistas, os sindicatos em geral, tem seu papel nesta questão da história. Semanas de guerra social ou meses/anos de luto e tragédia? De que lado ficarão na história do genocídio que a burguesia nos impõe? A história dirá.
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